TEMOR DE DEUS? TÔ DENTRO
Veja quantas vezes o livro Provérbios repete que “o temor do Senhor é princípio da sabedoria” (ou do “do conhecimento”.
Contei 12. Aproveite para procurar a mesma expressão pela Bíblia. Está em vários livros (veja uma em Salmo 111.10), o que quer dizer que era usada pelo povo há muito tempo e em muitos lugares.
Vamos nos deter num só: “O temor do Senhor é o princípio sabedoria; e o conhecimento do Santo é o entendimento” (Provérbios 9.10).
O temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os insensatos desprezam a sabedoria e a disciplina” (Provérbios 1.7). É a mesma verdade que aparece em outro Provérbio. Confira: “O temor do Senhor é o princípio sabedoria; e o conhecimento do Santo é o entendimento” (Provérbios 9.10).
TEMOR DO SENHOR
Vamos entender o que é “temor do Senhor”, expressão que não lembra coisa boa.
A expressão não significa o que parece: medo de Deus. Na religião cristã não existe lugar para o medo. O Deus cristão não é um Deus que precisa ser aplacado (acalmado) em sua ira. DEle só vem graça, beleza, amor, perfeição.
Para ajuda, conto uma experiência pessoal quando eu era adolescente. Eu morava numa cidade chamada Cianorte, no interior do Paraná, para onde fui do Rio, cidade em que me embrenhei na selva do jornalismo escolar. Os alunos tínhamos um jornal e eu era o redador. Quando me mudei para o Paraná, procurei o jornal e virei repórter, fotógrafo, redator, diagramador, editor e amigo do dono.
Então, a prefeitura inaugurou um coletor de águas pluviais (que faz parte das galerias de águas pluviais. Foi “cobrir”. Fotografei. O chefe de obras arrotou: “Esse nem Deus derruba”. Estúpido. Anotei.
Quando veio a próxima chuva, voltei para ver o coletor virado de cabeça para baixo. Fotografei.
Aquele chefe de obras não tinha o temor de Deus. Ao contrário, ele tinha uma atitude de excessiva confiança na capacidade humana, uma atitude de independência de Deus, como se Ele nada tivesse com os seres humanos e sua história e uma atitude de rebeldia diante de Deus, tido como desnecessário, superado e inadequado.
Aprendi, então, que preciso da presença deste temor na minha, com uma atitude de humildade diante de Deus, humildade que permite aprendizagem, pois que o verdadeiro sábio é humilde; uma atitude de reverência diante de Deus, como Senhor de todas as coisas, inclusive do conhecimento, e uma atitude de aceitação da majestade de Deus, criador e sustentador de todas as coisas.
PRINCÍPIO
Fica evidente, então, que do temor do Senhor decorre a felicidade, como a foz de um rio. Este temor é o ponto de partida.
Assim como o conhecimento, esta felicidade é uma obra sempre em construção. Assemelha-se ao que a gente aprende: é para a vida toda. Se aquilo que se aprendeu colocou os fundamentos para uma aprendizagem que vai durar a vida inteira, então houve aprendizagem.
Aprender é para a vida toda…
SABEDORIA
Toda pessoa instruída é sábia?
Bom seria, mais…
Uma vez na igreja, tive que tomar uma decisão muito importante. Fui convidado para ser o reitor do Seminário do Sul. Reuni, numa sala, todos os diáconos e líderes da igreja e ouvi a opinião de todos eles. A sala estava cheia.
A opinião mais sábia veio de um de nossos irmãos que ao longo da vida trabalhou como porteiro de edifício. Ele não tinha diplomas, mas era sábio.
Há, portanto, uma diferença entre sabedoria de vida e de sabedoria científica. Há muitos sábios cientificamente falando que não sabem viver ou conviver. Há muitas pessoas com poucos conhecimentos científicos e filosóficos com uma imensa capacidade de ouvir e falar na hora certeza, enfim, de se relacionar.
O livro de Provérbios destaca a sabedoria de viver de modo justo. A prática da justiça é uma das maiores dificuldades de nosso tempo. O verdadeiro sábio é justo. A Bíblia contém os verdadeiros princípios de justiça.
Sabedoria de vida não guarde necessariamente uma correspondência com a idade cronológica de uma pessoa, embora devesse. Afinal, quem viveu mais teve mais oportunidade de ver e rever posições, próprias e dos outros.
CONHECIMENTO
Quando conhecemos a Deus (o “Santo”, como Deus é chamado em Provérbios 9.10), começamos nossa longa jornada de conhecimento.
Por isto, dizemos que não há oposição entre fé e ciência, entre espiritualidade e razão.
Fé e ciência são dois discursos (formas de ler o mundo) diferente porque erigidas em torno de objetos diferentes. Vivemos a vertigem da tecnologia, mas a fé pode acompanhar esta vertigem, feita de mudança após mudança.
Fé e Ciência são:
. dois domínios (como razão e emoção)
. duas retas paralelas, que não podem se encontrar
. dois trilhas de uma estrada de ferro (não podem se aproximar demais, nem se separar)
PARA NÃO ESQUECER
Como cristãos, devemos entender a verdade maior que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria e nos aplicar à sabedoria, tanto a de ver quanto a de saber.
Como cristãos, devemos nos lembrar que o homem vale pelo que diz, diz pelo que pensa, pensa pelo que lê. Nunca podemos parar de ler, de crescer intelectualmente, de nos aplicar ao estudo.
Todos os nossos conhecimentos devem ser colocados no altar de Deus para nos preparar para dar a razão da esperança que há em nós. E esta esperança tem que ser comunicada ao mundo na linguagem do mundo, no idioma da razão.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO