Êxodo 3: DEUS É SANTO

DEUS É SANTO
Êxodo 3

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 11.6.2000 – noite

1. INTRODUÇÃO
Nesta série a partir de Êxodo 3, vimos que Deus é Aquele que é, Deus é Glória, Deus é Aquele que vê a nossa aflição e que Deus é Aquele que se comunica.
Hoje veremos que Deus é Santo. Ele é Santo porque é o que é. Ele é santo porque é glória. Ele é santo mas vê nossa aflição. Ele é santo mas se comunica conosco.
Aquilo que Deus é tem profundas implicações para as nossas vidas. O fato de Ele ser santo impõe-nos um imperativo, um desejo, uma meta.
Recapitulemos o texto bíblico, até o ponto em que Deus proclama a Sua santidade.

2. DEUS É SANTO PORQUE ELE É O QUE É.
O atributo da integridade é essencial ao caráter de Deus. Ele é santo. E o que quer dizer que Deus é santo? Quer dizer, por exemplo, que Ele não precisa ter um nome. Ele jamais é um ator de si mesmo.

Nós, no entanto, somos diferentes de Deus.
1. Nossa diferença está que nós podemos dizer uma coisa e viver outra. Temos a capacidade de pregar um evangelho e viver outro evangelho.
Eu posso representar um papel, Deus jamais joga para a platéia, porque Sua santidade não comporta duplicidade.
Eu posso dizer que sou isto ou aquilo, e não ser nada. Eu posso ser hipócrita. Eu posso ser duplo. No entanto, eu preciso saber que “quando a hipocrisia (mentir para os outros) e a duplicidade (mentir para mim mesmo) começam a assumir a direção [de minha vida], a integridade desgasta-se gradualmente até ser destruída. Hipocrisia significa que houve divisões e as trevas penetraram. Duplicidade significa que a luz tornou-se trevas, o errado tornou-se certo e o pecado tornou-se aceitável. [Para estes Jesus dirá] “Nem todo o que me diz: Senhor! Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aqueles que faz a vontade do meu Pai” (Warren Wiersbe
Fazer a vontade de Deus é ser íntegro. Sou íntegro quando a luz de Deus (nunca minha própria luz) está brilhando no meu interior.
A experiência de Pedro parece ser a de muitos de nós. Ele, num ambiente cristão, era cristão. Num ambiente hostil, não conhecia a Cristo. Muitos hoje vivem como Pedro. Pedro, quando descobriu seu erro, chorou amargamente (Lc 22.62) e se tornou um gigante da causa de Cristo (At 2). Que o exemplo de Pedro seja seguido na íntegra.

2. Há algo que ainda podemos fazer: é escrever nosso próprio evangelho, mais condizente com vidas distantes do Evangelho. Isto acontece porque “muitos cristãos desejam desfrutar a sensação de se sentirem justos, mas não estão dispostos a agüentar a inconveniência de ser corretos”. (A.W. Tozer)
O primeiro capítulo deste falso evangelho defende que somos livres para fazer o que quisermos. O que importa é sermos felizes. Para estes coríntios modernos, “todas as coisas são lícitas”. A verdade paulina, segundo a qual não podemos nos deixar dominar por coisa alguma, mesmo coisas muito boas, fica de fora dessas páginas. Pior ainda: fazem como o bêbado que, cambaleando em direção ao bar mais próximo, se acha o mais sóbrio dos homens.  
O segundo capítulo propõe que não há uma diferença entre luz e trevas, mesmo porque luz pode ser trevas e trevas pode ser luz, dependendo do contexto. Uma festa de um cristão, por exemplo, não precisa ser diferente da festa de um cristão. Por que teria que ser, pergunta o apóstolo deste tipo de evangelho.
O segundo capítulo deste evangelho é um elogio a autenticidade. As pessoas devem sair do armário e assumir aquilo que gostam e fazem. Não importa se o que fazem está em contradição com a santidade de Deus. A autenticidade é mais importante que a santidade. São capazes de elogiar a coragem dos pecadores mais empedernidos porque tiveram a coragem não de mudar de vida, mas de assumir como certas suas vidas de pecado.
Esses autores se esquecem que o Evangelho já foi escrito e que os padrões estão dados. Podemos até não viver segundo esses padrões, mas não podemos inventar outros. Deus é autêntico e santo. Se for santa, nossa autenticidade será gloriosa. Se for suja, nossa autenticidade será apenas rebeldia.

3. Por isto também, Ele pede que Moisés tire as sandálias dos pés para poder ouvir a sua mensagem e travar um diálogo com Ele.
Por que Deus fez tal solicitação?

Deus queria saber se Moisés o amava. Se o amasse, poderia fazer o que Deus queria. Quando chamou a Pedro, Jesus lhe perguntou três vezes se o amava (Jo 21.15). Moisés tirou as sandálias e, por amor a Deus, correu todos os riscos de pisar em pontas de pedras, em espinhos e em cobras. A santidade de Deus o cativou. Com Ele, suas sandálias, antes tão importantes, agora não tinham mais valor. Por vezes, “amamos a nós mesmos, amamos a nossa turma e pode ser que amemos o nosso fundamentalismo [e mesmo nossa igreja], mas não amamos ao Senhor” (Vance Havner) A santidade de Deus nos incomoda e faz com que vivamos de outro modo.

Deus queria saber se Moisés renunciava ao seu modo de caminhar pelo mundo. Tirar as sandálias era uma forma de submissão a Deus. Até então caminhara sozinho. Quando matou um egípcio que oprimia um hebreu  ou quando repreendeu um hebreu que batia em outro hebreu, Moisés agiu impelido pelo seu sentimento de justiça, mas isto não deu sentido à sua vida. Quando consentiu em trabalhar para Jetro e casar com uma de suas filhas, Moisés agiu em busca da sobrevivência e da tranqüilidade, mas isto não lhe trouxe paz de espírito. Agora, não, sua vida tinha uma direção: a santidade orientada para e pela santidade de Deus.
Deus queria saber se Moisés estava disposto a fazer a sua parte na parceria. Naquele momento, só uma coisa que lhe competia fazer: tirar as sandálias. A ordem (“tirai as sandálias”) se aproxima da ordem de Jesus aos amigos do saudoso Lázaro: tirai a pedra (Jo 11.39). Era isto que cabia aos homens fazerem; eles fizeram a sua parte (tiraram a pedra) e Jesus pôde ressuscitar a Lázaro. Como os amigos do amigo de Jesus, Moisés estava disposto a fazer a sua parte. Se queremos ser santos, precisamos estar dispostos a fazer aquilo que Deus nos pede.

4. A conseqüência fundamental da santidade de Deus é que Ele não está onde o pecado está. Porque é santo, Deus consome o pecado. A imagem do fogo (v. 2) é uma demonstração do modo como Deus age diante do pecado.
Porque é puro de olhos (Hc 1.13), Deus não tolera o pecado. É por isto que o pecado tem que ser punido. É por isto que Jesus Cristo teve que morrer para ser castigado em nosso lugar.
Portanto, eu posso ter o conceito que quiser sobre pecado, mas isto não altera a ação do fogo de Deus, que vai consumi-lo. Posso relativizar de modo absoluto o meu pecado, mas o fogo absoluto de Deus o tornará num montão de cinzas.

3. DEUS É SANTO E NÃO SE DEIXA BANALIZAR (v. 14)
A essência da alteridade se expressa na recusa divina em ter um nome. Eu me chamo Israel e isto me torna igual a todos vocês, cada um com seu nome. Somos todos iguais porque temos nomes. Porque é radicalmente diferente de nós, Deus não tem nome.
Falta-nos a visão de um Deus tremendo, o que faz com que nosso Deus seja banal demais.
Como nós, Moisés também tentou banalizar a Deus. Quando Deus se apresentou a Ele de maneira espetacular, ele Lhes quis saber o nome. A resposta foi: EU SOU O QUE SOU.
De uma outra feita, quando estava em diálogo com o Deus invisível, quis vê-lo, dizendo: Rogo-te que me mostres a tua glória.
A resposta foi:
Eu farei passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o meu nome Jeová; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer. Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum pode ver a minha face e viver. Eis aqui um lugar junto a mim; aqui, sobre a penha, te porás.E quando a minha glória passar, eu te porei numa fenda da penha, e te cobrirei com a minha mão, até que eu haja passado. Depois, quando eu tirar a mão, me verás pelas costas; porém a minha face não se verá.
 (Ex 33.19-23)
Moisés pôde falar sobre o que Deus fizera e faria, mas nunca pôde descrevê-Lo. Moisés pôde falar com Deus como se fala a um amigo, mas não pode fazer um retrato dEle porque nunca o vira. Nunca ninguém viu a Deus.
Como somos iguais, nossos relacionamentos podem ser banais, superficiais, descartáveis, substituíveis. Com Deus, não. Cada encontro com Ele é um encontro capaz de mudar nossas percepções e compromissos. Um culto jamais deverá ser um tempo de bocejos, se tivermos a certeza de que Ele está presente. Se você entrou aqui cheio de ódio no coração e teve um encontro com Deus, o ódio tem que ficar aqui para ser levado pelo vento.
Queremos controlar a Deus, seja tentando aprisioná-lo na garrafa da razão ou pretendendo subordiná-lo à pele da emoção. Deus não é racional, nem emocional. Nós é que experimentamos no território da razão ou no círculo da emoção. Ele, no entanto, está muito atrás da rocha.
Um Deus banal não exige santidade. Afinal, ele é igual a nós mesmos. Ele acha tudo normal. Se achamos que o errado é certo, ele concorda.
Você quer um Deus assim? Lembre-se, porém, que não dá para orar a um Deus banal. Ele é surdo. Se você precisar dele, vai ficar sozinho.
Não dá para adorar um Deus banal. Ele é insensível e não tem prazer em nossa companhia.

4. DEUS É SANTO MAS ESTÁ CONOSCO (v. 12)
A marca da misericórdia acompanha a santidade de Deus. Sua promessa a Moisés (“Eu serei contigo”) permanece contemporânea de todos quantos a querem.
Deus é santo mas está conosco. Talvez precisemos corrigir esta frase: Deus é santo porque está conosco. Com isto, nós nos preparamos para compreender que a essência da santidade de Deus é a sua bondade. É a sua misericórdia que revela o seu caráter de diferença em relação a nós, porque nós não conseguimos ser bondosos com Ele é.
Ao mesmo tempo, a nossa santidade se revela na bondade. Se a nossa santidade não se traduzir em amor ao próximo, não é santidade. Será qualquer coisa, menos santidade.
Se Deus é santo e está conosco, devemos ser santos estando com os outros, revelando o Deus-conosco, para que o Deus-conosco seja Deus-com-eles.

5. CONCLUSÃO
Em nossas igrejas, há muitas pessoas desafiadas, mas poucas transformadas; muitas convencidas, mas poucas convertidas; muitas que ouvem, mas poucas que praticam. Quem está nesse segundo grupo, engana-se a si mesmo. (Vance Havner)
Diante disto, eu lhe convido a um propósito novo.
Atenda o convite de Jesus, no Apocalipse:
E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo:
Grandes e admiráveis são as tuas obras, o Senhor Deus Todo-Poderoso;
justos e verdadeiros são os teus caminhos, o Rei dos séculos.
Quem não te temerá, Senhor,
e não glorificará o teu nome?
Pois só tu és santo;
por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti,
porque os teus juízos são manifestos.
(Ap 15.3-4)
Deus é santo. Venha e se prostre diante dEle. Tema ao Senhor e glorifique o Seu nome.
Venha hoje a Ele. Prostre-se hoje diante dEle. Não se prostre diante do espírito deste tempo mas diante do Espírito de Deus. Tenha prazer na companhia de Deus.
Se você se diz um salvo, lembre-se que Deus lhe pede santidade, que é temer e glorificar a Deus. Você tem temido a Deus, ou tem temido mais seus próprios juízos e os juizões deste tempo? Você tem glorificado a Deus, ou tem glorificado sua própria razão ou seu próprio corpo?
Se você não se inclui no rol dos salvos, convide a Jesus para ser seu Salvador. Venha hoje a Ele. Prostre-se hoje diante dEle. Não se prostre diante do espírito deste tempo mas diante do Espírito de Deus. Seja um adorador de Deus a partir de agora.
Por isto, viva na presença de um Deus santo.
Arrependa-se dos seus pecados, confesse a Deus os seus pecados agora, disponha-se a abandona-os e tome as devidas providências para não os praticar mais. Erija muros em seu redor para impedir que a penetração do pecado. O salmista recomenda que Jerusalém tenha muros que a protejam (Sl 51.18). Você não é tão forte quanto parece. Permita que Deus construa muros ao seu redor.
Deixe Deus lhe tocar com a sua glória. Talvez você se pergunte, você que um dia sentiu o calor de Deus, mas hoje está mais frio espiritualmente que uma pedra de gelo: como posso sentir a glória de Deus? A alegria dEle vai fluir em você e você terá mais alegria nEle e menos nas coisas que hoje lhe dão regozijo (Sl 85.6).
Há uma outra marca: seu rosto vai brilhar. Quando a glória de Deus tocava Moisés, seu rosto brilhava. Ele não sabia que seu rosto brilhava, mas o povo via. Seus amigos, talvez aqueles com os quais você tem (prefiro dizer: tinha) prazer em estar, verão que algo aconteceu. Então, você saberá que Deus o tocou. Trema diante dEle.