Sem tempo.
Para retribuir.
Para agradecer.
Para reconhecer.
Para recordar.
Para abençoar.
Para homenagear.
Sem tempo para viver.
Sem tempo.
Para distribuir
flores a quem se ama,
chocolates a quem se gosta,
confissões a quem se afeiçoa,
“muito obrigado” para quem abençoa,
abraços para quem precisa,
afagos para quem não os banaliza.
Sem tempo para sorrir.
Sem tempo.
Para ver o que Deus faz.
Para tentar enumerar as bênçãos que Ele multiplica, consuetudinárias.
Para perceber Sua palavra em meio ao silêncio.
Para notar Seu cuidado atrás da coincidência.
Para arrancar das coisas comuns as Suas coisas realmente extraordinárias.
Para viver em paz.
Com tempo.
Para temer.
Para reclamar.
Para amaldiçoar a espécie humana.
Para ver apenas as sombras, nunca a luz que as projeta.
Para detestar o ponto preto na branca página.
Para celebrar que a vida é mesmo imperfeita.
Para ter certeza que quem errou jamais fará diferente.
Para achar que nada vale a pena.
Para gritar que Deus está ausente.
Com tempo para, aos poucos, morrer.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO