SANTIFICANDO O DINHEIRO
1Timóteo 6.6-12
Pregado na Igreja Batista Itacuruçá em 20.8.2000 – manhã.
1. INTRODUÇÃO
A relação de boa parte de nós com o dinheiro é uma relação de amor e ódio, amor porque queremos tê-lo, ódio porque não conseguimos tê-lo.
Desde que inventaram o dinheiro (dos metais preciosos pesados ao papel-moeda que não se mede mais tem seu valor), corremos atrás dele. As chamadas civilizações se tornaram muito complexas por causa do dinheiro, especialmente porque é impossível viver sem ele.
Nem mesmo Jesus viveu sem dinheiro, embora não tivesse uma casa própria. O Novo Testamento informa que havia um grupo de mulheres que pagava as suas contas, assistindo-lhe com seus bens. (Lc 8.1-3 — Logo depois disso, andava Jesus de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e iam com ele os doze, bem como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios, Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Susana, e muitas outras que os serviam com os seus bens)
A Bíblia fala de dinheiro em 648 capítulos (com os termos dinheiro, bens, riqueza, moeda, prata e ouro). Os dois capítulos mais ricos da Palavra de Deus sobre o assunto são Eclesiastes 5.10-20 e 1Timóteo 6.6-12. Hoje vamos considerar o segundo, tendo o primeiro no horizonte.
2. UMA TEOLOGIA PARA O DINHEIRO
1. O dinheiro é algo que Deus nos entrega para o nosso bem estar.
Deus nos proíbe dizer, como aprendemos no Deuteronômio: “A minha força e a fortaleza da minha mão me adquiriram estas riquezas”. Sua recomendação é outra: que nos lembremos que Ele nos dá força para adquirirmos riquezas (Dt 8.17-18). O dinheiro não nos é dado para nele confiarmos, mas sua concessão deve aumentar nossa confiança em Deus.
O sábio do Eclesiastes ensina que Deus nos dá, por meio do trabalho, riquezas e bens, bem como poder para fruir deles. Quanto ao homem a quem Deus deu riquezas e bens, e poder para desfrutá-los, receber o seu quinhão e se regozijar no seu trabalho, isso é dom de Deus. (Ec 5.19).
O dinheiro é algo que vem por meio do trabalho. Numa sociedade injusta e corrupta como a nossa, há muitas pessoas tentando ganhar dinheiro fácil sem trabalhar, seja por meio da corrupção, seja por meio do jogo, jogo promovido por organismos federais, como as loterias. Tem sido tentador ganhar dinheiro por meio do jogo.
Apesar das “inspirações” em contrário, o trabalho é a fonte do dinheiro. Ademais, é bom lembrar que o trabalho é algo bom para a saúde. Não importa a idade. Por isto, se não precisa mais de dinheiro, ofereça-se para ser voluntário.
2. Devemos nos empenhar para ganhar dinheiro, mas sem lhe fazer um altar.
Precisamos de dinheiro para suprir nossas necessidades. Por isto, devemos definir quais são elas. O dinheiro não é um fim em si mesmo. O sucesso com o dinheiro conquistado depende do estabelecimento de prioridades, que Paulo relaciona como sendo a satisfação de nossas necessidades (v. 8), as quais variam de pessoa para pessoa, de família para família. Paulo pensava apenas no alimento e no vestuário. Na vida complexa, que é a nossa, precisamos pensar em saúde, moradia, estudo e lazer.
É a atenção ao princípio negativo que o dinheiro não é um fim que torna possível ao cristão ser próspero sem ser mundano. Nosso exemplo deve ser o de Abraão, de quem ninguém podia dizer que tomara o que não lhe pertencia.
. Abrão, porém, respondeu ao rei de Sodoma: Levanto minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra, jurando que não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu, nem um fio, nem uma correia de sapato, para que não digas: Eu enriqueci a Abrão (Gn 14.22-24)
Nosso exemplo deve ser o de Samuel, que cuja honestidade seus contemporâneos não podiam duvidar.
. Eis-me aqui! testificai contra mim perante o Senhor e perante o seu ungido. De quem tomei o boi? ou de quem tomei o jumento? ou a quem defraudei? ou a quem tenho oprimido? ou da mão de quem tenho recebido peita para encobrir com ela os meus olhos? E eu vo-lo restituirei. Responderam eles: Em nada nos defraudaste, nem nos oprimiste, nem tomaste coisa alguma da mão de ninguém.(1Sm 12.3-4)
A colocação do dinheiro no altar da vida, ensina o apóstolo Paulo, produz dor (v. 10), porque é laço (v. 9)
É muito comum dizer-se que o dinheiro não é bom nem mal e que tudo depende do uso que fazemos dele. Podemos dizer que ele é apenas um instrumento de troca entre as pessoas. Em certo sentido, isto é verdade.
No entanto, quando olhamos para a história da humanidade e para nossas histórias individuais, percebemos que as coisas não são assim tão simples.
