A NOVA COMUNHÃO
(Ezequiel 11.19-20, 22-38)
(Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 5.2.2000, manhã)
1. INTRODUÇÃO
A Ceia é um símbolo da nova Aliança (ou Pacto ou Acordo ou Conserto) firmada por Deus, por intermédio do Filho, para conosco. Trata-se, portanto, de um selo: o selo da comunhão, de cada um de nós para com o Pai e de cada um de nós para com os que trilham a mesma obediência diante de Deus. Somos filhos da Nova Aliança.
Quando participamos do memorial da Ceia do Senhor, evidenciamos esta comunhão, como celebra o convite do hino “Venham à mesa”.
2. O SIGNIFICADO DA NOVA ALIANÇA
O povo do Antigo Testamento não conheceu o novo tipo de comunhão com Deus. Nós conhecemos.
Os profetas que falavam ao povo do Antigo Testamento vislumbraram esta nova comunhão. Ezequiel é um deles. Eis o que disse:
Ezequiel 36
22 Dize portanto à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Não é por amor de vós que eu faço isto, oh casa de Israel; mas em atenção ao meu santo nome, que tendes profanado entre as nações para onde fostes;
23 e eu santificarei o meu grande nome, que foi profanado entre as nações, o qual profanastes no meio delas; e as nações saberão que eu sou o Senhor, diz o Senhor Deus, quando eu for santificado aos seus olhos.
24 Pois vos tirarei dentre as nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para a vossa terra.
25 Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei.
26 Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.
27 Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.
28 E habitareis na terra que eu dei a vossos pais, e vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus.
29 Pois eu vos livrarei de todas as vossas imundícias; e chamarei o trigo, e o multiplicarei, e não trarei fome sobre vós;
30 mas multiplicarei o fruto das árvores, e a novidade do campo, para que não mais recebais o opróbrio da fome entre as nações.
31 Então vos lembrareis dos vossos maus caminhos, e dos vossos feitos que não foram bons; e tereis nojo em vós mesmos das vossas iniqüidades e das vossas abominações.
32 Não é por amor de vós que eu faço isto, diz o Senhor Deus, notório vos seja; envergonhai-vos, e confundi-vos por causa dos vossos caminhos, oh casa de Israel.
33 Assim diz o Senhor Deus: No dia em que eu vos purificar de todas as vossas iniqüidades, então farei com que sejam habitadas as cidades e sejam edificados os lugares devastados.
34 E a terra que estava assolada será lavrada, em lugar de ser uma desolação aos olhos de todos os que passavam.
35 E dirão: Esta terra que estava assolada tem-se tornado como jardim do Éden; e as cidades solitárias, e assoladas, e destruídas, estão fortalecidas e habitadas.
36 Então as nações que ficarem de resto em redor de vós saberão que eu, o Senhor, tenho reedificado as cidades destruídas, e plantado o que estava devastado. Eu, o Senhor, o disse, e o farei.
37 Assim diz o Senhor Deus: Ainda por isso serei consultado da parte da casa de Israel, que lho faça; multiplicá-los-ei como a um rebanho.
38 Como o rebanho para os sacrifícios, como o rebanho de Jerusalém nas suas solenidades, assim as cidades desertas se encherão de famílias; e saberão que eu sou o Senhor.
Ezequiel 11
19 E lhes darei um só coração, e porei dentro deles um novo espírito; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne,
20 para que andem nos meus estatutos, e guardem as minhas ordenanças e as cumpram; e eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.
Ezequiel definiu de modo belíssimo a natureza da nova comunhão.
1. A nova comunhão surge em decorrência do amor de Deus por si mesmo (v.21). Vem, portanto, de sua própria natureza. Sua primeira motivação, portanto, não é sequer a necessidade humana. É a natureza divina. Por isto, Ele toma a iniciativa.
2. A nova comunhão expressa uma nova forma de o homem se relacionar com Deus, que não é mais exterior — formal — mas interior — espiritual — (v. 25). Deus não exige pureza dos homens, mas exige empenho na pureza, para se relacionar com os seres humanos.
3. A nova comunhão pode ser sintetizada numa relação em que a sensibilidade das partes conta. Na nova comunhão, Deus é sensível às necessidades do homem. O homem busca ser sensível às necessidades de outros seres humanos (vv. 26,27).
O profeta Ezequiel usa algumas imagens antitéticas para destacar as verdades essenciais acerca da comunhão.
3.1. Na velha Aliança, o coração era de pedra, isto é, coração de pessoas insensíveis; na nova Aliança, o coração é de carne. Agora, a voz de Deus pode ser ouvida, porque o coração que a recebe é um coração de carne.
3.2. Na velha Aliança, o coração era velho, isto é, insensível para si mesmo, já sem capacidade de se curvar para mudar e sem vontade de viver; era um coração que apenas toca a vida, sem ser tocado pela vida. Um coração velho não tem força para viver. Um coração novo tem força e propósito.
3.3. Na velha Aliança, predominava o espírito do homem, mas agora, na nova, prevalece o Espírito de Deus. Quem está na nova Aliança busca viver os valores de Deus. Mais que isto: a nova Aliança permite que travemos um relacionamento com o próprio Deus.
É com este conjunto de certezas que devemos celebrar a Ceia do Senhor Jesus Cristo.
O pão está associado a alimento, logo, a cuidado, cuidado de Deus para conosco.
O pão está associado ao corpo de Cristo, vale dizer, a conexão dEle conosco.
3. AS CONSEQÜÊNCIAS DA NOVA NOVA ALIANÇA
Nós temos um coração de carne, não um coração de pedra.
Jesus Cristo, por meio do Seu Espírito, habita em nós.
1. Nós temos uma nova natureza, embora a velha ainda nos habite. O que nos define é a bondade, por mais que nossos impulsos nos levem à maldade e por mais que nossas memórias sejam amargas.
A Ceia nos lembra que, no final, a bondade, mesmo a bondade em nós, vai triunfar. Graças à nova Aliança, que integramos, somos “agora definidos por algo incrivelmente bom, por mais que a vida nos tenha machucado, por piores que sejam os nossos fracassos. Em qualquer momento, temos algo maravilhoso e poderoso para dar aos outros e também para liberar dentro de nós mesmos” (CRABB, Larry. Conexão. São Paulo: Mundo Cristão, 2000, p.120).
2. A nova Aliança significa que somos mergulhados numa nova vida. Esta vida nova significa:
2.1. Consciência da presença de Deus (vv. 28, 31 e 36), não importam as circunstâncias, consciência que alcança os outros.
2.2. Falta de prazer no pecado (v. 29 e 31). Não somos mais escravos do pecado. A Ceia é uma lembrança da velha vida (nojo), mas certeza de nova vida (simbolizada de que Deus fará vir/madurar o trigo).
2.3. Sensação de plenitude de vida, porque mesmo em meio às dificuldades a promessa permaneça intacta (v. 33) e porque mesmo em meio à prosperidade a direção de Deus permanece constante.
2.3. Propósito de consultar a Deus (vv. 37,38). A presença do Espírito Santo em nós significa que estamos em conexão com o Pai. A presença do Espírito Santo em nós deve nos dar força para lutar, por nós mesmos e pelos outros.
3. Qual é a nossa parte no novo pacto? O pacto enquanto projeto de Deus para a humanidade não depende de nossa obediência. Não é feito de obras.
O pacto enquanto projeto de Deus para cada um de nós depende que assinemos este pacto, tomando seu sangue. O sangue representa o sacrifício levada ao extremo.