DIVORCIADOS: UMA NOVA ESPÉCIE DE GENTE (Virgínia Martin)

Chego por aqui com meu segundo texto desta coluna.

E como mencionei antes, falar sobre fases desérticas pode não ser o tema mais atraente do mundo. Mas tem grande chance de render muitos lucros emocionais a médio e longo prazo. 

E se sua passagem pelo deserto inclui estar solitário, ou melhor, divorciado, eis aqui  o seu lugar para dar uma pausa.    

 

Desertos!

Ninguém quer passar por eles, seja com que munição for. Muito menos sem ela. (rs)

Atire a primeira pedra aquele que deseja virar maratonista do deserto, fazer dele seu esporte predileto, seu hobby.  

Mas… muitos de nós têm lúcida consciência do quanto estas fases desérticas contribuem para um up-grade interior, faz de cada um de nós um ser superior.

Sim! Superior ao que poderia ter sido de ruim e não foi. Porque foi superado!


 
 

Enquanto só vemos a luz distante no fim do túnel,
o melhor é ter certeza de que é possível reaprender a amar,
seja Deus, seja um amigo, seja um homem ou mulher, seja você mesmo.
Reaprender o amor é um milagre bem vindo na vida de todos nós.

 

 

O que menciono não é nenhuma novidade.

Todo mundo sabe que tempos difíceis são ferramentas de construção pessoal.

Faz bom uso dela quem pode.

É na crise que crescemos e blá, blá, blá.

Sendo assim, desertos também podem ser vistos com bons olhos.

Mas é preciso encará-los de forma diferenciada.

 

Escolhi falar sobre o deserto por ser uma figura que nos revela a imensidão do nada, a sensação de vácuo em forma de grão, a impossibilidade quase absoluta de tudo.

Diante do deserto, egos se dissipam.

Todos os sentidos são aguçados, aperfeiçoados e, muitas vezes, deixamos de ser inumanos.

Milagrosamente, somos içados a uma nova espécie de gente.

Inacreditavelmente, nos tornamos monstros do bem, seres positivamente complexos e mais sensíveis.

Por isso, desertos também podem ser bem vindos na vida de todos nós, mortais combatentes.

O problema é quando permanecem tempo demais.

 

Cá para nós! Todos nós queremos ser como Jó.

Afinal, ele recebeu o dobro do que possuía.

Mas ninguém quer passar pelo que ele passou.

 

Poucos sabem que Saint-Exupéry, conhecido autor do best-seller “O Pequeno Príncipe”, também teve seu período de estadia em areias escaldantes.

Em 1935, ele que amava voar e escrever, acabou caindo com seu avião no deserto do Saara na rota de Paris para Saigon.

Depois de alguns dias, foi resgatado por um beduíno quando já estava agonizando por desidratação.

E foi assim, tendo sua experiência no deserto como referência, que Exupéry escreveu sua mais famosa obra.

Foi o deserto que lhe deu material emocional e lúdico para produzir uma rica aventura entre um piloto de avião e um principezinho no meio do que aparentava ser nada: o deserto.

 

Estar no meio de um deserto, portanto, pode significar estar no meio do privilégio.

Bem percorridos, desertos podem ser um santo remédio.

Possuem a capacidade de curar. Como também podem ressuscitar.

 

Ainda podem trazer de volta o valor e o melhor uso da palavra de Pedro, que a gente bem conhece, mas pouco experimenta: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus para que a seu tempo vos exalte. Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade porque ele tem cuidado de vós” (I Pedro 5.6,7). Afinal, somos todos geração eleita! 

 

E como já disse a boa e velha publicidade esportiva: “no pain, no win” (sem dor, sem vitória). Creio que vale a busca. Não apenas pela conquista da superação, mas pela melhor forma de vivenciar um período de aflição. Se temos mesmo que passar por ele, que seja com o máximo de aproveitamento. E é sobre isso que vamos sempre falar aqui.

 

Mas lembre-se de que estar em uma fase desértica não significa estar em uma corrida. É um processo. Trilhões de vezes, o que queremos é completar o desafio o mais depressa possível, como se fosse o torneio “Paris-Dakar”. Resista a esta tentação!