BOM DIA: Faça bem feito

Um acidente mudou para sempre a vida de Placide Cappeau, da cidade francesa de Roquemaure. Aos oitos anos de idade, ele e um amigo brincavam irresponsavelmente com uma arma de fogo, quando o revólver disparou sobre a sua mão, que teve de ser amputada. 

Numa espécie de compensação, os pais do outro menino lhe deram uma bolsa de estudos, que lhe permitiu estudar em bons colégios. Formou-se em literatura, que se tornara sua paixão.
Mais tarde, recebeu a incumbência de preparar um hino que pudesse ser cantado nas igrejas cristãs para celebrar o Natal. Em 1847, aos 40 anos, enquanto fazia uma viagem, numa carruagem puxada a cavalos, escreveu uma letra que, musicada por Adolphe Charles Adam, agradou o povo.
A canção, no entanto, desagradou às autoridades religiosas e caiu em desuso, mas a história da canção mudou quando, em 1855, John Sullivan Dwight a traduziu para o inglês, motivado por ver na música um libelo contra a escravidão. A partir daí a canção foi traduzida para inúmeros idiomas e se tornou uma das mais executadas no Natal.
Esta é a história da canção "Meia-noite, cristãos" ("Minuit, chrétiens"), também conhecida como "Santa Noite" ("O Holy Night").
Ela nos mostra que a vida não acaba quando um acidente nos desvasta, como aconteceu com Placide Cappeau. Na verdade, a experiência do sofrimento foi o seu trampolim.
Ela nos mostra que o sucesso pode até conter algum elemento de acaso (como a tradução da música para o inglês), mas, no fundo, no caso da arte, ele é filho de um trabalho com qualidade. A beleza de "Meia-noite, cristãos" explica o seu sucesso.
Quando fazemos bem feito, o sucesso virá, mesmo que tardio.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO