Provérbios 20.22
Provérbios 21.31
Provérbios 24.6
1
Como reagimos ao mal que recebemos?
A resposta tem a ver com o lugar que damos a Deus em nossas vidas.
O lugar que damos a Deus em nossas vidas mede o nosso índice de maturidade.
Nosso índice de maturidade pode ser avaliado por um pêndulo em que à esquerda está a impulsividade e, à direita, a passividade diante dos ataques recebidos.
Somos impulsivos quando achamos que temos que resolver tudo, ao nosso modo. E saímos como boxeadores em busca do nocaute. É como apenas nós existíssemos. Deus, não. O impulsivo precisa saber que “quem retribui o bem com o mal, jamais deixará de ter mal no seu lar” (Provérbios 17.13).
Somos passivos quando achamos que não devemos fazer, deixando tudo nas mãos de Deus, animados por algumas promessas bíblicas (“A mim pertence a vingança e a retribuição. No devido tempo os pés deles escorregarão; o dia da sua desgraça está chegando e o seu próprio destino se apressa sobre eles” — Deuteronômio 32.35; “Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: ‘Minha é a vingança; eu retribuirei’, diz o Senhor” — Romanos 12.19; “Pois conhecemos aquele que disse: ‘A mim pertence a vingança; eu retribuirei’; e outra vez: ‘O Senhor julgará o seu povo” — Hebreus 10.30).
Nossa maturidade não está nos extremos do movimento pendular, mas no centro, onde reside o equilíbrio. Ter equilíbrio é medir o preço dos gestos, dos generosos aos rancorosos. Ter equilíbrio é saber que Deus é Senhor. Ter equilíbrio é ter a coragem de se deixar conduzir por Deus. Ter equilíbrio é não fazer o outro pagar, mas deixar com Deus a justiça, o que pode implicar em nunca ver a justiça sendo feita nos termos humanos. Ter equilíbrio é saber que a maior reparação pelo dano recebido é o perdão, porque o perdão asfalta a estrada da liberdade. Ter equilíbrio é, mesmo em dores internas, ouvir a palavra de Deus: “Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o Senhor” (Levítico 19.18).
A vitória que Deus nos dá é sem dano. Não custa o nosso sangue. Não custa o sangue do outro.
Por isto, o conselho bíblico é firme: “Não diga: ‘Farei com ele o que fez comigo; ele pagará pelo que fez”. (Provérbios 24.29). Ou ainda mais precisamente: “Não diga: ‘Eu o farei pagar pelo mal que me fez!’ Espere pelo Senhor, e ele dará a vitória a você” (Provérbios 20.22).
2
Essa promessa (o Senhor é que dá a vitória) nos remete para outra tensão de nossas vidas. Diz o provérbio bíblico: “Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, mas o Senhor é que dá a vitória” (Provérbios 21.31).
Se imaginarmos uma linha que divide o território de nossas ações do território das ações de Deus, notaremos que ela é móvel. Cabe-nos preparar o cavalo para a batalha (isto é, cabe-nos participar da batalha, com força — de que o cavalo é símbolo). Cabe-nos lutar para vencer, mas não nos cabe vencer.
Só quando Deus vence por nós, a nossa vitória é sem dano.
Pensemos num pai, que se esfalfa para dar todos os recursos que seus filhos precisam (ou ele acha que precisam). Ele vence e seus filhos têm tudo que precisam. O pai se alegra, mas lamenta que seus filhos cresceram e ele não viu. Seus filhos tiveram problemas na escola e ele não pôde ir lá. Seus filhos conquistaram seus triunfos e ele não pôde aplaudiu. Houve vitória, mas com prejuízo.
É tarefa dos pais oferecer o melhor que puderem. No entanto, quando a vitória é a de Deus, não há dano algum.
O preço pago pela vitória não pode ser maior que a própria vitória.
Quando só o cavalo luta, há dano. Quando Deus luta conosco, há vitória completa.
Nossa pergunta deve ser: Deus participa de nossas lutas ou nossa confiança está no cavalo?
3
Estamos caminhando no compasso da autossuficiência. Ser autossuficiente é confiar no cavalo para a vitória. Ser autossuficiente é ouvir a própria voz como a única em que há sabedoria.
Ser sábio é saber quem vence: Deus.
Quem é sábio sabe que “precisa de orientação” e que “com muitos conselheiros se obtém a vitória” (Provérbios 24.6). Como diz o sábio bíblico, “o orgulho só gera discussões, mas a sabedoria está com os que tomam conselho” (Provérbios 13.10; cf. Provérbios 20.18 — “Os conselhos são importantes para quem quiser fazer planos, e quem sai à guerra precisa de orientação”). Afinal, “mas na multidão de conselheiros há segurança” (Provérbios 11.14). O verdadeiro sábio não discute. Ele ouve. Se for preciso, falará, mas não imporá. Verdade não se grita; verdade se sussurra.
Diz a Bíblia que “os planos fracassam por falta de conselho, mas são bem-sucedidos quando há muitos conselheiros” (Provérbios 15.22). Seria, então, a voz do povo a voz de Deus?
A maioria dos conselhos que pedimos tem como respostas apenas coisas boas, mesmo quando estamos errados. É comum ouvirmos: “siga o seu coração”, como se o coração não fosse enganoso (Jeremias 17.9), como se não houvesse conselhos enganosos (Provérbios 12.5).
Como saber?
O conselho realmente verdadeiro é sempre conselho santo. O conselho santo pode implicar até em perda, mas será perda que resultará em ganho. O conselho santo é aquele que é aprovado pela Palavra de Deus, que é sempre clara, sobre todos os assuntos. A multidão de conselhos deve ser confrontada com a multidão de palavras da Palavra de Deus, para só então serem palavras de Deus também.
Conselho que nos agrada não é conselho de Deus só porque nos agrada.
Conselho que não mostra o preço a ser pago não é conselho de Deus.
Conselho que não pede arrependimento, se pecamos, não é conselho de Deus.
Conselho que se contrapõe à Bíblia não é conselho de Deus.
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Posso agora ajuntar esses provérbios sobre a luta e a vitória.
Todos queremos vencer, não importa a área da vida. Em todas, de preferência.
Mas há vitória que importa em dano.
Nós a queremos?
Vitória sem dano é que avalia o preço a ser pago, e nunca custará o sangue do outro. (“Não diga: ‘Eu o farei pagar pelo mal que me fez!’ Espere pelo Senhor, e ele dará a vitória a você” — Provérbios 20.22).
Vitória sem dano é a obtida com a bênção de Deus (“Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, mas o Senhor é que dá a vitória” (Provérbios 21.31)
Vitória sem dano é a obtida a partir de conselhos santos (“Quem sai à guerra precisa de orientação, e com muitos conselheiros se obtém a vitória” (Provérbios 24.6).
ISRAEL BELO DE AZEVEDO