RELIGARE (Anelise Gondar)

 
É verdade que a “religião”, na acepção histórica do termo, foi um instrumento do aniquilamento da sua própria natureza (religare: religar o homem a Deus).
Fiquei pensando… 
 
RELIGARE 
é escolha;
é projeto para a vida inteira;
é para os atentos ao natural e ao sobrenatural;
é ouvir sabiamente o que os outros dizem e o que diz o seu próprio (enganoso!) coração, mas escolher fiar-se na doce voz que vem do Alto, que ecoa por vezes no próprio coração ou através de pessoas sábias ou inspiradas;
 
RELIGAR-SE 
é transcender, é descobrir, é descobrir-se;
é enxergar, através da proximidade  com o Divino,  o melhor e o pior de ser humano, e comprometer-se diariamente para não deixar que o pior do ser humano supere o potencial que ele tem para ser sempre mais;
não é nem preocupar-se em fazer, nem em ser, mas mergulhar de cabeça na plenitude da ligação entre homem e Deus e fruir as conseqüências que essa ligação tem tanto no ser quanto no fazer;
é superar dogmas porque se guia pelo princípio de que a perfeita comunhão entre o homem e Deus e entre o homem e seu próximo extinguiriam a necessidade de regras;
é viver com os pés na terra e saber que há diferenças entre o certo e o errado, que o errado prejudica o próximo ou a mim mesmo, que o errado representa desequilíbrio e que o desequilíbrio pode restaurado através da graça;
é, portanto, fazer as pazes com as regras e saber que estas fazem parte da vida em comunhão com Deus e com o próximo;
é não abrir mão nem do pensamento, nem da consciência, nem da liberdade, nem da responsabilidade, nem do presente, nem da esperança;
é questionar, perguntar, indignar-se, confrontar, buscar justiça;
 
Religar-se é viver com a consciência de que a vida, única, singular e eterna, já começou.
 
ANELISE GONDAR