Filipenses 4.5-9; Colossenses 3.1-4: MENTES PROGRAMADAS POR CRISTO

MENTES PROGRAMADAS POR CRISTO
Filipenses 4.5-9; Colossenses 3.1-4

INTRODUÇÃO
É muito comum nos perguntarmos porque não fazemos aquilo que queremos fazer e fazemos aquilo que não queremos fazer. Paulo experimenta a mesma perplexidade (como o registra em Romanos 7.15-25, numa espécie de diário íntimo):

Não compreendo o meu próprio modo de agir,
pois não faço o que prefiro e sim o que detesto. (…)
O querer o bem está em mim;
não, porém, o efetuá-lo.
Não faço o bem que prefiro,
mas o mal que não quero, esse faço.
No tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus,
mas vejo, nos meus membros, outra lei que,
guerreando contra a lei da minha mente,
me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.
Neste caso, quem faz isto já não sou eu,
mas o pecado que habita em mim.
Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum.
 
Quando o desespero lhe batia ao coração (Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?), outra verdade pulsava muito mais forte na mente de Paulo, uma verdade cheia de gratidão e esperança, razão porque pôde suspirar, aliviado: Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor, porque se, segundo a carne, sou escravo da lei do pecado, em minha mente o que eu quero mesmo é ser escravo da lei de Deus.

Para o homem contemporâneo, intoxicado pelo ideal do bem-estar individual a todo preço, ser escravo da lei de Deus é algo muito estranho. Aliás, os três substantivos desta frase são estranhos demais: ser escravo não faz parte do projeto de ninguém; reger a vida segundo uma lei, seja ela qual for, só mesmo obrigados, porque isto não está em nós; quanto a Deus, Ele é um Ser que a sociedade  tem tentado, sem sucesso expulsar (e mesmo alguns que se dizem cristãos fazem o mesmo, embora o seu discurso seja cheio de Deus…).
No entanto, o apóstolo Paulo está a nos lembrar que nossa mente só nos levará a viver como queremos, experimentando a paz (o melhor sinônimo para felicidade), quando ela (a nossa mente) se desintoxicar dos valores próprios do pecado, deixando de se governar apenas pelos instintos, e desejar ser enxarcada por Deus e querer ser programada por Cristo.

Esta programação por Cristo, de que falo, nada tem a ver com pensamento positivo ou com neurolingústica. O poder do pensamento positivo consiste numa afirmação da bondade humana e do seu potencial, a partir do que se crê que a realidade pode ser transformada pela força do pensamento. Já a chamada Programação Neurolingüística é definida por um dos seus fundadores (Richard Bandler) como um “manual de instruções do cérebro humano” ou como “um programa de auto-ajuda e parte do movimento do potencial humano” (http://www.cetico.hpg.ig.com.br/neuroling.html).
Em ambos os casos, trata-se de uma auto-programação, que ignora o fato que em nós não habita o bem. Se nos auto-programarmos, vamos reproduzir o que somos ou aquilo em que nos fazem crer. Bem ao contrário, a mente programada por Cristo, e para Cristo, é aquela que tem prazer na lei de Deus e se assemelha a uma árvore plantada junto às correntes de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai; e tudo quanto fizer prosperará (Salmo 1.2,3). O segredo da vitória do cristão é estar conectado à Fonte divina. O resultado desta conexão é uma vida que produz vida, para si mesmo e para os outros. É a mente de Deus que nos instrui e não nós a Ela. Como pergunta o apóstolo Paulo, quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Sua resposta é que nós temos a mente de Cristo (1Coríntios 2.16), no sentido de que Ele nos capacita a pensar como Cristo, desde que estejamos unidos a Ele, conectados a Ele, cativos dEle, ressuscitados com Ele, escondidos nEle.
 
Em Filipenses 4.5-9; Colossenses 3.1-4, o apóstolo Paulo nos apresenta as características daqueles que estão em Cristo, daqueles que têm suas mentes programadas pelo Senhor.

[TEXTO BÍBLICO]
Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor.
Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.
Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.
O que também aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco.
(Filipenses 4.5-9)

Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.
Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra, porque morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória.
(Colossenses 3.1-4)

1. MENTES PROGRAMADAS POR CRISTO SE NUTREM DA MENTE DE DEUS (Filipenses 4.5b).

Por Sua graça, Cristo deseja nos ensinar que o Pai está sempre (por) perto de nós. Perto está o Senhor (Filipenses 4.5b), diz o autor apostólico, citando outros autores do Antigo Testamento: Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito (Salmo 34.18). Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade (Salmo 145.18). Seríamos outras pessoas se sempre nos lembrássemos que não estamos sozinhos, seja de dor, seja de prazer o momento que vivemos.

1. Como o Senhor está perto, se é invisível? Sim, todos temos uma imensa dificuldade em conviver com um Deus a Quem não vemos. No fundo, queremos que Ele sele sua presença por meio de um arco-íris, como fez com Noé (Gênesis 9.13). De certo modo, ainda esperamos que Ele nos apareça todo dia numa árvore que se queima mas não se consome, quando convocou Moisés (Êxodo 3.2). Ainda ansiamos, quando estamos desanimados, que Ele nos fale claramente como falou a Gideão, declarando que este inexpressivo membro da família era um homem de grande valor e grande força para si mesmo, sua família e seu povo (Juízes 6.12). Ainda desejamos que Ele nos pegue pela mão e nos leve a ver o oleiro refazendo um vaso quebrado, como fez com Jeremias (Jeremias 18), ou a ver os ossos secos retornando à vida, como fez com Ezequiel (Ezequiel 37).
Na verdade, tendemos a seguir deuses mais visíveis, palpáveis, tocáveis. Condenamos como estúpidos os hebreus que fundiram um bezerro de ouro para adorar, embora Deus quisesse lhes mostrar a Sua glória (Êxodo 32.4). Achamos ridículo Raquel levar escondidos sobre o seu corpo os ídolos da família (Gênesis 31.34). Ficamos espantados por saber que os israelitas cultuavam a Deus, mas faziam uma fezinha em Neüstan, a serpente de bronze (2Reis 18.4; sobre esta divindade, veja-se a tese de mestrado de Osvaldo Luís Ribeiro. Nehustan. Rio de Janeiro, 2002 – Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil).
Queremos ver Deus face a face, como Moisés, e o veremos, espiritualmente falando, se O levarmos a sério. O Deus com quem Moisés conversava foi o Deus que impediu que Seu amigo entrasse na tão esperada terra prometida. O Deus que impede que o fogo destrua uma sarça é o mesmo Senhor que consome os nossos pecados. Estamos preparados para isto?
Queremos ser confortados por Deus, como Gideão, e o seremos, se nos dispusermos a levar adiante o compromisso que pede de nós, no caso enfrentar, com pouca gente, um grande exército… ao qual venceu. O Deus que nos conforta é o mesmo Consolador que espera que façamos o que nos pede.
Queremos ser conduzidos por Deus pelas olarias e vales, e o seremos, se corrermos o risco de passar uma temporada no calabouço (como Jeremias) e nem ter que comer literalmente um livro (como Ezequiel). O Deus que nos conduz é o mesmo Pai que nos leva para onde Ele quer.
Na hora do aperto, fundimos um bezerro, se o preço para ver a glória verdadeira do Deus verdadeiro é nos santificarmos. Os hebreus não quiseram se santificar. E nós? Queremos?
Na hora da dificuldade, carregamos, como Raquel, nossos ídolos para nossos quartos ou para as igrejas, esperando que façam algo por nós. Raquel certamente não queria passar uma noite inteira diante de Deus e ter a perna machucada por Ele na luta, como fez seu marido Jacó (suplantador), para se tornar Israel (príncipe de Deus).

2. Há algum tempo uma pessoa me procurou para ser batizada. Eu lhe perguntei se estava disposta a levar Deus a sério, deixando de lado o que lhe parecia certo, para fazer o que Deus dizia ser o certo. Ela ficou de pensar. Nunca mais tocou no assunto, embora eu tenha tocado. Até hoje ainda por aí, caminhando na sombra que as trevas projetam sobre a luz, talvez achando que esteja andando na luz… Ela prefere caminhar sozinha, como se Deus não estivesse perto dela. Só me resta lamentar e orar por esta pessoa e desejar que você não seja assim.
Doutra vez, uma pessoa, em desespero por causa do pecado, me perguntou porque Deus não lhe respondia a sua oração, se ela pedia com tanto vigor, em muitas lágrimas até.
A resposta da Bíblia é precisa:

Diz o Senhor:
Convertei-vos a mim de todo o vosso coração;
e isso com jejuns, com choro e com pranto.
Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes,
e convertei-vos ao Senhor, vosso Deus,
porque ele é misericordioso, compassivo, tardio em irar-se,
grande em benignidade e se arrepende do mal.
(Joel 2.12-13).

Não basta o choro ou o lamento profundo ou qualquer tipo de sacrifício. Há que haver conversão: mudança se sentido, mudança de caminhada, mudança de hábito. Deus não muda as circunstâncias sem primeiro mudar os nossos corações. Se os nossos corações não mudarem, eles produzirão, de novo, as mesmas circunstâncias que nos leva(ra)m ao desespero. Deus age, mas não é irresponsável. Se eu quero ser ouvido por Deus, devo deixar que Ele mude o meu coração.
Deus quer que eu pense como Ele pensa.
É por isto que Ezequiel recebeu uma estranha instrução. Filho do homem, come o que achares; come este rolo, vai e fala à casa de Israel. (…) Dá de comer ao teu ventre e enche as tuas entranhas deste rolo que eu te dou. Mesmo sabendo o quanto seria difícil obedecer a esta instrução, ele obedeceu e concluiu: Eu o comi e na boca me era doce como o mel. (Ezequiel 3.1-3).
João teve a mesma experiência: A voz que ouvi, vinda do céu, estava de novo falando comigo e dizendo: “Vai e toma o livro que se acha aberto na mão do anjo em pé sobre o mar e sobre a terra”. Fui, pois, ao anjo, dizendo-lhe que me desse o livrinho. Ele, então, me falou: “Toma-o e devora-o; certamente, ele será amargo ao teu estômago, mas, na tua boca, [será] doce como mel”. Tomei o livrinho da mão do anjo e o devorei, e, na minha boca, era doce como mel; quando, porém, o comi, o meu estômago ficou amargo (Apocalipse 10.8-10).
Podemos tomar este livro, indicado nas experiências de Ezequiel e João, como sendo o conjunto dos valores de Deus, dos pensamentos de Cima (Colossenses 3.1), dos desejos do Alto, do Caminho excelente (1Coríntios 12.31). Nós sabemos que o Livro de Deus é doce como o mel, mas precisa ser comido, mesmo que seja trabalhoso e mesmo inicialmente amargo.
Comendo a Palavra de Deus, não num sentido literal, mas espiritual, teremos nossas mentes programadas por Cristo e controladas pelo Espírito Santo. Comer a lei de Deus, a vontade de Deus, a Palavra de Deus, não é alienação, mas é ter clara consciência daquilo que somos, daquilo que o mundo é, daquilo que podemos ser, daquilo que o mundo pode ser.

3. Quando a lemos, ficamos sabendo por experiência própria que Deus está perto.
Deus está perto, tão perto, porque habita em nós, por Seu Espírito  (1Coríntios 3.16), se O aceitamos como Senhor. E esta afirmação demanda um esclarecimento, uma vez que ela não guarda relação com o ensino pagão de que há um deus dentro de cada um de nós, como se fosse uma força espiritual inerente e natural. Deus é um ser absoluto e perfeito, radical e sobrenaturalmente diferente de nós, tão diferente que nos convence do erro e nos fortalece na hora difícil.

Deus está perto, tão perto, que demonstra o seu interesse por nós. Embora isto não faça nenhum sentido racional, Deus sabe o nome de cada estrela (Salmo 147.4), que são bilhões, e conhece o nome de cada um de nós, os que estamos vivemos, os que já morreram e os que vão nascer, número o que monta também a muitos bilhões de seres.

Deus está perto, tão perto, que quer nos tornar capazes de ser aquilo que quer que sejamos, desde que o queiramos também. O natural em nós, já vimos, é fazer o que não queremos e não fazer o que queremos. Ser cristão é uma decisão, a decisão de seguir a Cristo, portanto, uma decisão que se atualiza a cada dia. Nesta caminhada, capacita-nos Deus, que está perto de cada passo nosso, em cada trajeto nosso, em cada alvo nosso. Caminhar sem o Espírito é uma tragédia que tem vitimado muitos cristãos. Sejamos espirituais, isto é, vivamos segundo o Espírito Santo de Deus (Gálatas 5.25).

Deus está perto, tão perto, que está vindo para Se revelar completamente a nós e para completar o que começou a fazer em nós. Uma vida feliz nos leva a achar que a  presença de Deus é uma realidade miserável, miserável porque apenas para esta vida (1Coríntios 15.19). Uma compreensão da vida cristã assim tão limitada pode nos levar a uma acomodação espiritual, numa vida em nada diferente dos que não têm Deus como Senhor. Por outro laod, uma vida cheia de dificuldades pode nos leva a achar que a presença de Deus é uma realidade apenas para o futuro, numa espécie de projeção psicológica bem diferente da esperança cristã. A proposta bíblica é clara: Jesus Cristo está voltando para completar o que começou a fazer em nós (Filipenses 1.6), para sermos aquilo para o qual fomos programados. Afinal,

a nossa pátria [final] está nos céus,
donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
que transformará o corpo da nossa humilhação,
para ser conforme ao corpo da sua glória,
segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas.
(Filipenses 3.20-21)

Por Sua graça, portanto, Cristo quer nos ensinar que Deus está (por) perto de nós e que, portanto, não precisamos viver como se estivéssemos sozinhos.

2. MENTES PROGRAMADAS POR CRISTO DEIXAM A MENTE DE DEUS CONTROLAR SUAS ANSIEDADES  (Filipenses 4.6-7).
Por Sua graça, Cristo deseja que deixemos a mente de Deus controlar a nossas ansiedade. O apóstolo tem uma recomendação que todos gostaríamos de praticar, mas que soa como uma impossibilidade para muitos cristãos: Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças (Filipenses 4.6).
O que o apóstolo Paulo faz é sintetizar o ensino do Senhor Jesus Cristo:

Não andeis ansiosos pela vossa vida,
quanto ao que haveis de comer ou beber;
nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir.
Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?
Observai as aves do céu:
não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros;
contudo, vosso Pai celeste as sustenta.
Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?
Qual de vós, por ansioso que esteja,
 pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?
E por que andais ansiosos quanto ao vestuário?
Considerai como crescem os lírios do campo:
eles não trabalham, nem fiam.
Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória,
se vestiu como qualquer deles.
Ora, se Deus veste assim a erva do campo,
que hoje existe e amanhã é lançada no forno,
 quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? (…)
Não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? (…) Vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas.
Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça,
e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis com o dia de amanhã,
pois o amanhã trará os seus cuidados;
basta ao dia o seu próprio mal.
(Mateus 6.25-34)

Quem não gostaria de viver assim?
Quem não gostaria de poder tornar sua a experiência íntima no salmo 131?

Senhor, não é orgulhoso o meu coração, nem arrogante o meu olhar;
 não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim.
Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma;
como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe,
como essa criança, é a minha alma para comigo.

Quem não gostaria de se aninhar tranqüilo no colo de Deus, às vésperas de um concurso ou de uma entrevista para emprego? Quem não gostaria de dormir sossegado, como um bebê que acaba de mamar, enquanto espera o resultado de um sério exame de saúde ou enquanto aguarda a hora de uma cirurgia? Quem não gostaria de brincar, como uma criança saltitante, enquanto sua empresa planeja fechar várias posições, incluindo, quem sabe, a sua? Quem não gostaria de “pular amarelinha” nos territórios minados de nossas ruas? Quem não gostaria de sossegar a sua alma enquanto convive com o fato de ser sido acusado injustamente e ver o acusador “numa boa”?
Como não ficar ansioso? O contrário de ansiedade não é irresponsabilidade?
A ansiedade já foi chamada de a doença do século 20 e nada fez crer que não o seja também do século 21. Na verdade, esta é uma marca do ser humano, presente em todos os tempos. Podem surgir situações em que a ansiedade se torna uma enfermidade, que deve ser tratada por um profissional.
Há coisas positivas na ansiedade, se a tomamos com um estado de alerta do ser humano diante do meio em que vive. Sim, temos que prestar atenção ao nosso corpo, ao nosso espírito e ao nosso meio. Este nível de ansiedade é normal e mesmo desejável, porque nos ajuda a sobreviver num meio nem sempre favorável às nossas necessidades.
No entanto, quando passamos a sofrer diante daquilo que ainda não aconteceu, como se tivesse acontecido, a ansiedade se torna negativa. Quando nossa esperança vai numa direção, mas o nosso medo nos leva para outra, vai-se nossa força para a vida. Quando uma possibilidade ruim no futuro se torna uma realidade péssima já no presente, a ansiedade já é em si uma derrota, comprovando-se o ensino de Provérbios: A ansiedade no coração do homem o abate (12.25a).
A recomendação bíblica é que não devemos ficar ansiosos, no sentido negativo da ansiedade, no sentido de que é uma manifestação de falta em confiança em Deus, como se fôssemos crianças que não se acalmam no colo da mãe, por não confiarmos na sua proteção.
Diante da adversidade, o apóstolo recomenda que oremos, mas oremos com tanta confiança, que oremos agradecendo: em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças (Filipenses 4.6). Por meio da oração, devemos deixar que nossas mentes sejam programadas por Cristo, de modo que, por Sua graça, a mente de Deus controle a nossa ansiedade. A ansiedade mata a alegria da vida.
Como, então, não nos deixarmos dominar por nossas ansiedades?

1. Precisamos nos lembrar que nossas vidas estão escondidas em Cristo (Colossenses 3.3).
Quando estava para morrer, Jesus ficou ansioso e pediu que, se possível, ficasse livre da morte. Quando Ele morreu na cruz, Ele disse que Sua obra estava consumada; não havia mais com o que se preocupar. Deus, que não O livro da morte, tomou-O para si e O encondeu no céu, fazendo-O assentar-se no Seu trono.
Quando aceitamos a Cristo como nosso Senhor, fomos crucificados com Ele; logo, Deus também, por meio de Jesus, que nos levou os pecados, Deus também nos escondeu com Ele. Quando morreu por nós, Jesus Cristo mudou o centro gravitacional de nossas vidas, que não orbitam mais em torno do “eu” mas da “cruz”. O domínio do pecado sobre nós terminou, embora pequenos. Ainda pedimos que o nosso cálice seja passado para a frente, mas sabemos que Jesus já o bebeu por nós. A obra da nossa salvação Ele já a completou. Porque morremos, as nossas estão escondidas com Cristo em Deus.
Estar escondido com Cristo em Deus significa que Deus é a fonte da nossa paz. É como Ele que tratamos de nossas ansiedades. Ou melhor: se deixamos, é Ele que trata as nossas ansiedades, tirando-as de nós. Ouçamos Pedro e lancemos lançando sobre ele toda a nossa ansiedade, porque Jesus cuida de nós (1Pedro 5.7). Afinal, Deus nos guarda como guarda a menina do olho; Ele nos esconde à sombra das suas asas (Salmo 17.8).

2. Precisamos nos lembrar que Deus guarda os nossos corações e as nossas mentes (Filipenses 4.7).
O apóstolo Paulo nos recorda que, embora não consigamos manter os nossos corações e as nossas mentes longe da ansiedade, Deus nos mantém: a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.
João anos ajuda a compreender o que Paulo nos diz, quando afirma claramente que Deus é maior que os nossos corações. A verdade da graça se torna real em nós quando tranqüilizamos os nossos corações, diante de todos os temores. A garantia para isto é que, mesmo que os nossos sentimentos nos levem ao erro, certamente, Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas (1João 3.19-20).
Se Deus é maior que os nossos corações e conhece todas as coisas que nos afligem, por que não Lhe entregamos os nossos problemas? Não é Ele Quem, no dia da adversidade nos esconde no seu pavilhão, Quem no recôndito do seu tabernáculo me abriga, Quem sobre uma rocha me eleva (Salmo 27.5)?
Deus é poderoso para nos guardar de tropeçar e para manter a nossa alegria, razão porque Lhe devemos dar glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos (Judas 24-25).
Talvez alguém objete: é muito otimismo. Otimismo barato, dirá um crítico mais azedo. Essa crítica não faz sentido porque se a Bíblia está correta quando retrata a alma humana, também está correta quando exalta a graça divina. Se aceitamos o diagnostico, precisamos aceitar o remédio. A esperança cristã seria otimismo barato se dependesse do homem; como depende de Deus, é verdade que a experiência demonstra como verdadeira.
Esta é a esperança cristã: a paz de Deus em Cristo guarda tanto os nossos corações, sempre tendendes a sentir de modo errado, quanto as nossas mentes, sempre propensa a pensar de modo errado. (Mark A. Copeland. Disponível em Deus pode não apenas solucionar os problemas que provocaram a nossa ansiedade, mas como pode nos dar uma paz que ultrapassa a nossa humana capacidade de compreendê-la ou de produzi-la (João 14.27; João 16.23).
Nada ilustra melhor esta verdade do que a experiência com Lázaro(João 11). Doente o irmão, suas irmãs mandaram chamar Jesus a Betânia, certas de que Ele o curaria.
Primeira diferença entre o jeito de Deus e o jeito dos homens: Jesus não apareceu.
Segunda diferença: como tardasse, seus discípulos também pediram uma ação mais rápida, mas Ele, demorando-se pelo caminho, disse que não quis estar mesmo em Betania e não quis para que seus seus discípulos cressem quando vissem o que veriam.
Terceira diferença: o aparentemente indiferente Jesus chorou diante da tristeza de Marta e Maria e se agitou internamente. Com este sentimento, foi para a túmulo.
Quarta diferença: em lugar de remover a pedra com o seu poder, pediu a colaboração dos que choravam. Eles o fizeram.
Quinta diferença: Ele orou e o conteúdo da sua oração foi apenas de gratidão, gratidão por ter sido ouvido por Deus.
Sexta diferença: Ele mandou Lázaro, corpo já apodrecendo, sair do túmulo e Lázaro saiu. Todos esperavam que Jesus impedisse que ele morresse, mas Jesus, que deixou que morresse, trouxe-o de novo para a vida.
Precisamos crer mais no Deus da vida, mesmo depois da morte. O modo como Ele faz as coisas deve nos levar a confiar mais nEle.

3. MENTES PROGRAMADAS POR CRISTO COOPERAM COM DEUS PARA TEREM PAZ (Filipenses 4.8-9, Colossenses 3.1-2)
Por Sua graça, Cristo espera que façamos o que nos pede. A paz de Cristo é resultado da sua graça; esta é a parte dele. Aos ansiosos amigos de Lázaro, pediu que tirassem a pedra.
Ele nos pede basicamente duas coisas.

1. Ele pede que O adoremos.
A paz de Cristo é resultado da oração, que deve ser feita em todas as circunstâncias e situações, oração esta feita com vigor (súplica) e com gratidão (ações de graças). Sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças (Fiulipenses 4.6)
Levemos o que nos provoca a ansiedade a Deus.
Oração é adoração a Deus. Quando adoramos a Deus, nós vemos a Sua grandeza de Deus, nós o vemos como maior que nossos problemas. Quando adoramos a Deus, nós vemos as coisas sob a perspectiva dEle.
Quanto mais tempo passamos com Ele em oração, menos tempo gastamos em correr desesperadamente de um lado para o outro em busca de soluções..

2. Ele pede que busquemos a paz, concentrando-nos naquilo que vem de Deus (Filipenses 4.8-9).
A tragédia do Cristianismo é que os cristãos somos humanos demais. O salmista já recomendavam que devemos esconder a Palavra de Deus nos nossos corações para não pecar contra o Senhor (Salmo 119.11), mas preferimnos esconder a Palavra de Deus num lugar que não possa apontar para os nossos erros. O apóstolo Paul recomenda que pensemos nas coisas de cima, mas gastamos quase todo o nosso tempo pensando nas coisas não só de baixo, mas baixas mesmo.
O conselho paulino é claro: irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, (…) seja isso o que ocupe o vosso pensamento (Filipenses 4.8). Se queremos paz, nossa mente deve se concentrar em praticar a verdade, o respeito, a justiça, a pureza, a cortesia e a honra.
O aposto Paulo termina o conselho com uma frase admirável: o Deus da paz será convosco(Filipenses 4.9). Para que houvesse vida, os amigos de Lázaro tiveram que remover a pedra. Se nós queremos paz, devemos praticar as virtudes que produzem a paz. Que paradoxo: a paz de Deus tem um componente humano.
A verdade, o respeito, a justiça, a pureza, a cortesia e a honra não são produções naturais, mas intervenções espirituais. Quando nos salvou, Ele colocou estas virtudes em nós, mas, para produzir paz, elas precisam entrar em ação. Elas nasceram no céu, para que nós as puséssemos em prática na terra. No céu, não são úteis por enquanto. Aqui, produzem vida.

CONCLUSÃO
Com o que temos ocupado as nossas mentes?
Em Quem temos ocupado as nossas mentes?