O dinheiro não é neutro. Há um mal intrínseco nele. E o mal é precisamente este: quanto mais o temos, mais o queremos, porque mais dependemos dele.
Como disse Foster, por trás do dinheiro, há forças espirituais invisíveis, forças estas que são sedutoras e enganosas, forças estas que exigem devoção. O dinheiro, portanto, exige lealdade, que só devemos a Deus.
Se é verdade que nossas vidas requerem dinheiro, também o é que o dinheiro requer nossas vidas. Eis algo que não podemos permitir: que o dinheiro requeira a nossa vida. Esta foi a advertência de Jesus para o chamado jovem rico.
É por isto que o Mestre nos alerta que ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. (Mt 6.24)
3. Devemos desfrutar do dinheiro com humildade e cuidado.
O dinheiro não nos faz diferentes do que somos, já que nada levaremos desta vida. Quando vamos ao cemitério, compreendemos esta verdade. Os familiares podem até fazer jazigos suntuosos, mas seu morto não diferente do morto da cova simples.
Neste texto, o apóstolo Paulo nos lembra que nossa prioridade deve ser a vida eterna (vv. 7, 11, 12), porque é grande fonte de lucro a piedade unida ao contentamento (v.6).
O contrário de humildade, em relação ao dinheiro, é cobiça. O contrário de cuidado, em relação ao dinheiro, é ingenuidade ou descuido.
A cobiça produz o desejo de se ter cada vez mais dinheiro. O resultado é a exaltação do ego e do luxo material, que provoca o desvio da fé e a eclosão de muitas dores.
A ingenuidade leva a afirmação de que o dinheiro não traz felicidade. Se não trouxesse, ninguém se matava e matava por ele. Vamos ser honestos: ter dinheiro é muito bom. É fantástico não ter preocupação com a duração do mês. É fantástico não precisar fazer canhoto de cheque. É ótimo não ter que fazer orçamento. É bom poder comprar o que nós ou nossos filhos querem.
A negativa destas realidades parece mais a fábula da raposa e das uvas verdes… Antes, devemos ter muito cuidado com o fato de que dinheiro é algo muito bom, especialmente quando o temos. O apóstolo nos recomenda fugir das facilidades que o dinheiro traz, facilidades que nos levam à injustiça, incredulidade, ódio, inconseqüência e ansiedade (v. 11). Nossa luta não pelo dinheiro que se gasta, mas pela vida eterna, que não enferruja (v. 12).
3. ALGUNS CONSELHOS PRÁTICOS
1. Devemos nos empenhar para ganhar dinheiro.
Nossos meios são a oração e o trabalho. Diante da falta de trabalho, devemos orar para que Deus reverta o quadro social e pessoal.
Neste nosso novo mundo, em que o trabalho tem outros contornos, não podemos ficar presos num emprego, que nenhum deles é garantido. Na medida do possível, devemos colocar nossos ovos em mais de uma cesta.
Devemos estar sempre nos qualificando para galgar outros postos no nosso emprego atual ou para mudar de emprego. Temos que estar constantemente estudando.
Os que não entraram ainda no mercado profissional não podem esquecer que, ruim sem estudo, péssimo sem ele. Tem gente achando que vai ganhar dinheiro como jogador, cantor, artista ou modelo. É possível, mas enquanto isto, estude, para evitar o que aconteceu com um adolescente amigo meu. Ele jogava muita bola, pelo menos ele achava, seus pais achavam, os irmãos da igreja e os amigos da cidade achavam. Seus pais apoiaram e fizeram de tudo. Ao mesmo tempo, pediam a ele que estudasse. O garoto achava que seria um craque e, para ser craque, para que diploma. Teve uma chance no Palmeiras. Treinou, treinou, treinou e voltou para a casa. Tentou vários outros times… pequenos. Hoje, sem estudo e já velho (25 anos), vive às custas dos pais hoje separados. Suas perspectivas são escassas porque apostou tudo no incerto. Se tinha talento, não lho foi reconhecido…
Precisamos estar atentos as oportunidades. Os adolescentes e os jovens precisam ler jornal, para saber para onde vai o emprego. É para la que você deve ir.
2. Devemos aprender a gastar nosso dinheiro.
Priorizemos nossas necessidades reais. Precisamos saber em que estamos gastando. Precisamos hierarquizar nossas necessidades. Uma roupa nova nunca é uma necessidade real, se podemos usar as que já temos. A ostentação é uma doença, não uma necessidade.
Prioritário é termos algum tipo de reserva. Nunca sabemos nossa necessidade financeira amanhã. A poupança, com suas baixas taxas em relação aos períodos de uma suculenta inflação, tem sido desestimulante, mas precisamos separar algum dinheiro a cada mês e aplicá-lo onde for seguro para o momento difícil.
Prioritário é termos um planejamento de nossas despesas, o que nos permitirá saber para onde foi o nosso dinheiro. Como é triste o mês e o dinheiro acabarem, e não sabermos onde foi o dinheiro. Nós o gastamos, mas não sabemos em que.
Há familias que fazem orçamentos e eles serão tão mais importantes quanto escassos são os recursos. Se der vontade de levar a família a um restaurante hoje e não estiver no orçamento, muitos podem espernear, mas o desejo ficará para depois…
Prioritário é ter um plano de saúde (pelo menos um de cobertura de despesas hospitalares), apesar dos golpes que esses planos sempre nos aplicam quando precisamos. Ruim com eles, péssimo sem eles. Recentemente passei por uma experiência duplamente dolorosa. Meu pai ficou, até conseguir transferi-lo (graças ao empenho de muitos irmãos da Igreja) para um hospital pública, num CTI privado. Por dois dias, eu e minha irmã tivemos que pagar 14 mil reais. Graças a Deus, nós tínhamos.
Prioritário é termos algum tipo de seguro de vida e um plano de assistência funeral. Essas coisas não são supérfluas. Devem vir à frente dos restaurantes. Não devemos ter a ilusão de que algum dia a previdência social vai nos suprir. Devemos lutar para estender seus direitos a nós e aos outros, mas precisamos cuidar de não ficarmos descobertos nas horas difíceis.
Prioritário, para quem está endividado, é saldar suas dívidas. É impossível ter saúde com as contas no vermelho. É muito difícil mandar a cabeça para o alto, com os credores nos cobrando. Faça o que for possível: até mesmo venda o que tiver. Comece tudo de novo. E, sobretudo, aprenda a não repetir o erro. Há pessoas que passam a vida inteira devendo, sem aprender nada do sofrimento da dívida.
3. Não podemos gastar mais do que ganhamos.
Um bom cuidado é escolher um membro da família para gerenciar as saídas. Deleguemos àquele que tem mais habilidade (pode ser um dos cônjuges ou mesmo um dos filhos) para guardar o cofre. Há maridos, por exemplo, que são uma lástima num supermercado, porque são mestres na arte de comprar coisas supérfluas ou não dizer “não” aos filhos. Se seu cônjuge é assim, proíba-o de colocar os pés num supermercado. Compre sozinho. É melhor sofrer um pouco do que torrar no caixa o que não tem.
Outro cuidado é não gastar por conta do que ainda vamos ganhar. Não podemos contar com o ovo antes de a galinha o tiver posto. Só gastemos o que já está efetivamente em nossas contas ou em nossas mãos. Conquanto isto seja quase impossível para a maioria de nós, o ideal é que o salário de um mês seja gasto no mês seguinte.
Quanto aos cartões de crédito, se não o temos, devemos avaliar se precisa ter. Todo dia tem alguém nos oferecendo um, com a sedução da gratuidade. Se temos, avaliemos se precisamos ter. Se precisamos, vejamos se apenas um não é suficiente. Não precisamos ter a carteira cheia deles. E quando o usarmos, só o usemos se for pagar dentro do mês.
Quanto ao cheque especial, tenhamo-lo só para as emergências, mas evitemos usá-lo. Entrar nele é fácil; sair dele beira o impossível.
4. Disponhamo-nos a sacrifícios temporários para conquistas maiores.
Há pessoas que querem tudo, mas não querem se sacrificar a nada. Se queremos comprar um automóvel, talvez tenhamos que apertar os cintos durante alguns meses, período no qual não haverá passeios, restaurantes, roupas novas, sobremesas e refrigerantes.
5. Sejamos generosos com o nosso dinheiro.
Sejamos generosos para com a causa de Deus no mundo por meio da Sua casa. Priorizemos contribuir para a igreja. Se não o fazemos, coloquemos isto com uma mente. Se este semestre, o gazofilácio da Igreja não viu a cor do nosso dinheiro, proponhamos em nosso coração comparecer perante ele todos os meses. Esqueçamos o passado. Contribuamos daqui para a frente, com prazer e honestidade.
Honra ao Senhor com os teus bens, e com as primícias de toda a tua renda; assim se encherão de fartura os teus celeiros e transbordarão de mosto os teus lagares. (Provérbios 3.9-10)
Se contribuímos para Deus por meio da Igreja, devemos vigiar o seu uso. Confiramos se a Igreja o está usando como um dinheiro de Deus.
Sejamos generosos para com os amigos e irmãos, dando-lhes presentes ou ajudando-os na hora da dificuldade.
Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? (1João 3.16-17)
Ao darmos presentes, não esperemos o troco, porque será ação sem valor. Presenteemos como forma de amar, não de comprar. Ao ajudar alguém, parente, amigo ou irmão em Cristo, não nos deixemos explorar, mas não permitamos que o medo de ser explorado nos torne miseráveis, porque aquele que pode fazer o bem e não o faz comete pecado.
CONCLUSÃO
[Como escreveu Wiersbe,] “‘é bom possuir as coisas que o dinheiro pode comprar, contanto que não percamos aquelas que o dinheiro não pode comprar”.