Trindade: uma certeza essencial

TRINDADE: UMA CERTEZA ESSENCIAL

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 22.4.2001 (noite)

1. INTRODUÇÃO
Quando nos propomos a meditar sobre as doutrinas essenciais da fé cristã, precisamos apresentar, como uma das primeiras, a da Trindade divina, para que possamos compreender a própria natureza da experiência cristã.
Comecemos por afirmar que a doutrina da Trindade é exclusiva do Cristianismo. O Judaísmo, de quem ficamos com as suas Escrituras como primeiro volume das nossas, que tem dois: o primeiro e o segundo Testamentos. O Judaísmo e o Islamismo, que são monoteístas, não são trinitários. A propósito, uma das grandes dificuldades para a aceitação de Jesus por parte dos judeus era precisamente a sua afirmação de que era um com o Pai.
Esta exclusividade encontra outra característica: a palavra “Trindade” não aparece na Bíblia, mas nela está contido claramente o ensino segundo o qual Deus é uma unidade em três pessoas, três pessoas que são completamente divinas em si mesmas.
Não dá para compreender a Trindade apenas com o esforço racional, embora devamos usar a razão para entender algo tão complexo. Talvez alguns se perguntem: por que nos preocuparmos com um assunto desta natureza?
A razão é que a doutrina da Trindade é essencial para a fé cristã, especialmente porque sem ela teremos de reduzir Jesus Cristo à condição de ser humano, e isto inviabiliza a redenção. Teremos que reduzir o Espírito Santo a apenas um vento divino, nunca como uma pessoa da Trindade com divindade própria e função própria.
Até mesmo para uma compreensão da oração, precisamos da Trindade. A quem oramos? A oração é á mais importante corporificação da idéia da Trindade, uma vez que oramos ao Pai, em nome do Filho, contando com a interpretação do Espírito Santo.
Se não temos a palavra “Trindade” na Bíblia, a realidade um Deus completo em três pessoas está claramente presente ao longo de suas páginas. Nós vamos nos fixar em apenas um texto, que contém um conjunto de frases proferidas pelo próprio Jesus (conforme João 14).
Antes, porém, precisamos recordar alguns equívocos acerca da Trindade.

2. VISÕES ERRADAS SOBRE A TRINDADE
A Trindade como conceito sempre desafiou a mente dos cristãos desde os primórdios. Por esta razão, muitos debates foram travados, muitas dúvidas foram respondidas, embora ainda permaneçam ensino incompatíveis.
Vamos nos ocupar brevemente de * destas visões equivocadas.

1. Ao longo dos séculos, um dos equívocos acabou tomando o nome de unitarianismo, corrente que reúne todos aqueles que se recusam a aceitar a existência de três pessoas formando a Trindade. Para eles, só existe uma pessoa divina. A maior dificuldade dos unitarianos consiste em aceitar a divindade de Jesus. São unitarianos todos aqueles, por exemplo, que admitem existir vários salvadores, não apenas um, vários caminhos, não apenas um. Jesus é um homem a ser seguido, não um Deus a ser adorado
Esta visão esbarra nas afirmações de Jesus em João 10.30: Eu e o Pai somos um. Se aceitamos a Bíblia e a própria palavra de Cristo, não temos como não afirmar a divindade do Pai e a divindade do Filho.

2. Um desvio sedutor, preconizado por cristãos como Tertuliano (século 3) e Hegel (século 19), ensina que cada época tem uma das pessoas da Trindade como agente. O Antigo Testamento foi a era do Pai. O Novo Testamento foi a dispensação do Filho. Agora, estamos na era do Espírito Santo.
Onde está o equivoco? Esta visão, chamada de econômica, não afirma que cada pessoa da Trindade é inteiramente Deus e eterna, preexistindo à sua manifestação.

3. A defesa do monoteísmo levou alguns, como os monarquianistas do período pós-apostólico, a pensarem a Trindade como sendo uma só pessoa com diferentes nomes, atributos e atividades. A palavra Deus abarca toda estas diferenças.
O equivoco está em negar o fato que Jesus Cristo é uma pessoa, como Ele mesmo se apresentou. O equivoco consiste em negar que o Espírito Santo é da mesma natureza do Pai e do Filho.to.

4. O extremo está no triteísmo, que é a crença que o Pai, o Filho e o Espírito Santo não formam uma unidade, mas são três pessoas completamente distintas, constituindo-se em três deuses.
Este ensino não encontrou formulação explícita, mas pode ser derivada de visões bem claras ao longo da história. O termo também é empregado pelos adversários da Trindade para indicar seu erro como triteísta.

5. Uma visão com muitos simpatizantes é o adocionismo, segundo a qual Jesus Cristo é um filho adotivo de Deus, adotado por ocasião do seu batismo ou por ocasião de sua morte ou ressurreição. Jesus, portanto, é alguém que se tornou Deus, significando que também podemos sê-Lo.
Apesar de atraente, esta visão não tem amparo na Bíblia, que afirma que Jesus é o Alfa e o Ômega, portanto pré-existe ao prorio Jesus encarnado, nascido de uma Virgem pelo Espírito Santo.

3. AFIRMANDO A TRINDADE
Quando lemos a Bíblia, diferentemente dessas visões, nós vemos as três pessoas da Trindade em ação.
Quando Gênesis fala do Deus criador, não fala apenas do Pai  mas da Trindade. Façamos o homem à nossa imagem e semelhança (Gênesis 1.26) — está bem nas primeiras páginas das Escrituras Sagradas. Quando o Evangelho de João fala da dádiva do Filho, mostra claramente o plano de Deus, por meio do Pai e do Filho.
A Trindade divina, portanto, é formada por três pessoas, que desfrutam da mesma eternidade, da nesma natureza e da mesma substância. Quando entra em ação na história, cada pessoa da Trindade continua plenamente divina. Assim, por exemplo, o Espirito Santo, por exemplo, nao é um gás divino que enche o crente, mas o próprio Deus habitando conosco.
A Trindade mantém a unidade de Deus, em que cada pessoa é completamente Deus. Mesmo que num determinado período da história, uma das pessoas tome a proeminência, cada um conserva a plenitude de sua divindade, sem qualquer mudança de sua essência.
Para entender a Trindade, o ensino de Jesus em João 14 é bastante revelador.

1. Jesus Cristo é o caminho para o Pai. O diálogo com seus discípulos traz esta afirmação clara. E vós sabeis o caminho para onde eu vou. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho? Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (versos 4-6).
Enquanto na terra, Jesus se subordinou ao Pai. A Sua vontade era a do Pai. Quando ainda estava no conselho celeste, Ele não teve dúvidas em abrir mão da Sua divindade para que pudessem ser salvos (Filipenses 2.1-6).

2. Conhecemos o Pai conhecendo a Jesus Cristo. Quem o vê vê o Pai. Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto (vrso 7).

3. O Pai e o Filho formam uma unidade. Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras. (versos 10a, 11). Jesus esclarece aindamais esta unidade, quando afirma, mais adiante, que tudo quanto o Pai tem Lhe pertence (João 16.15).
Por constituírem uma unidade, o Pai realiza sua obra salvadora por meio do Filho. As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras (verso 10b).

4. O Espírito Santo é um presente do Pai e do Filho para nós. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco (verso 16). Este Espírito já está conosco, convencendo-nos do erro e nos mantendo de pé. Ele habita conosco (verso 17).

5. Cada Pessoa da Trindade tem funções específicas. A do Pai é coordenar, a do Filho é salvar e a do Espírito Santo é defender.poderosamente e ensinar convincentemente. (João 16.8-11). As três pessoas conjugam esforços para a realização do propósito divino. O Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito (verso 26).
Esta divisão nós a vemos claramente na oração. Devemos pedir ao Pai em nome do Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei (verso 14). O apóstolo Paulo complementa, quando garante que Jesus intercede e o Espírito Santo interpreta as nossas orações.

4. CONCLUSÃO
Assim, quando dizemos que amamos a Deus, amamos a Trindade divina. A recomendação do Filho é bastante precisa: Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele (verso 21).
Quando A amamos, nós realizamos a sua obra. Podemos realizar as obras da Trindade. Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai (verso 12). Nossas obras serão maiores num sentido quantitativo (não qualitativo) porque serão desenvolvidas em meio a situações bem diferentes das de Jesus e porque alcancaremos mais pessoas diretamente do que Ele e seus discípulos alcançaram..

ISRAEL BELO DE AZEVEDO