MARCAS, 1

 

O apóstolo Paulo termina sua carta aos gálatas com um lamento:
 
"Sem mais, 
que ninguém me perturbe, 
pois trago em meu corpo as marcas de Jesus"
(Gálatas 6.17)
 
Claro: pensei: Paulo falaria comigo assim? Se eu estivesse anulando a graça, sim.
Perturbo Paulo?
Perturbo-o, distraindo sua atenção com as minhas práticas?
Perturbo-o, pedindo-lhe com que se ocupe com assuntos já resolvidos?
Paulo diz:
. Não me venha com legalismo.
Eu sei que o legalismo pressupõe que o meu comportamento me torna aceitável para Deus. Legalista, olho para o ladrão na cruz pedindo graça e lhe digo: agora, depois de tudo o que você fez? Você não merece. Mas o que Jesus lhe diz: hoje mesmo estarás comigo no paraíso. Gemo: que absurdo. A graça tem uma lógica absurda, mas é a única que funciona. A lógica da lei me dá a falsa sensação de que sou bom, até o próximo pecado me mostrar quem eu sou. É dura a luta contra o legalismo, que está no meu DNA, depois que o meu pecado primeiro me corrompeu. Por causa desse DNA corrompido, fixo meus olhos no mérito: anulo a graça, tornando inútil o sacrifício de Jesus na cruz, ao fazer os meus, mas os meus sacrifícios não me salvam; só os do Salvador. Por isto, Paulo me grita: não me perturbe com o seu legalismo. Você não é merecedor da bênção de Deus porque é obediente. Bênção não é conquista; é graça. Mereço ouvir isto?
Paulo diz:
. Não me venha com práticas que afastam do Evangelho. 
Eu sei que circuncisão não é mais uma exigência espiritual. Circuncisão é para os descendentes biológicos de Abraão. Festas judaicas são só para judeus. Liturgias judaicas são só para judeus. Sábado é só para judeus. Para eles fazem sentido. Até para cristãos judeus cristãos, fazem sentido. Para cristãos brasileiros, não fazem. A linda estrela de Davi não é para entrar nos templos cristãos. Chifres (shofar) não são para a liturgia cristã. As regras do Levítico não são para os cristãos, que devem conhece-las e aplicar seus princípios. O espírito da lei continua vivo. A letra da lei deve morrer, para que a graça de Cristo brilhe. Tenho vivido de modo a merecer o lamento paulino? [CONTINUA]
 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO