Como a Bíblia julga os reis é como nós somos julgados.
2 Crônicas 26
Como a Bíblia julga os reis é como nós somos julgados. Os reis e nós somos julgados em função do modo como nos relacionamos com Deus, porque é este modo que determina como nós vivemos.
Quando lemos as biografias dos reis de Israel, perguntamos se há um padrão. Há. Os cronistas usam este padrão, que é o seguinte: Deus aprova ou reprova o conjunto da obra desses reis. Alguns foram reis que levaram a nação à prosperidade, mas Deus os reprovou.
Alguns destes reprovados tiveram tempos em que pareciam aprovados. De fato, alguns viviam de modo digno de Deus. No entanto, eles se perderam no meio do caminho. E há um padrão para esta reprovação, demostrando a verdade bíblica de que a soberba precede a queda. “O orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes da queda” (Provérbios 16.18). “Antes da sua queda o coração do homem se envaidece, mas a humildade antecede a honra” (Provérbios 18.12).
Vejamos cinco gerações de descendentes de Salomão no reino de Judá (sul de Israel): Roboão, Abias, Asa, Uzias e Josafá. Só Abias escapou. Os demais caíram por serem poderosos. Leiamos:
. “Depois que Roboão se fortaleceu e se firmou como rei, ele e todo o Israel abandonaram a lei do Senhor” (2Crônicas 12.1).
. “No trigésimo nono ano de seu reinado, Asa foi atacado por uma doença nos pés. Embora a sua doença fosse grave, não buscou ajuda do Senhor, mas só dos médicos” (2Crônicas 16.12).
. “Eliézer (…) profetizou contra Josafá, dizendo: ‘Por haver feito um tratado com Acazias, o Senhor destruirá o que você fez’. Assim, os navios naufragaram e não se pôde cumprir o tratado comercial”. (2Crônicas 20.37).
. Uzias “foi extraordinariamente ajudado, e assim tornou-se muito poderoso e a sua fama espalhou-se para longe. 16. Entretanto, depois que Uzias se tornou poderoso, o seu orgulho provocou a sua queda. Ele foi infiel ao Senhor, o seu Deus, e entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar de incenso. (2Crônicas 26.15b-16).
Não está claro o padrão? Todos caíram pela mesma razão.
A história de Uzias demonstra particularmente este padrão.
Comecemos pelo resumo feito pelo cronista:
“Então todo o povo de Judá proclamou rei a Uzias, de 16 anos de idade, no lugar de seu pai, Amazias.
Foi ele que reconquistou e reconstruiu a cidade de Elate para Judá, depois que Amazias descansou com os seus antepassados. (…) Ele fez o que o Senhor aprova, tal como o seu pai Amazias” (versos 1-4).
A arrogância, portanto, não é prerrogativa dos jovens, embora a juventude seja a época mais propicia. Uzias não foi um jovem arrogante; ele se tornou arrogante na maturidade.
Qual foi o segredo de Uzias, na juventude?
A Bíblia responde: Uzias “buscou a Deus durante a vida de Zacarias, que o instruiu no temor de Deus. Enquanto buscou o Senhor, Deus o fez prosperar” (verso 5).
Em outras palavras, Uzias aceitou ser instruído por Deus, através do profeta Zacarias. Ele, nessa época, sabia de onde vinha sua prosperidade e seu poder.
Quando Uzias começou a cair?
A historia deste político é bem elucidativa:
“Uzias construiu torres fortificadas em Jerusalém, junto à porta da Esquina, à porta do Vale e no canto do muro. Também construiu torres no deserto e cavou muitas cisternas, pois ele possuía muitos rebanhos (…). Ele mantinha trabalhadores em seus campos e em suas vinhas, nas colinas e nas terras férteis, pois gostava da agricultura.
Uzias possuía um exército bem preparado, organizado em divisões de acordo com o número dos soldados. (…) Uzias providenciou escudos, lanças, capacetes, couraças, arcos e atiradeiras de pedras para todo o exército. Em Jerusalém construiu máquinas projetadas por peritos para serem usadas nas torres e nas defesas das esquinas, máquinas que atiravam flechas e grandes pedras. Ele foi extraordinariamente ajudado, e assim tornou-se muito poderoso e a sua fama espalhou-se para longe”. (versos 9-11,14-15)
Eis aí o retrato de um homem que não precisava de Deus. Ou melhor: eis aí o retrato de um homem poderoso que vivia como se não precisasse de Deus, este sim realmente poderoso, Todopoderoso.
Em nossos dias, o dinheiro e a tecnologia têm nos feito viver de modo independente de Deus.
Estamos doentes? O conhecimento científico, com suas aplicações tecnológicas, nos cura.
Ficamos presos no fundo de uma mina? O conhecimento científico, com suas máquinas, nos tira de lá.
Precisamos chegar hoje mesmo a outro continente? A tecnologia, em forma de avião, nos leva.
Necessitamos saber o que se passa em nossa casa, euquanto estamos distantes? A tecnologia da informação nos conecta.
Estamos com saudade de uma pessoa que está muito longe? A telefonia nos põe cara a cara, literalmente.
No início, Uzias dependia de Deus. Depois foi tornando a sua vida tão prática, fácil e organizada que não precisava mais de Deus, Aquele que fez com que ele tornasse sua vida prática, fácil e organizada.
O que veio depois é o ponto mais elevado de sua queda.
Poderoso, Uzias extrapolou.
Ele “entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar de incenso” (verso 16b).
Então, “o sumo sacerdote Azarias, e outros 80 corajosos sacerdotes do Senhor, foram atrás dele. Eles o enfrentaram e disseram: ‘Não é certo que você, Uzias, queime incenso ao Senhor. Isso é tarefa dos sacerdotes, os descendentes de Arão consagrados para queimar incenso. Saia do santuário, pois você foi infiel e não será honrado por Deus, o Senhor’” (versos 17-18).
O primeiro pecado foi se achar poderoso. Desde que “se tornou poderoso, o seu orgulho provocou a sua queda. Ele foi infiel ao Senhor, o seu Deus” (verso 16).
O segundo pecado foi queimar incenso. É como se ele quisesse tocar o órgão e pregar ao mesmo tempo, mas ele queria tocar órgão e pregar, mas sem se preparar. Era poderoso e as pessoas iriam aplaudi-lo. Usurpar o lugar dos sacerdotes era usurpar o lugar de Deus. E Uzias o sabia.
O terceiro pecado veio ao final: “Uzias, que estava com um incensário na mão, pronto para queimar o incenso, irritou-se e indignou-se contra os sacerdotes; e na mesma hora, na presença deles, diante do altar de incenso no templo do Senhor, surgiu lepra em sua testa” (verso 19).
Em seguida, foi expulso do templo.
Pouco depois morreu e foi sepultado à parte, porque a sua doença o interditava na vida e na morte.
O episódio no templo é o selo da ruptura de Uzias com Deus.
Foi assim que o povo tentou esquecer seu grande rei.
Para continuarmos em sintonia com Deus, precisamos:
. nos deixar instruir pelo Senhor, como Uzias se deixa ensinar pelo profeta Zacarias.
. não nos achar poderosos. Poderoso, só o Todopoderoso Deus.
. não desejarmos ser mais do que ninguém.
. aceitar as críticas, até mesmo as advertências quando a soberba nos ameacar.
. não pensarmos que não precisamos de Deus porque as coisas nos vão bem
Como queremos ser lembrados?
ISRAEL BELO DE AZEVEDO