Mateus 5.38-48, 6.1: O POSSÍVEL AMOR IMPOSSÍVEL

O POSSÍVEL AMOR IMPOSSÍVEL
Mateus 5.38-48, 6.1

Preparado para ser pregado na IB Itacuruçá, em 2.4.2000 (manhã).)

1
Você pode cantar com espiritualidade e técnica, você pode orar de joelhos e com fé, você pode até ter revelações diretas de Deus, mas se não tiver paz com todos, sua religião não passará das lâmpadas no teto do templo ou do seu quarto.
Por isto, insisto, mesmo que pareça ridículo: amar ao próximo é uma disposição e uma aprendizagem. Você precisa se dispor a amar, despojando-se da sua própria justiça (Mt 6.1), e você precisa aprender a amar, porque o amor precisa ser desenvolvido, já que não é natural em nós, mas espiritual.
Não é isto que lemos na Bíblia?

Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar mil passos, vai com ele dois mil. Dá a quem te pedir, e não voltes as costas ao que quiser que lhe emprestes.
Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não fazem os gentios também o mesmo?
Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial. Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles. Doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celestial (Mt 5.38-48, 6.1)

Vamos ser francos: você crê serem estes mandamentos possíveis de ser vividos?
Há aqui pessoas que não falam umas com as outras, por causa de uma ofensa unilateral ou mútua, num passado recente ou distante. Umas, talvez, tenham feito algum esforço para resolver a pendência; outras, possivelmente, nunca se preocuparam com isto. Pode ser que nem tem havido ofensa real: pode ter sido um mal-entendido ou simplesmente um não foi com a cara do outro.
No entanto, essas pessoas lêem/ouvem este texto bíblico, como se não fossem com elas.

Fico pensando se não tem razão um escritor judeu contemporâneo de nome Amos: Amos Oz, que tem artigos regularmente traduzidos pela “Folha de S. Paulo”. Recentemente, por ocasião da visita do papa católico-romano à Terra Santa, ele escreveu o seguinte:

Embora todo cristão o chame de Salvador, para mim ele é Yeshu -Jesus-, filho de Miriam e Yosef, aquele que tinha toda razão no que diz respeito à rigidez e à hipocrisia da religião organizada, por exemplo, e também sobre a necessidade universal de compaixão, mas que provavelmente se enganou profundamente quanto à possibilidade de amor universal, que abrange tudo.
O amor é um artigo raro e, quando espalhado para abranger toda a humanidade, forma uma camada muito fina. Podemos amar uma dúzia de pessoas, talvez duas dúzias, mas se afirmamos amar o Terceiro Mundo inteiro, por exemplo, ou todos os pobres ou todos os cegos, isso significa muito pouco.
Ademais, um amor desse tipo pode facilmente deteriorar quando não correspondido, transformando-se em ódio ou repulsa. Outros sábios judeus foram mais modestos do que Jesus ao pregarem a justiça, a justeza e a caridade, em lugar do amor universal.

Acho que a maioria de nós “fecha” com Amos Os. É mais fácil concordar com Amos Os do que viver o que o Messias Jesus ensinou.
Pense nisso, com sinceridade, sem hipocrisia, não pensando em como isto é verdade para os outros, mas em como isto é verdade a partir de você mesmo.

2
Diferentemente do que pensa Amos Os, essas duas pessoas que agora serão batizadas são uma demonstração que o amor universal de Jesus é possível.
Jesus Cristo ama a Suely e o José Carlos. Eles amam a Jesus Cristo. Porque Jesus os ama, eles podem testemunhar que morrem para a justiça e nascem para o amor, morrem para uma vida centrada em si mesma e ressuscitam para uma vida centrada em Jesus Cristo.

Em sua profissão de fé, Suely contou que, quando aceitou a Jesus Cristo, seus colegas de trabalho vieram perguntar o que lhe tinha acontecido? Se tinha feito plástica, porque havia algo diferente dela. A experiência de Suely, segundo suas palavras, foi de ter sido inundada pelo amor de Jesus. Na primeira conversa comigo, Suely disse: “Eu tenho um grande desejo: eu quero evangelizar!”.
Espero que Deus continue, para sempre, invadindo o coração de Suely, preenchendo com seu amor todas as áreas de sua vida.
Por isto, Suely, porque você crê em Jesus como seu Salvador e porque você se compromete a viver pelo seu amor, a Igreja Batista Itacuruçá, por meio intermédio, tem o prazer de batizar você, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
[batismo]

Em sua profissão de fé, José Carlos, que coopera com nossa missão em Caçapava, junto com sua esposa, Luciene, narrou que era muito nervoso. Sua esposa sempre orava por ele, por sua conversão, para que ele compreendesse o verdadeiro amor de Jesus. Um dia, ele tomou a decisão. Deixou os vícios, deixou os colegas da bebida, para viver para sua família e para Deus. Ele está muito feliz, e nós também.
Por isto, José Carlos, celebro agora o seu batismo, certo de que nos céus os anjos cantam o refrão de uma canção desconhecida por nós, mas regida pelo próprio Jesus Cristo, em nome de Quem, e do Pai e do Filho, você testemunha que morre para as trevas e nasce para a luz.
[batismo]

3
É o amor de Jesus possível?
Quando celebrou sua Ceia fundadora, Jesus enfrentava o ódio de um dos seus discípulos, que o iria trair. Jesus o advertiu mas não se deixou tomar pelo ódio. Celebrou a Páscoa/Ceia, começando-a com uma oração de ações de graças e terminando com uma canção.

Ao participar da Ceia, eu lhe convido a entrar em conexão com alguém, esteja este alguém presente ou ausente. Nós vamos cantar agora. Enquanto cantamos, entre em conexão.
Há alguém com quem você queira entrar em conexão. Peça a Deus perdão pelo tempo que você demorou para entender que sem a paz com o próximo não há paz com Deus. Peça a Deus para lhe apoiar, sustentar e dirigir.
Então, faça algo. Se a pessoa estiver ausente, ponha em seu coração a disposição de buscá-la. Pense como e quando você vai fazer isto. Comprometa-se agora, diante de Deus, olhando para o pão que você vai comer daqui a pouco.
Se a pessoa estiver presente,  peça a Deus perdão pelo tempo que você demorou para entender que sem a paz com o próximo não há paz com Deus. Peça a Deus para lhe apoiar, sustentar e dirigir. Olhe para ela, com amor, o amor “impossível” de Jesus. Se tiver coragem, vá agora lhe dar um abraço.
Pode nunca ter havido agressão, mas apenas um certo “clima”, de desconfiança ou apenas de indiferença ou desinteresse. Você quer resolver isto? Faça a sua parte. Não pense no que o outro vai pensar. Siga apenas a orientação do Espírito Santo para você.

 

4
É o amor de Jesus possível?
O apóstolo Paulo nos ensina que, ao participar da Ceia, nós anunciamos a morte de Jesus até que Ele venha.
O amor dEle por nós fez com que viesse ao nosso encontro. O amor dEle por nós faz com que hoje Ele interceda por nós diante do Pai. O amor dEle por nós fará com que Ele volte ao nosso encontro.
Quando aceitamos Seu sacrifício, respondemos ao Seu amor. Este mesmo amor nos deve levar a esperar por sua volta. Este mesmo amor nos deve motivar a viver com Ele vive hoje. Hoje Ele vive intercedendo por nós. É assim que devemos viver.

