PARA LER O LIVRO DE ECLESIASTES (José Mauricio Cunha do Amaral)


Total de capítulos: 12
Total de versículos: 222 
Tempo aproximado de leitura: 35 minutos     
 
O LIVRO
 
O livro é chamado em hebraico “Koheleth”, um título tirado de sua sentença inicial, “Palavras de Koheleth, o filho de Davi, rei de Jerusalém”. Na versões no grego e no latim, é chamado Eclesiastes. Jerônimo tenta explicar, dizendo que no grego chama-se assim uma pessoa que reúne a congregação ou ecclésia. Símaco dá um título que, provavelmente, é melhor traduzido como “Vendedor de Provérbios”. Já Martinho Lutero dá abertamente o nome de “O Pregador, Salomão”. As versões atuais intitulam-no “Eclesiastes” ou “O Pregador”. 
 
AUTOR E DATA
 
Embora o livro seja vinculado a Salomão, permanece enigmática a questão de sua autoria. Uma pergunta que se tem feito é: Salomão escreveu o livro de Eclesiastes ou o autor se fez representante do rei de Israel que foi o resumo dessa sabedoria? Muitos comentaristas consideram o livro produto do trabalho de dois, três, ou até mais escritores. Também não é possível se estabelecer a data de sua autoria. Quem quer que tenha sido o autor, utilizou-se de trechos clássicos de outros livros do Antigo Testamento. Sendo um tratado profundo, esse livro foi classificado juntamente com Jó e Provérbios, como literatura de sabedoria dos judeus. 
 
TEMA E MENSAGEM
 
O livro de Eclesiastes expõe uma expressão das venturas e fracassos do homem. É possível que o autor não apresente uma filosofia sistemática, como o fizeram Aristóteles, Spinoza, Hegel ou Kant, mas ele procede a um cuidadoso exame, com base em observações e experiências, e então extrai suas próprias conclusões. À medida que o autor olha em torno de si mesmo e examina os empreendimentos humanos, vê o homem numa corrida desenfreada atrás de uma coisa após outra – labutando como se conseguisse dominar o mundo, desvendar seus segredos, mudar suas estruturas fundamentais, romper grilhões das limitações humanas e ser senhor do seu destino. Vê o homem correndo, inutilmente, atrás das esperanças e das expectativas, o que na realidade é “inútil, correr atrás do vento” (1.14).
 
 
ESBOÇO DO LIVRO
 
 I.Título (1.1-11)
      Declaração do tema do propósito (1.1-3)
Ciclo contínuo da vida e dos acontecimentos (1.4-11)
II.Uma exame sobre as coisas temporais  (1.12 – 3.22)
A sabedoria como alvo da vida (1.12-18)
O prazer como objetivo (2.1-11)
O paradoxo da sabedoria (2.12-23)
A sabedoria de Deus e o propósito da criação (2.24 – 3.15)
Responsabilidade do homem perante Deus (3.16-22) 
III.Análise da relação econômica do homem (4.1 – 7.29)
A vida dos oprimidos é vã (4.1-16)
Vaidade da religião e das riquezas (5.1-17)
A capacidade de desfrutar é dada por Deus (5.18 – 6.12)
Temperança prática em tudo (7.1-19)
O homem caiu do seu estado original (7.20-29)
IV.Limitações da sabedoria humana(8.1 –12.14)
A análise do homem se limita a esta vida (8.1-17)
A vida existe para aprazimento do homem (9.1-12)
A sabedoria é prática e benéfica (9.13 – 10.20)
Conselho aos jovens (11.1 – 12.7)
Conclusão – o temor de Deus (12.8-14) 
 
O TEXTO MAIS DIFÍCIL
 
Gostaria de destacar dois versículos: “Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol” (Eclesiastes 9.7,9). A princípio, podem nos parecer levianas as palavras do Pregador. Será que a vida se resume somente em deleites? Nas palavras do sábio, aparentemente, sim. Entretanto, creio, não ser essa sua intenção. Devemos atentar que a vida terrena é “como neblina que aparece por instantes e logo se dissipa (cf. Tiago 4.14), logo, não devemos desprezar  os momentos felizes que a vida nos proporciona. Como afirmou Zuch, “os mistérios mais desconcertantes da morte não deveriam impedir ninguém de gozar a vida com constante  senso de favor divino”. De fato, a vida é composta de momentos alegres e tristes, mas as frustrações e desapontamentos, não devem ser motivo para deixarmos de desfrutar os momentos de prazer que ela nos proporciona.     
 
O TEXTO QUE MAIS TOCOU O MEU CORAÇÃO
 
Para mim, e quem sabe para você, esse seja, talvez, o texto que mais nos sensibiliza: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma” (Eclesiastes 9.10). Toda vez que me deparo com esse texto, dois sentimentos me vêm à mente: dedicação e responsabilidade. O sábio nos diz que na Eternidade para onde iremos, será desnecessário qualquer esforço pessoal, uma vez que  já estaremos na dimensão do Eterno, isto é, com  Deus para sempre. Por isso mesmo, tudo o que fizermos aqui neste mundo, deve ser da melhor maneira possível. Deus não nos pede que façamos nada além da nossa capacidade, o seu desejo, é que façamos o melhor que pudermos com os recursos que Ele mesmo colocou em nossas mãos.   
 
CONCLUSÃO
 
As palavras finais do Pregador apontam para algumas direções. Ele nos fala, por exemplo, das perplexidades e das frustrações de se viver a vida numa perspectiva puramente terrena. Mas a mensagem principal do livro, creio eu, pode ser resumida na seguinte expressão: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos, porque este é o dever de todo o homem” (Eclesiastes 12.13). Embora o temor do Senhor tenha sido mencionado diversas vezes ao longo do livro esta é a primeira vez em que ele aparece em forma de mandamento: “…porque este é o dever de todo o homem”. Ele encerra o seu livro afirmando que indubitavelmente nada escapa ao controle de Deus, ao contrário, ele trará a juízo todas as coisas que realizamos na vida, sejam elas boas ou más (v.14).
 
 
Referências bibliográficas:
 
Bíblia de Estudo NVI / organizador geral Kenneth Backer; co-orgnizadores Donald Burking… [et. Al]. – São Paulo: Editora Vida, 2003.
 
Comentário Bíblico Africano / editor geral Tokunboh Adeyemo. – São Paulo: Mundo Cristão, 2010.
 
Francisco, Clyde T. Introdução ao Velho Testamento. Tradução Antonio Neves de Mesquita. 1a. Edição. Rio de Janeiro: JUERP, 1969.
 
Schultz, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. Tradução João Marques Bentes. São Paulo: Edições Vida Nova, 1970.

UM POEMA
Eclesiastes 11

Lançar o meu pão sobre as águas ignotas
para ser tomado pelo bico das gaivotas?
Lançar o meu pсo sobre as águas revoltas
onde serсo apenas minúsculas migalhas soltas?
Lançar o meu pão sobre as águas imundas
de onde baixarão para as trevas profundas?
Lançar o meu pão sobre as águas imensas
que o conduzirão para distâncias densas?
Nada sei sobre o destino das águas
porque não sei como as ondas se formam
como não sei onde os ventos se reformam
como não sei o que as nuvens portam
como não sei porque as trevas assim se comportam.

Sei que vou recolher o meu pão lançado
mesmo que pelas gaivotas bicado,
mesmo que pelas pedras esmigalhado,
mesmo que pelo óleo manchado,
mesmo que da viagem cansado,
porque confio na Palavra plena de Deus
que me manda meu pão sobre as águas lançar,
eis que Seus projetos são melhores que os meus,
pelo que Sua sabedoria quero tão somente alcançar.