Quero ouvir aquela história que expõe João Batista atuando em seu ministério, mas sabendo que estava apenas abrindo alas, daquele seu jeito estranho, para o Mestre que viria. Como ele, também não sou digno de chegar aos pés do Senhor, mas ele me chama.
Quero ouvir aquela história que desenha Maria recebendo a visita de um anjo para lhe anunciar que ficaria grávida do Salvador. Meu interesse é pelos diálogos travados. Anjo é de outra atmosfera mas fala a nossa linguagem: para que possa cumprir sua missão, tem de ser entendido. Quero ser anjo: com uma palavra do céu, que meus ouvintes entendem.
Quero ouvir aquela história que conta o encontro de Isabel e Maria, cada uma traçando durante três meses planos para o seu bebê, enquanto preparava suas roupinhas.
Quero ouvir aquela história que registra o cântico de Maria, que algum autor transformou em poema ainda no tempo apostólico e que vários compositores transformaram em música, muitos séculos depois.
Quero ouvir a história de José conduzindo sua esposa por entre as estradas até Belém para participarem do Censo geral da população. (Maria, grávida, naquele jumento, devia reclamar desde a manhã à noite, com toda a razão, César Augusto.)
Quero ouvir a história dos magos extasiados com a luz e com a voz dos anjos em coro anunciando que entrariam para a história de salvação do mundo.(Não bastava o Natal acontecer numa estrebaria? Os primeiros visitantes tinham que ser assim tão pobres?)
Quero ouvir a história dos pastores pesquisando o céu, percorrendo a poeira do chão, até encontrarem a casa onde o bebê Jesus ensaiava os primeiros passos. Adulto ainda me pergunto, como fazia em criança, o que é mesmo a mirra, no pacote com o ouro e com o incenso.
Natal é também fermento para a imaginação.
Ora, dirão, as histórias são as mesmas.
Sim, direi, eu também sou o mesmo.
Delas eu tiro ternura.
Com elas aprendo o quanto sou amado.
Nunca me cansarei de saber que sou amado.
Quero ouvir todas as histórias que me dizem que sou amado pelo Senhor.
Israel Belo de Azevedo