5
Temos fracassado e triunfado em viver aquilo que pregamos, pela pregação da Palavra, pela celebração de batismo e pela participação na Ceia Memória de Jesus.
Fracassamos quando não acreditamos na natureza relacional de Deus, entre si mesmo (Trindade) e conosco.
Triunfamos quando compreendemos esta natureza como importante e pedimos a Deus que nos ajude a viver conforme a Sua Palavra.
Não nos faltam “objetos” para este amor. É um filho que escolheu afastar-se de Deus. É um cônjuge possuído pela amargura ou um ex-cônjuge que você ama e odeia ao mesmo tempo. É um vizinho de caráter difícil. É um pai vivendo fora dos padrões bíblicos. É um irmão com quem não dá para conviver.
Nós somos responsáveis pelas almas dessas pessoas num sentido geral (salvação para a vida eterna) e num sentido relacional (salvação para a vida afetiva).
Pode ser que tenhamos nos cansado e, por alguma razão (que pode ser uma decepção), desistido dessas almas. No entanto, o interesse pelas vidas dessas pessoas deve ser o nosso maior investimento, como nos ensina o sábio, ao dizer que quem ganha almas é um sábio (Pv 11.30).
No entanto, precisamos renunciar ao relacionamento de resultados. A transformação do outro não é uma obra nossa, mas de Deus
Lutar pela alma do outro não é comandá-la por meio da oração, como se a oração fosse um controle remeto, mas deixar-se ser comando pelo Espírito em direção à pessoa que se quer alcançar..
Quando exigimos que o nosso envolvimento gere um resultado, usurpamos o papel do Espírito Santo e geralmente acabamos metidos numa luta por poder. A nossa vocação principal da é conectar as pessoas, não mostrar os seus erros, liberar algo forte de dentro de uma pessoa que penetre na vida da outra, evocando a bondade que já existe no coração desta.
Diante de alguém em dificuldade, pergunte, com palavras e atitudes: “como posso ajudar?”. Lembra-se da história de Crabb? O seu filho fora expulso da Universidade e ele foi ao seu encontro, em outra cidade. O que você faria? Ele preparou o sermão ao longo da viagem. Ele sabia tudo o que dizer, porque já o advertira. No entanto, ele sabia que não adiantaria pregar para o seu filho, porque talvez seu filho quisesse precisamente agredir o pai-pregador. Crabb mudou de idéia: quando encontrou seu garoto, apenas o abraçou e disse: “Em que posso lhe ajudar?” Aquela pergunta fez com que as almas do seu filho e dele entrassem em conexão.
Conexão demanda coragem! Coragem de aceitar o desafio de identificar, cultivar e liberar a vida de Cristo nos outros, por meio de um relacionamento.
Você quer entrar em conexão com alguma pessoa?
– aceite-se
– interesse-se por ela
– interceda por ela
– caminhar com ela
– lutar com ela e por ela
A conexão é o profundo encontro em que a porção mais verdadeira da sua alma toca os recantos mais vazios do outro, encontrando algo e lhe infundindo vida. Quando isto acontece, você também recebe vida. Não desista.
Você está decepcionado com alguém?
Já parou para pensar em quantas pessoas estão decepcionadas com você?
Ajude estas pessoas a se livrarem do lado sombrio da sua natureza. Não procure se livrar delas, afastando-se, desacreditando para sempre delas. Isto vai apenas afugentá-lo para a amargura e para a infelicidade.
Peça a Deus para lhe ajudar na sua própria luta em procurar viver os padrões dEle. As pessoas terão prazer em se relacionar com você.
Busque a conexão.
Peça a Deus para lhe ajudar a amar, seguindo o perfeito e singular exemplo de Jesus Cristo.

6
O poder de ligar deve ser exercido por nós. Não exercê-lo é desligar. Isto se aplica ao plano da proclamação, mas também ao plano do companheirismo. Há muitas pessoas próximas de nós, desligadas do sentido da vida, desligadas de Deus, desligadas de si mesmas. Precisamos nos empenhar em ligá-las.
Este é o convite para cada um de nós. Ligar é uma promessa para nós. Ligar é a nossa missão.