Faz mais de 25 anos que ele se foi; foi para o céu. Mas, sinto falta dele. Às vezes sonho com ele; vejo sua face, séria, tímida e em alguns momentos rígida. Isso faz aumentar minha saudade. Quando ele se foi resolvi manter viva em mim a sua memória. Em momentos cruciais da minha vida lembro dele. Um homem que não se desesperava diante dos problemas do dia a dia, quer pequenos, quer grandes. Em sua simplicidade procurava passar segurança aos filhos. Em meio à sua dor tentava nos confortar; em meio ao seu cansaço não poupava esforços em nos socorrer. Quantas vezes ele fez isso; atravessava lugares perigosos tarde da noite, levando-me, ainda criança, aos hospitais e aos médicos, quando afetado por algum tipo de enfermidade.
Sinto falta dele; e como sinto. Um homem semi-analfabeto para a escrita, mas um doutor no caráter. Homem íntegro, homem com uma leitura fantástica da vida, homem de pouca fala, mas de fala certeira quando se expressava.
Sinto falta dele; do homem que sabia ouvir e se curvava diante de uma boa argumentação. Um homem que abria mão de si em função da família. Um “homem humano” que nunca se escondeu atrás do título de pai para fazer imposições ou evocar qualquer tipo de falsa autoridade; ao contrário, um homem que ensinou que autoridade sem amor não funciona.
Sinto falta dele; do homem/pai, de quem nunca ouvi a expressão “eu te amo”; mas não era preciso, visto que seus gestos falavam mais do que as palavras; sua vida, crenças e posturas eram a sua linguagem, a linguagem do seu amor; um amor que se assemelhava ao amor de Deus, um amor doador, ativo, um amor de auto-esvaziamento; um amor que não precisa de elogios ou qualquer tipo de estímulo externo. Um amor que se basta e que basta.
Sinto falta dele; do homem/pai/cristão. Aquele que em idade um tanto quanto avançada entregou a vida a Cristo. Tornou-se um cristão e não se permitiu intoxicar pelo veneno da religiosidade, da busca de poder, das intrigas da igreja. Sinto falta do homem que honrou a Deus, a si mesmo e a família. Lembro-me que estava com ele no quarto de um hospital e a sua última palavra antes de morrer foi: JESUS. O Jesus a quem ele honrou o recebeu e seus lábios, acredito, expressaram o momento da recepção celeste. Se honrar é colocar o outro no lugar mais alto do pódio, realmente ele honrou a Deus, a família e aos outros. Assim, Deus o colocou num alto lugar e nós, sua família, o colocamos em primeiro lugar na nossa história de vida, nas nossas relações humanas; ele sempre estará no degrau mais alto do pódio.
Aqui estão algumas razões, poucas entre as muitas, que me levam a dizer e registrar de forma escrita que sinto falta dele; muita falta; e como sinto.
(Em memória do meu pai, Hermógenes Francisco da Motta, de quem sinto muita falta)
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