Está chegando a estação do Natal, que não é uma perícope de semanas no calendário, nem um tempo em que a natureza seja diferente dos demais tempos.
A despeito disto, nenhum de nós pode deixar de reconhecer que o Natal é um tempo diferente.
Li, num teólogo (Karl Barth), que o Natal (para ficar bem claro: o nascimento de Jesus) trouxe transformações até para a natureza. Como a morte de Jesus foi seguida de movimentos bruscos na terra, o seu nascimento trouxe movimentos suaves (imperceptíveis?) na natureza.
Concordo e vou mais além: o Natal traz movimentos bruscos e suaves nos nossos tecidos sociais e pessoais.
Quanto ao movimento no tecido social, fica tudo evidente, com as cores trocadas, com as luzes levantadas, com os os passos dados, com os sonhos ressonhados, com os presentes trançados. Quem crê e quem não crê se agita por essa época porque todos se agitam nesta época.
Sobre o que acontece nos nossos tecidos mais íntimos ainda não se escreveu.
Nessa época, os tristes ficam alegres; os alegres ficam tristes.
Os tristes olham para os passos velozes dos outros e se contorcem com os seus: lentos, pesados. A obrigação da alegria traz um sentimento imenso de solidão. O compromisso de colocar um objeto de alusão na porta ou na janela ou na árvore, muitas vezes por exigência da(s) criança(s) da casa, traz uma pergunta: por que não me alegro em fazer isto? Ao mesmo tempo, o desejo de alegria vai vencendo a tristeza e vão nascendo novos movimentos de festa, como uma contagiante “hola” dos estádios de futebol.
Os alegres também se perguntam: como posso me alegrar se é tanta a tristeza que grassa? Também gritam: quero mais que a alegria de uma festa com data marcada. Quero vida abundante de janeiro a novembro.
Olhando para o calendário, chegando o Natal, acho que entendi o que Jesus disse que veio trazer a espada.
Mesmo que não saibamos, o Natal penetra a natureza, a cultura e a alma.
O Natal divide: diante do fato de Jesus, a natureza e a cultura foram transformadas por Ele. Quanto à natureza, cabe-nos contemplar. Quanto à cultura, cabe-nos influenciar. Quanto a alma, cabe festejar Jesus.
Sim, o nascimento de Jesus mexe com a gente de um modo que a gente não se dá conta.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO