APESAR DE NÓS
Os cristãos como os cristos que a sociedade vê.
No entanto, Cristo é mais que os seus seguidores. Aqueles que não o (re)conhecem não têm como saber senão por intermédio daqueles que o (re)conhecem como Salvador e Senhor.
Diante do olhar do mundo e da verdade de Jesus, precisamos reafirmar a centralidade da ressurreição de Jesus e a impossibilidade de se frustrar o propósito de Deus. Estas afirmações nos capacitam para o compromisso.
1. A CENTRALIDADE DA RESSURREIÇÃO DE JESUS.
A morte de Cristo se completa na Sua ressurreição. Como nos ensina o apóstolo Paulo, Jesus, nosso Senhor foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação (Romanos 4.25).
A morte de Jesus nos aponta para o que foi feito por nós no passado; a ressurreição de Jesus nos sinaliza o que Ele ainda fará por nós. Por isto, bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (1Pedro 1.3).
Não por outra razão Atos dos Apóstolos pode ser chamado de livro da ressurreição de Jesus, tantos são as referências a ela. O apostolado e a ressurreição parecem sinônimos. Todos os sermões apostólicos são centrados na ressurreição. Todo o testemunho tinha o foco na ressurreição. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça (Atos 4.33).
Vejamos os comentários que se faziam de Paulo. Ora, alguns filósofos epicureus e estóicos disputavam com ele. Uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece ser pregador de deuses estranhos; pois anunciava a boa nova de Jesus e a ressurreição (Atos 17.18).
Paulo tinha consciência do peso de glória da ressurreição de Jesus para os seus seguidores:
Sabendo Paulo que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no sinédrio: Varões irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus; é por causa da esperança da ressurreição dos mortos que estou sendo julgado (Atos 23.6).
2. A IMPOSSIBILIDADE DE SE FRUSTRAR O PROPÓSITO DE DEUS
A morte de Jesus estava no plano de Deus. A sua ressurreição, também. A pregação apostólica canta que Deus ressuscitou [Jesus], rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela (Atos 2.24).
A morte não foi impedimento para o propósito de Deus. Nada é impedimento para o Seu propósito. A pedra à entrada do túmulo não foi impedimento para a ação de Deus. Não há hada que impeça a ação de Deus. No passado hebreu, o mar não impediu a ação do povo de Deus. Esta verdade nos fala de Deus. Esta verdade nos deve confortar nas horas difíceis.
3. O MÉTODO DE DEUS
Os seguidores de Jesus receberam poder para serem testemunhas da Sua ressurreição (Atos 1.8). Nós recebemos este poder.
Que seguidores são estes? Que seguidores somos nós? Entender que foram/são falhos sinaliza para onde devemos olhar: não para nós mesmos, mas para Aquele que nos capacita com o Seu poder.
Quando olhamos para os apóstolos de Atos, podemos imaginá-los super-homens, mas eram falhos como nós somos, como Elias foi. Esta percepção nos deve fazer mais humildes. Somos falhos. É assim que devemos olhar para a igreja, cheia de falhas porque cheia de homens e mulheres, como nós.
Na minha perspectiva, três males destroem a igreja: a submissão à vaidade, a falta de bondade e o excesso de duplicidade.
SOBRE A SUBMISSÃO À VAIDADE — A certeza da salvação produz em alguns uma vaidade que isola (“só nós somos salvos”), a busca da verdade produz em alguns uma vaidade que mata (“quem pensa diferente de mim deve ser apagado”) e a oportunidade de participação pública produz em alguns uma vaidade que cega (como se só as suas produções fossem boas; como se só o seu gosto fosse legítimo).
SOBRE A FALTA DE BONDADE — Falamos tanto do amor que nos temos esquecido de amar. Falamos tanto da bondade, que nos temos esquecido de ser bons. Falamos tanto da misericórdia, que nos temos esquecido de ser misericordiosos. Há uma espécie de deformação em nós, típico de alguns profissionais que, de tanto lidar com o sofrimento, não se importam com a dor do outro, mas com os benefícios que podem trazer. Já não nos destacamos mais por nossa bondade.
SOBRE O EXCESSO DE DUPLICIDADE — O permanente convite à santidade leva uns a buscarem a santidade, mas estimula outros a parecerem santos. O problema é que na igreja até podemos saber quem é vaidoso, quem é maledicente, quem é rancoroso, quem é antipático, mas não podemos saber quem é duplo. Duplo é o cristão que tem duas vidas: uma verdadeira e outra para consumo público. As máscaras demoram a cair, e algumas jamais caem… humanamente falando. Estes comportamentos fazem com que o nome de Deus seja blasfemado (Romanos 2.24).
Pois, mesmo reconhecendo estas dificuldades, quero afirmar que assim mesmo a ressurreição de Jesus é testemunhada no mundo inteiro, e a igreja avança.
Mas quero acrescentar que a igreja avança não pelos pecadores que tem, mas pelos santos que possui. Pensar diferente seria um convite ao libertinismo (não importa o que fazemos, mas o que cremos…)
Deus, portanto, usa pecadores quando estão santos, isto é, que são aqueles que estão buscando a santidade. Deus não usou Pedro quando traiu a Jesus, mas quando se dispôs a amá-lo. Deus não usou Saulo quando consentia na morte dos cristãos, mas quando se dispôs a morrer por Sua causa.
4. DIANTE DE NOSSAS FALHAS
Diante de nossas falhas, devemos:
1. Desejar ser testemunhas da ressurreição, vivendo por ela, falando dela, deixando que o poder dela atue em nós.
2. Esperar a volta de Cristo, para consumar a nossa salvação.
3. Reconhecer as nossas falhas, que apontam para o poder de Deus e para a nossa necessidade deste poder. É reconhecendo nossa fraqueza que nos tornamos fortes. Disse Jesus a Paulo: o poder se aperfeiçoa na fraqueza. Então, Paulo completou: De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo (2 Coríntios 12.9). Sem o poder de Deus, seremos escravos da vaidade, omissos da bondade e plenos de duplicidade.
4. Voltar nossos corações para a santidade. Precisamos de um choque de santidade, que significa desejar viver segundo os padrões de Deus, mesmo que elevados; fugir do mal, para não cair nele; ter prazer em buscar a santidade.
5. Comprometer nossas vidas com a bondade. Vivamos de tal modo que nosso túmulo alguém pudesse escrever: “Por ele, nós experimentamos a bondade de Deus”.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO