“Meu filho, cuidado quando for atravessar a rua” — minha mãe.
“O amor jamais acaba” — Paulo (1Co 13.8)
Se eu tivesse mãe,
em algum suporte seguro bem seguro
seus conselhos a mim em prata gravaria
seus gestos em meu favor registraria
seus sorrisos largos numa imagem congelaria
a seus abraços todos certamente corresponderia
para durar pelas gerações
aqueles livros com que me presenteou eu encadernaria
aquelas roupas que ela costurou para mim eu plastificaria
aqueles sapatos que me comprou a prestações eu manteria
aqueles pratos especialmente feitos para mim eu fossilizaria
como resposta de gratidão
os cantos com que me ninava nas noites eu cantaria
os versículos bíblicos de sua escolha eu memorizaria
as lições que fez comigo para me ajudar eu desencavaria
os bilhetes com que puxou minhas orelhas eu celebraria
para não perder um segundo de sua companhia
e sorver todos os néctares de sua simples sabedoria
todos os dias que conseguisse eu a veria
todos os momentos que pudesse eu a abraçaria
todas as vezes que quisesse eu a beijaria
uma vez por semana pelo menos com ela almoçaria
todas as noites ao seu lado em oração me ajoelharia
Se eu tivesse mãe?
Eu tenho mãe, só que agora apenas guardada
no corpo da minha memória,
porque seu corpo habita na mente empoeirada
mas não, não a sua bem viva história,
carinhosamente registrada.
Ainda ouço sua voz me aconselhando,
suas mãos me alimentando,
seus olhos me acompanhando,
seus sonhos para mim me embalando.
Tendo partido, não partirá.
Para sempre em mim ficará
porque o amor jamais acabará.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO