ORAÇÃO E DISCIPLINA (revisto)

Dediquem-se à oração, estejam alertas e sejam agradecidos.
(Colossenses 4.2).

Quando Daniel soube que o decreto tinha sido publicado, foi para casa, para o seu quarto, no andar de cima, onde as janelas davam para Jerusalém e ali fez o que costumava fazer: três vezes por dia ele se ajoelhava e orava, agradecendo ao seu Deus. Então aqueles homens foram investigar e encontraram Daniel orando, pedindo ajuda a Deus.
(Daniel 6.10-11)

De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando.
(Marcos 1.35)

Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração (Jeremias 29.12-13).

1. Jesus nos ensina a orar sempre, sem desanimar (Lucas 18.1), como Ele mesmo fazia. Antes de andar sobre o mar, Jesus orou uma noite inteira (Mateus 14.23). Antes de estar pronto para o Calvário, Jesus orou uma noite inteira (Mateus 26). Antes de chamar seus discípulos, Jesus orou uma noite inteira (Lucas 6.12).

2. Não ore apenas quando precisa pedir algo. Ore pelo desejo de comunhão com Deus. Ore porque ama a Deus.

3. Já sabemos tudo o que precisamos sobre o valor da oração. Por isto, oramos. (Por que?) Aleluia. Já sabemos tudo o que precisamos sobre o valor da oração. Apesar disto, oramos pouco ou muito pouco. (Por que?) Perdão, Senhor.

4. Uma vida marcada pela oração é uma vida de renúncia ao poder esperado da oração e ao prazer que não venha da companhia de Deus. A renúncia nasce na decisão, desenvolve-se na perseverança, cresce na disciplina (fazer o que, por vezes, não queremos, para alcançar o que precisamos).

5. Disciplina na oração tem a ver com disciplina na vida. Ninguém vence na vida sem disciplina. Ninguém vence na vida de oração sem disciplina.

6. Disciplina na oração tem a ver com prazer. Se oramos pouco, é porque não temos prazer em orar. Se temos prazer nela, buscamos nos disciplinar para orar mais.

7. Sem disciplina, não oramos. Sem oração, começamos nossa vida na dependência de Deus e podemos terminá-la na dependência de nós mesmos.

8. Não dá para pôr sem tirar. Não dá para pôr o nosso coração diante de Deus sem tirar parte do nosso tempo e do nosso prazer de outras atividades que nos comprimem. Em oração, menos é mais. Menos televisão, por exemplo, é mais oração. Menos sono, por exemplo, é mais oração. Menos isto é mais oração. Menos aquilo é mais oração.

9. O reavivamento espiritual começa na intensidade, mas se desenvolve na regularidade. A intensidade na oração produz projetos, mas é a regularidade que permite realizá-los. A intensidade nos extasia, mas a regularidade nos amadurece.

10. Teremos tempo para orar, quando soubermos, na prática, quem é o Dono do nosso tempo. Se o nosso tempo também estiver no altar, viveremos no altar.

1l. Escolhemos um estilo de vida e depois o condenamos, como se não o tivéssemos escolhido.

12. A rotina, quando ainda não é rotina, é sacrifício. A rotina, quando se torna uma rotina, é liberdade. A rotina, quando fica vazia, é aridez. A rotina, quando cínica, nos torna frívolos. A rotina não é para matar. É para permitir mais vida.

13. A rotina corta o caminho do retrabalho. Há muito tempo desperdiçado (logo irrecuperável) no retrabalho, que consiste em refazer o que foi deixado pela metade (uma meia deixada no chão, uma leitura inacabada, um compromisso deixado de lado, uma intercessão não encaminhada).

14. Disciplina tem a ver com hábitos. Precisamos investir na sua formação. Hábitos bons se desenvolvem com muitos esforços. Há, portanto, passos para serem dados por quem deseja ser uma pessoa de oração:

a) Responda, com honestidade, para você mesmo, à seguinte pergunta: "quero mesmo ser uma pessoa de oração?" Esta é uma decisão a ser tomada.

b) Deseje ser uma pessoa de oração, na quantidade (no tempo) e na qualidade (no conteúdo: magnificação, gratidão, confissão, atenção), em função do prazer que dá conhecer mais e melhor a Deus, não em função do que Ele pode dar. Se oração é apenas um momento em que uma lista de pedidos é lida, ela jamais será parte de uma vida.

c) Reconheça a sua dificuldade em consagrar tempo para a oração e peça a Deus para lhe moldar nesta área, básica para as demais. Conheça a você mesmo.
Conheça seu corpo (para ver qual o melhor horário e qual a melhor posição para orar).
Conheça sua mente (para ver o que lhe concentra ou dispersa).
Conheça as sugestões e experiências de outras pessoas. Para tanto, leia livros sobre oração, como, entre muitos outros: 1. "Celebração da disciplina" (editora Vida) e 2. "Oração: o refúgio da alma" (editora Abba Press), ambos de Richard Foster; 3. "O caminho do coração", de Ricardo Barbosa de Souza (editora Movimento Encontrão); 4. "Se meu povo orar", de Israel Belo de Azevedo (editora MK); 5. "Conversa da alma", de Larry Crabb (editora Mundo Cristão).

d) Elabore uma lista do que você pode deixar de fazer para ter mais tempo para o que realmente importa.

e) Faça uma agenda diária, que pode soar no início como uma auto-violência, mas depois será internalizada.

f) Firme um compromisso, que seja mensurável. (É vago dizer: "vou orar mais". É preciso dizer: "vou orar TANTOS minutos por dia".)

g) Comece com pouco. (Não queira pular de 5 minutos para 90 minutos diários.) Quem começa com pouco sabe onde está. Estabeleça metas claras, difíceis mas alcançáveis.

h) Crie mecanismos facilitadores à prática da oração. Eis algumas sugestões: comprometa-se com companheiros (duplas/trios/grupos) de oração; firme compromissos por escrito com você mesmo; se for o caso, faça compromissos públicos; escolhas horários possíveis (não insista em preferir a madrugada, porque este não é um horário "natural; crie (em casa ou fora dela) espaços convidativos; preencha agendas ou diários de oração; ore em voz alta, para dispersar a dispersão, se precisar.

j) Procure tornar a hora da oração em algo agradável (como a criação de um ambiente propício, posição confortável do corpo, audição de músicas de preparação, leitura intercalada de trechos da Bíblia).

l) Avalie a sua caminhada. Agradeça o que já alcançou, mesmo que tímido. Recomece, se for necessário, tantas vezes forem necessárias.

m) Ore com a Bíblia, tendo em mente homens e mulheres de oração da história do povo de Deus. Ore a Bíblia, lendo/repetindo/memorizando textos que nos ensinam a saborear a presença de Deus..

15. Deseje orar. Deseje ser alguém cujo desejo seja modelado pela oração, cujo pensamento seja nutrido pela oração, cujos atitudes sejam mediadas pela oração, em voz alta, em voz baixa, em voz alta e voz baixa, sem voz alguma. Marque na Sua Bíblia, como esses textos:

a) "Antes de terminar de orar em meu coração, surgiu Rebeca, com o cântaro ao ombro. Dirigiu-se à fonte e tirou água, e eu [Isaque] lhe disse: `Por favor, dê-me de beber'" (Gênesis 24.45). Ao ler este texto, vem à mente a experiência de Daniel, que teve sua oração respondida no início da sua oração, recebendo a resposta ainda durante a oração (Daniel 9.21).

b) "De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração e aguardo com esperança. Tu não és um Deus que tenha prazer na injustiça; contigo o mal não pode habitar" (Salmo 5.3-4). Na Bíblia, a espera dura uma noite, mas a esperança se alegra na manhã (Salmo 30.5).

c) "Conceda-me o Senhor o seu fiel amor de dia; de noite esteja comigo a sua canção. É a minha oração ao Deus que me dá vida" (Salmo 42.8). Como esstá em outro salmo, o amor de Deus é melhor do que a vida (Salmo 63.3)

d) "Mas eu, Senhor, no tempo oportuno, elevo a ti minha oração; responde-me, por teu grande amor, o Deus, com a tua salvação infalível!" (Salmo 69.13). A resposta de Deus decorre do seu amor, não de nosso merecimento.

e) "Seja a minha oração como incenso diante de ti, e o levantar das minhas mãos, como a oferta da tarde" (Salmo 141.2). Orar precisa ser uma experiência de prazer.

f) "E tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão" (Mateus 21.22). Eis a promessa difícil de ser entendida. Sempre recebemos o que precisamos, que nem sempre coincide com o que queremos. Dar-nos o que precisamos e não o que queremos é mais uma manifestação da graça de Deus.

g) "Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração" (Romanos 12.12). Esta é a rota da esperança.

h) "Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos" (Efésios 6.18). Quando oramos, penetramos no andar superior do Espírito Santo. Quando não oramos, ficamos no chão.

i) "Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus" (Filipenses 4.6-7). A ansiedade tem a ver com retenção; oração tem a ver com entrega.

j) "E da mão do anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos. Então o anjo pegou o incensário, encheu-o com fogo do altar e lançou-o sobre a terra; e houve trovões, vozes, relâmpagos e um terremoto" (Apocalipse 8.4-5). Pela imaginação (como aprendemos com Eugene Peterson, em "Trovão inverso" [editora Habacuc], vemos nossa oração chegando aos céus e voltando com as ações de Deus (trovões, vozes, relâmpagos, terremotos). Nossas orações, portanto, diz-nos a fé capaz de imaginar, não caem no vazio (nem que seja no vazio do céu); recolhidas no céu, voltam à terra cheias da irresistível vontade de Deus.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO