O mesmo não faz nada (Adalberto Alves de Sousa)

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“Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.”

Sempre que leio esta advertência me vem à mente uma brincadeira dos tempos de escola primária: quando alguém deixava escapar “para mim fazer”, por exemplo, imediatamente ouvia de um colega: “Mim não faz nada; quem faz sou eu”. É bem provável que o leitor não tenha encontrado qualquer relação entre os dois casos citados. Eu explico: ao lerem a advertência colada na porta do elevador, aqueles meus colegas de escola com certeza diriam: “O mesmo não se encontra parado no andar; quem se encontra parado é ele”. Ou seja, a advertência ganharia nova redação: “Antes de entrar no elevador verifique se ele se encontra parado neste andar.”

É muito comum nos dias atuais encontrarmos “o mesmo” (a mesma, os mesmos, as mesmas) usado como se fosse um pronome pessoal. Exemplo: “No discurso do presidente o mesmo disse que vai…”, mas esse é um uso que não é aceito pela norma culta do idioma, que recomenda: “ele disse que vai…”. Uma outra tendência é a de se achar que o pronome “ele” só deve ser usado para pessoas e não para outros seres. Daí o senso comum rejeitar “verifique se ele se encontra parado neste andar”, uma vez que elevador não é gente. Para quem pensa assim, sugiro a alternativa “verifique se este encontra-se parado neste andar”.

Em que situação podemos usar “o mesmo” como referência a algo já citado anteriormente? É simples: basta citar “o mesmo” seguido do termo a que ele se refere. Se no meu texto eu já fiz referência a um autor, por exemplo, posso dizer: “… o mesmo autor afirma ainda que…”. Entendeu? O mesmo não afirma nada, como diriam meus colegas. Quem afirma é o (mesmo) autor.

É bem diferente o exemplo seguinte: “Já paguei minha cota e espero que você faça o mesmo”, em que “o mesmo” não é pronome pessoal, mas pronome demonstrativo, e equivale a “isso”.

(ADALBERTO ALVES DE SOUSA)