DIVORCIADOS LONGE DO MURO DAS LAMENTAÇÕES (Virgínia Martin)

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Vou inaugurar esta coluna com uma confissão: nunca desejei escrever sobre fases secas da vida.

Tá dito!

Creio, de verdade, que muito melhor seria conversar sobre algo mais light, mais prazeroso, como insistentemente anseia a sociedade.

Afinal, pouca gente gosta de ler sobre dores, perdas e dissabores, muito menos sentí-los na própria pele.

Ainda mais se o tema for: divórcio! (ops!)

 

Lamento re-informar, mas a existência humana não respeita essa vontade.

O sofrimento em 3D, ou seja em qualquer altura, largura ou profundidade, “bate seu ponto” na vida de todo ser mortal.

E por mais que filosofias diversas e teologias de prosperidade incentivem o escapismo ou lucros variados, cada um de nós sempre estará naturalmente vulnerável ao incontrolável, ao dano em todas as suas dimensões.

 
É preciso ter coragem para falar da própria dor,
expor as entranhas… ser de verdade!
Mas, com isso, ganhamos mais vida!



Vire-se ou não pelo avesso, você acabará descobrindo que é impossível viver apenas de ganhos.

Por mais que o mercado editorial e midiático ou outros segmentos ofereçam fórmulas de conquista e sucesso, é o sofrimento que desencadeia processos inigualáveis de aperfeiçoamento, que servem como background para inspiração das melhores canções, poemas, projetos e… colunas em sites (rs).   

 

Antes de continuar, preciso dizer: sou jornalista.

Não é apenas uma formação ou profissão, é um estado de espírito.

Minha mente inquieta está sempre em busca.

A alma, por outro lado, se aquieta.

Acredita apenas que Deus é soberano sobre todas as perguntas que constantemente fiz ao longo da vida.

Meu ser questionador é imprevisível e inevitável.

Mas nem sempre obtive todas as respostas.

Há muito tempo percebi que não existem mesmo respostas para todas as perguntas.

Não aqui.

 

Mas pensar vale à pena. Observar, pescrutar, descobrir…

E quando dei de cara com uma difícil fase existencial, promovida pelo desemprego e debilidade financeira, potencializada pelo fato de ser divorciada, sustentando duas crianças completamente sozinha, senti necessidade de novos e positivos questionamentos.

Principalmente depois que avistei que estava cercada de muita areia por todos os lados. Acima, majestosamente, somente o céu.

 

Sim! Esta coluna vai falar sobre o deserto e sobre seus atravessadores…

Sobre aqueles que vivem todas as demandas do pós-divórcio.

Gente quase invisível, imperceptível, com todas suas peculiaridades.

 

Vai abordar sobre o que lucramos nesta temporada de sede, miragens, ventos fortes e ausência de alguns suprimentos.

O foco, no entanto, vai ser a transformação, a superação .

Porque seres que atravessam desertos acabam tornando-se mais complexos e, inacreditavelmente, mais esperançosos.

 

Portanto, passo a escrever com o desejo de esbarrar com cada um que sofre no meio do nada, sem expectativas, mas profundamente vivo.

Quero me misturar com lágrima, sorriso, suor, humanidade, coisas de gente sozinha, que luta no meio de adversidades de várias dimensões.

Aqui construo palavras para mim mesma para que agigante minha própria esperança. Assim, nos tornamos uma confraria de atravessadores invencíveis.

Cada um com sua história e seu cronômetro, na busca por compreender o sentido da kilometragem.

 

E se não há mal que nunca termine e bem que jamais acabe, o lucro da espera no deserto certamente será a capacidade de conseguir redimensionar o tempo.

Significa que, em nossa categoria de gente, devemos perceber horas e minutos, perdas e desconfortos, de forma diferente.

 

Se você sente que é um atravessador do deserto, independente da etapa em que nele esteja, junte-se a nós! E seja bem vindo!

Com a certeza de que este espaço não é e jamais será um Muro das Lamentações.

 

Esta coluna, portanto, não nutre um gosto amargo.

É feita a partir de emoções de quem aprendeu a atravessar um imenso deserto, surpreendendo-se com o que encontrou.

 

Aqui prevalece a ternura, a reflexão, a interatividade e… o bom humor (rs).

Destinada a gente simples, cotidiana, sem constrangimentos, que sente dor, fome na alma, dúvidas por todos os cantos da mente, que dorme e acorda na expectativa de que vai superar, que compreende que não compreende, que reconhece sua “podre” emocional, que dá dois passos para frente, mas também geme quando dá três para trás.

Gente de verdade!

 

E é isso que nos torna fortes. Porque o poder Dele se aperfeiçoa em nossa fraqueza!

Faça bom proveito dessa estratégia divina!

 

(VIRGÍNIA MARTIN)