PRESIDENTA? (Adalberto Alves de Sousa)

– E aí? Está correto, ou não, o uso da palavra presidenta?

Esta é uma pergunta que tenho ouvido com frequência. Numa língua viva como a nossa, é previsível e até desejável que novas palavras sejam criadas para dar conta da realidade, que é sempre muito dinâmica. Mas para que a língua seja preservada, a gramática estabelece regras para a formação de palavras. Como quem faz a língua é o povo, nem sempre as novas palavras são formadas de acordo com o que está previsto. É o caso de “presidenta”, que é palavra malformada, porque os derivativos verbais não incluem o sufixo “enta”. Para designar aquele que tem a capacidade para exercer a ação expressa pelo verbo, adicionamos à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. O particípio ativo do verbo ser é ente, aquele que é, ou seja, o ente, que tem entidade. O ente que ama é amante; o que promete é promitente; o que converge é convergente. Aquele ou aquela que preside é presidente. Os dicionários registram os verbetes que de alguma forma em algum momento foram consagrados pelo uso, independentemente de serem bem formados.

Esse esforço concentrado que se observa hoje no sentido de fixar o uso de presidenta, forma não tão nova, tem por objetivo valorizar a figura da mulher, que ao longo da história tem sofrido os mais diversos tipos de discriminação. Caminha na mesma linha de outras iniciativas, como a de condenar o uso da palavra “homem” em sentido genérico, ou o do masculino plural para incluir o feminino. Hoje temos ouvido e lido, por exemplo, “os alunos e as alunas da classe”, “os professores e as professoras da escola”, prática que, de acordo com os seus adeptos, serve para tirar a mulher de uma condição de invisibilidade dentro do grupo, conferindo-lhe prestígio.

Mas, no caso específico de presidenta, de uma certa forma, essa iniciativa caminha na contramão de nossa realidade linguística, que privilegia o masculino em detrimento do feminino. Já foi citado aqui o exemplo de “governanta” (mulher que administra uma casa alheia), que tem status bastante inferior ao de “governante” (aquele que governa).

Paralelamente ao gramatical, é preciso levar em consideração o aspecto legal da questão. O dicionário Houaiss define “presidenta” como “mulher que se elege para a presidência de um país”, mas, “presidente”, como “título oficial do chefe do governo no regime presidencialista”. Isso porque os títulos oficiais costumam ser conferidos no masculino. A mulher que se forma em engenharia recebe em seu diploma o título de Engenheiro; a que faz mestrado, o título de Mestre; a que faz doutorado, o de Doutor. Será que alguém diplomaria uma mulher como “Presidenta da República”? Acredito que a palavra presidenta pode se tornar consagrada no uso popular, mas no Diploma e nos documentos oficiais não faria sentido abandonar a norma culta do idioma, nem a Constituição, que afirma: O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado” (Art. 76).

(ADALBERTO ALVES DE SOUSA)