“Crer em Deus não é pressupor que Ele vá intervir”.
(MANNING, Brennan. Confiança cega. São Paulo: Mundo Cristão, 2009, p. 125.)
Comecemos por ler e entender cada um destes seis versos.
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações.
Pois assim como os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós, também por meio de Cristo transborda a nossa consolação.
Se somos atribulados, é para consolação e salvação de vocês; se somos consolados, é para consolação de vocês, a qual lhes dá paciência para suportarem os mesmos sofrimentos que nós estamos padecendo.
E a nossa esperança em relação a vocês está firme, porque sabemos que, da mesma forma como vocês participam dos nossos sofrimentos, participam também da nossa consolação.
Irmãos, não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na província da Ásia, as quais foram muito além da nossa capacidade de suportar, ao ponto de perdermos a esperança da própria vida.
De fato, já tínhamos sobre nós a sentença de morte, para que não confiássemos em nós mesmos, mas em Deus, que ressuscita os mortos.
Ele nos livrou e continuará nos livrando de tal perigo de morte. Nele temos colocado a nossa esperança de que continuará a livrar-nos, enquanto vocês nos ajudam com as suas orações. Assim muitos darão graças por nossa causa, pelo favor a nós concedido em resposta às orações de muitos”.
(2Coríntios 1.3-11)
BREVE EXPOSIÇÃO
1. Paulo (verso 3) bendiz (fala bem de Deus, diz palavras de alegria diante de Deus, por reconhecer quem Ele é) ao Senhor, chamando-o de pai, pai das misericórdias, e Deus das consolações.
2. Paulo (verso 4) não se detém em explicar a origem da tribulação. Ele parte do fato de elas nos vêm, como vieram a ele. Quando ele diz “se somos atribulados”, o “se” paulino significa mais “quando”.
3. Paulo (verso 5) garante que a consolação vem dos sofrimentos de Cristo, isto é, vem da cruz de Cristo. A graça desce da cruz para nos alcançar.
4. Paulo (verso 6) mostra a finalidade que podemos dar às tribulações. Elas podem nos afundar em tristeza e desânimo, mas podem nos fortalecer. Sua experiência foi que o seu sofrimento foi usado para abençoar os coríntios, inclusive com esta saudação: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação” (verso 3).
5. Paulo (verso 7) oferece a contraparte humana na tarefa da consolação. Ao ser atribulado e consolado, aprendeu a consolar. Sua esperança é que seus leitores (os coríntios e nós) aprenderiam com os sofrimentos do apóstolo e com os seus próprios e, aprendendo, se tornariam consoladores, como ele se tornou.
6. Paulo (verso 8) salienta que as tribulações vêm para todos. Paulo, em que pese sua autoridade como apóstolo, não ficou imune às tribulações. Ele não as especifica. Não sabemos quais foram as suas tribulações, mas elas foram pesadas. Suas tribulações, ocorridas na província da Ásia (que não tem nada a ver com o continente asiático, mas com uma região da Europa, na Turquia moderna), podem ter sido diretamente pessoais (perigo de morte) ou para o seu ministério (ameaça à pregação). É mais provável que tenha sido um risco para a sua própria vida (verso 9). As tribulação foram tão fortes que Paulo e seus colaboradores acharam que iriam morrer. Paulo reaprendeu o que já ensinara na primeira carta: “Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo lhes providenciará um escape, para que o possam suportar” (1Coríntios 10.13). O sufoco foi imenso, mas o socorreu chegou. Deus providenciou o escape.
7. Paulo (verso 9) não pressupõe que suas tribulações foram enviadas por Deus, mas foram transformadas por Deus, que faz todas as coisas convergirem para o bem (Romanos 8.28). A experiência da sentença de morte mostrou que Ele precisava de Deus, já que não podia mesmo confiar em si mesmo. Seus recursos próprios não serviram. Ainda bem que Deus interveio.
8. Paulo (versos 10-11) espera que os seus pastoreados orem por ele (e também por sua equipe), para que Deus continue a livra-los.
CLARAS LIÇÕES
Desta perícope, logo brilham diante de nos os seguintes elementos.
1. Paulo menciona a consolação antes da tribulação. Sim, a promessa da consolação vem antes do fato da tribulação. Podemos dormir tranqüilos. Se amanhã, formos atribulados, a consolação já nos estará esperando para entrar em ação. Está no estoque da graça, esperando a ordem para vir para luz.
Em outro lugar desta carta, Paulo diz que Deus “consola os abatidos”, como ele mesmo experimentou (2Coríntios 7.6). Diz ele também que esta consolação é eterna (2Tessalonicenses 2.16), como tudo que vem de Deus, podemos acrescentar.
Lembremos que Deus nos consola em TODAS as tribulações (verso 4), não importa sua origem, não importa a responsabilidade por ela. Até mesmo diante das tribulações que nós provocamos com os nossos pecados, Deus nos traz consolo. Sim, Ele nos fortalece.
Também nos lembremos que, no caso do pecado, a consolação não nos exime das suas consequências. Imaginemos uma pessoa que cometeu um crime. Ela vai presa e, na cadeia, Deus a consola. Deus é também um Deus justo.
Igualmente devemos tomar cuidado com os autoconsolos, aqueles que nós criamos e atribuímos a Deus. Em 2011, um jovem, num carro possante, possivelmente em altíssima velocidade, colheu outro carro menos possante, com tanta força que os dois carros ficaram destruídos e a motorista morta instantaneamente. Numa entrevista, o jovem praticou a seguinte frase:
“A mensagem que eu gostaria de passar é que tudo tem um porquê. A gente tem que aceitar. Aconteceu um acidente, ela faleceu, com certeza isso estava nos planos de Deus.” (Entrevista l>. Acessado em 29.7.2011).
Sim, o acidente teve um porquê: irresponsabilidade humana. Não dá para aceitar irresponsabilidade humana. Não dá para aceitar atribuir-se aos “planos de Deus” a morte de uma jovem por irresponsabilidade humana, jamais divina. Devemos tomar cuidado com este tipo de autoconsolação, porque é falsa. Nós não nos autoconsolamos. Nós somos consolados por Deus.
Precisamos confiar.
Confiar em Deus é um exercício de fé. A Bíblia diz que Deus nos consola? Confiemos.
Confiar em Deus é um exercício de aprendizagem. Confiar é contra a nossa natureza. É a favor da nossa natureza confiar em nós mesmos.
Confiar em Deus é um exercício de entrega. A entrega é uma admissão de incompetência. Por isto, resistimos em entregar. Preferimos quebrar a cabeça até o fim. Entregar é renunciar ao controle. Queremos confiar em Deus e, ao mesmo tempo, manter o controle das coisas. Quando estamos no controle, não temos como orar. Orar é entregar. Não dá para conjugar os verbos controlar e orar ao mesmo tempo.
É por isto que confiar em Deus é um exercício de aprendizagem. Aprendemos nas Sagradas Escrituras o que devemos fazer, pelo que um bom exercício de aprendizagem é memorizar versículos sobre confiança em Deus, como estes 10:
1. “Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá”. (Salmo 37.5)
2. “Os que conhecem o teu nome confiam em ti, pois tu, Senhor, jamais abandonas os que te buscam. (Salmo 9.10)
3. Alguns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós confiamos no nome do Senhor, o nosso Deus”. (Salmo 20.7)
4. Em ti os nossos antepassados puseram a sua confiança; confiaram, e os livraste. Clamaram a ti, e foram libertos; em ti confiaram, e não se decepcionaram”. (Salmo 22.4-5)
5. O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, e dele recebo ajuda. Meu coração exulta de alegria, e com o meu cântico lhe darei graças”. (Salmo 28.7)
6. “Confie nele em todos os momentos, ó povo; derrame diante dele o coração, pois ele é o nosso refúgio”. (Salmo 62.8)
7. “Pois tu és a minha esperança, ó Soberano Senhor, em ti está a minha confiança desde a juventude”. (Salmo 71.5)
8. “Ó Senhor dos Exércitos, como é feliz aquele que em ti confia!” (Salmo 84.12)
9. “Vocês que temem o Senhor, confiem no Senhor! Ele é o seu socorro e o seu escudo”. (Salmo 115.11)
10. “Os que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não se pode abalar, mas permanece para sempre”. (Salmo 125.1)
Sobretudo, confiar em Deus é um exercício de fé. “Fé” não é uma palavra fácil. A Bíblia não define o que é fé, que tem várias dimensões. Uma delas está contemplada em Hebreus 11.1 (“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”). Por isto, precisamos de adjetivos para a fé. A mencionada em Hebreus é a fé-visão, aquela que nos faz ver o que Deus faz por nós, mas a fé é mais que uma visão.
Quando o apóstolo Paulo afirma que o justo vive pela fé (Romanos 1.17), ele reelabora Habacuque (Habacuque 2.4), para dizer que somos justificados pela fé em Cristo como Salvador, que perdoou os nossos pecados cruz. Esta é a fé salvadora.
Há também a fé-confiança. E é desta fé que precisamos para a consolação. Um salmista cantou esta fé-confiança assim:
. “Mas eu, quando estiver com medo, confiarei em ti”. (Salmo 56.3)
Ela, no entanto, é sintetizada na fé como no registro deixado por João:
. “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a vontade de Deus, ele nos ouvirá”. (1João 5.14)
Esta é confiança de que precisamos, a fé que Jesus falando e acredita: “todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta”. (Mateus 7.8)
Este é o exercício, proposto por Jesus Cristo:
. “O que vocês pedirem em meu nome, eu farei”. (João 14.14)
Precisamos exercitar a fé-confiança, que bem poderia ser chamada de cega. E ela é cega porque baseada na graça. “O ato de confiar com base na graça é a grande decisão da vida. Sem ele, nada tem valor, e dele deriva o significado definitivo de todos os relacionamentos e conquistas, de cada sucesso ou fracasso. Uma confiança sem limites no amor misericordioso de Deus desfere um golpe mortal contra o ceticismo, contra o cinismo, contra a autocondenação e contra o desespero. É o nosso ato de obediência às ordens de Cristo: ‘Creiam em Deus; creiam também em mim'”. (MANNING, Brennan. Confiança cega. São Paulo: Mundo Cristão, 2009, p. 21.)
2. Ficamos um pouco assustados quando lemos Paulo escrever (verso 8) que os seus sofrimentos foram tão agudos que chegou a perder a esperança. Ouso dizer que os sofrimentos foram tão grandes que representaram uma tentação para Paulo perder a esperança.
Quantos já não passamos por esta experiência, na qual não experimentamos consolo algum, tal a aflição, achando que não haverá mais solução. Pode ser com a gente mesma. Pode ser com alguém de nossa família, o que é pior. Quantos pais não tiveram seus filhos em enfermidade, seja uma bronquite dificílima, seja uma depressão longuíssima. Como é triste olhar para eles e não poder fazer nada. Paulo, no entanto, viu que Deus providenciou o escape e ele estava ali para escrever aos coríntios. Olhamos de frente para trás e então notamos que Deus estava agindo.
3. O apóstolo Paulo repete a palavra consolar/consolação nove vezes. As traduções podem preferir sinônimos (como confortar, que quer dizer “tornar forte” ou “ser forte junto”), mas no original grego ele usa uma só palavra em suas forma substantiva (consolação) e verbal (consolar, que significa “tornar sólido”, “fazer firme”). Dono de um rico vocabulário, Paulo se repete de propósito. É como se dissesse: não esqueçam a palavra-chave: consolação.
Esta palavra forma um par oposto com tribulação, para a qual vem a consolação. Tribulação aparece quatro vezes, mas ela comporta um sinônimo (sofrimento), que aparece quatro vezes. Consolação aparece mais vezes que tribulação e sofrimento juntos. E isto também indica
Não por acaso, a palavra consolação (“parakletos”) é a mesma que Jesus Cristo usa quando nos promete o Espírito Santo, a quem chama de consolador (“parakleton”), fortalecedor (cf. João 14.16, João 16.7).
4. Há um movimento no processo de consolar.
Primeiro, como já observamos, há uma promessa de que seremos consolados, como nas bem-aventuranças de Jesus (“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados” — Mateus 5.4).
Depois, vem a tribulação, que faz parte da vida. Durante os X-Games de 2011, campeonato mundial de esportes radicais (realizados no mês de julhoLos Angeles, em julho), toda vez que um competir cai, um comentarista dizia ad nauseam o bordão: “só cai quem anda”. Ninguém vive numa bolha.
A jornalista carioca Eliane Brum escreveu um texto de grande valor sobre a idéia de uma vida em que não há tribulações. Anotou ela, com sabedoria:
“Percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. (…) Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
(…) Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração, um fracasso” (BRUM, Eliane. Uma moratória contra o uso do álcool. )
Ah, mas a pressão é forte.
As tribulações assumem formas distintas.
Antes delas, no entanto, temos promessas de consolação. Depois, vêm as pressões.
Em seguida, vem a consolação. Saímos consolados (mais sólidos, mais fortes). Saímos confortados (mais fortalecidos).
Então, nos dispomos a compartilhar nossas experiências e consolar outras pessoas.
Compartilhar experiências de consolação tem a ver com o que o fazemos com as nossas dores.
Paulo nos aconselha a nos deixar consolar (fortalecer) e a nos pôr em ação para consolar (fortalecer os outros).
Bom seria que não sofrêssemos. Sofremos? Então, usemos nossa experiência para abençoar outras pessoas.
PARA QUE SEJAMOS CONSOLADORES
Sabemos que Deus age como quer e pode consolar sem a nossa participação. Ele pode soprar diretamente sua palavra de consolação no ouvido atribulado. No entanto, o método preferido de Deus é a palavra dEle proferida a uma pessoa por outra pessoa, que fale a mesma língua e que, preferentemente, sinta a dor desta pessoa.
1. Para sermos consoladores, precisamos estar firmados em Deus e não nas pessoas. Consolar traz suas próprias dores, seja a dor do envolvimento, seja a dor da ingratidão. Aprendamos com Paulo, sobretudo no modo como começa seu ensino: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações”. Paulo estava firme em Deus, ao ponto de bendizê-lo, quando recordou uma dolorosa experiência em sua vida.
2. Para sermos consoladores, precisamos refletir sobre nossas experiências.
O sofrimento nos educa, desde que reflitamos sobre eles. Refletir não quer dizer necessariamente encontrar uma resposta racional para a dor, mas dar a ela um sentido para as nossas vidas. Eu, por exemplo, não sei porque experimentei um câncer, que Deus não me enviou, embora o tenha permitido. Meu exercício é o que fazer com aquela experiência, para mim mesmo e para as pessoas com quem convivo.
Todos nós devemos tomar cuidado com nossas próprias experiências, porque elas não são normativas. Em outras palavras, as dores dos outros não podem ser comparadas com as nossas. As nossas reações não podem ser comparadas com as dos outros. Dor não se compara. Dor não se transfere. Nossas histórias são diferentes.
3. Para sermos consoladores, precisamos dizer palavras que venham de Deus e não de nós mesmos.
Quando chegava ao final do preparo desta mensagem, recebo uma correspondência vinda de uma remetente que se disse com o coração sangrando por causa de um acidente que matou duas pessoas. Viajavam dois casais de namorados num carro, conduzido por um dos rapazes. As duas moças morreram.
Uma das explicações foi que, no dia do acidente, Deus tinha marcado um encontro com a jovem. Outra foi que os rapazes foram poupados porque Deus tinha um plano nas vidas deles.
A pessoa que me escreveu pergunta: “E quanto às meninas, não existia plano?”
Responder a este desabafo é um enorme desafio. Não é resposta que possa ser dada sem oração. Não é resposta que nasça apenas do nosso coração. Precisamos conhecer a Palavra de Deus e responder com esta Palavra.
Quando Jesus estava diante de uma experiência de dor, ele se envolvia e seu envolvimento não incluía a explicação. A Bíblia não explica o sofrimento. Devemos ser cuidadosos com nossas explicações, muitas vezes simplistas e muitas vezes trazendo mais culpa aos que já sofrem. Devemos ter a humildade de dizer que não sabemos porque a tragédia aconteceu e deixar as pessoas chorarem, chorando juntos, se for o caso.
Quando Jesus sentiu sua própria dor, Ele sofreu, experimentando inclusive a solidão. Até nisto Ele é nosso mestre. Ao seu lado, muitos tentaram explicar sua morte. E explicaram, embora não entendessem absolutamente nada. Bem teriam feito se se calassem.
A única explicação para a dor é a solidariedade, manifestada no silêncio e também na palavra, no gesto direito e também no gesto indireto (numa forma discreta de presença).
E quando formos falar, se for necessário, venham as nossas palavras da Palavra de Deus, como esta de Paulo na abertura da segunda carta aos Coríntios ou na segunda aos Tessalonicenses, quando o apóstolo nos abençoa assim: “Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça, consolem o vosso coração e vos confirmem em toda boa obra e boa palavra” (2Tessalonicenses 2.16-17).
4. Para sermos consoladores, precisamos orar pelas pessoas a quem queremos abençoar.
Em meio ainda ao rescaldo de sua quase morte, Paulo manifestou sua esperança de que Deus continuaria a livrá-lo e, para tanto, contava com a ajuda das orações dos seus irmãos em Cristo (verso 11).
Consolar é para o Espírito Santo. Nós somos apenas seus porta-vozes.
***
Voltemos às palavras iniciais do apóstolo nesta carta, agora na tradução de Eugene H. Peterson:
“Todo louvor ao Deus e Pai de nosso Senhor, Jesus, o Messias! Pai de toda misericórdia! Deus de toda cura e restauração! Ele está ao nosso lado quando passamos momentos difíceis e, antes que percebamos, ele nos leva para o lado de alguém que também está sofrendo, para que possamos ajudar aquela pessoa assim como Ele nos ajudou. Muitas das situações que enfrentamos são consequências de seguirmos o Messias, mas os bons tempos de seu conforto restaurador compensam em muito o sofrimento. (…) Os momentos difíceis de vocês são os nossos momentos difíceis. (…) Em vez de confiar em nossa força ou em nossa capacidade de nos salvar, fomos forçados a confiar totalmente em Deus — uma ideia nada má, considerando que ele é o Deus que ressuscita os mortos!” (…) Vocês e suas orações são parte da operação de resgate (…), resgate em que a oração tem um papel fundamental” (2Coríntios 1.3-11, com elipses — A Mensagem. Sao Paulo: Vida, 2011).
ISRAEL BELO DE AZEVEO