SÉRIE: O QUE NOS DIZEM OS PROFETAS? – PROFETA ISAÍAS (Alcenir Mota)

O livro que leva o seu nome é o segundo maior, em extensão, dos escritos proféticos, sendo superado em tamanho, apenas pela obra do profeta Jeremias. O seu ministério foi desenvolvido no reino do Sul (Judá e Jerusalém) entre os anos de 740 aC a 700 aC, numa época crítica na história da sua nação. Foi um homem corajoso que ousou enfrentar a corte, o sacerdócio corrompido, a religião institucionalizada que se esqueceu dos valores espirituais, combateu também vigorosamente o povo que se desviava dos caminhos do Senhor. A importância do livro de Isaías foi reconhecida pelos autores do Novo Testamento no fato de que as citações das suas profecias excedem a soma de todas as outras citações de profetas do Antigo Testamento. Isaías teve muito que ensinar ao povo de Deus em sua época e também a cada um de nós hoje. O primeiro grande tema do livro é a falsidade religiosa. O que o profeta falou aos seus contemporâneos e quer nos mostrar no século XXI?
1-MUITO MAIS QUE UM RITUAL RELIGIOSO.
   -Isaías 1.1-17
Fica evidente pela leitura do texto que não faltavam cerimônias religiosas em Jerusalém. A religião, porém, havia sido transformada em ritos, alguma coisa que acontecia dentro do templo, a mera prática de algum tipo de liturgia, completamente desvinculada de uma vida autêntica de respeito ao próximo. A celebração do culto tomou o sentido de toda religião, a forma tomou o lugar da essência. O povo não entendia que religião não é uma coisa que acontece dentro de um prédio, numa determinada ocasião, sob a condução de uma determinada pessoa, mas sim na vida como um todo. Podemos participar de excelentes ritos com louvores, apresentações, e pregações “abençoadas” e tudo isso estar completamente dissociado da vida.
No capítulo 29 versículo 13 encontramos o profeta mais uma vez manifestando o sentimento de Deus com relação a este tipo de religiosidade:
“O Senhor diz: “Esse povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A adoração que me prestam é feita só de regras ensinadas por homens.”
O próprio Jesus ratifica esta critica ao citá-la passagem em Marcos 7:
“Bem profetizou Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens”.
Ainda no capítulo 58 versículos de 1 a 7 encontramos uma passagem que mostra claramente o grande perigo que corremos em nossa vida religiosa. Deus fala que dia a dia o povo o procurava; parecendo desejosos de conhecer os seus caminhos, como se fossem uma nação que faz o que é direito e que não abandonou os mandamentos do seu Deus, parecendo desejosos de que Deus se aproxime deles. Fazem jejum e se humilham e não entendem o porquê de não serem vistos pelo Senhor.
A resposta de Deus é que no dia do jejum o povo fazia o que era do próprio agrado e continuava explorando seus empregados. Aquele ritual terminava em discussão e rixa, e até com brigas de socos brutais. Como o povo poderia querer ser ouvido participando daquele tipo de ritual? “Será esse o jejum que escolhi, que apenas no domingo o homem se humilhe, incline a cabeça como um servo de Deus, se ajoelhe em oração, bata palmas em adoração e grite glória a Deus?”
Será a minha religião um momento que passo num prédio ou num salão de culto? E sendo assim, posso “prestar culto” a Deus e ser explorador dos empregados, mentiroso, caluniador, impuro, insensível aos necessitados?
O apóstolo Tiago mostra que não:
“A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo.” Tg.1.27
O meu relacionamento com Deus tem que ultrapassar as paredes do templo onde me reúno com meus irmãos para prestar culto. Dentro desta linha de pensamento; ou seja, muito mais que um ritual religioso, é bom que todos leiamos a passagem do evangelista Mateus 25.31-46. Uma relação com Deus que se restringe a um dia da semana é hipocrisia. A religião sem honestidade nas relações sociais é falsa. Religião não é intimismo nem louvação, mas vida.
E esta vida não se manifesta em comportamento esquisito, e em palavras estranhas, mas em relações corretas. O meu objetivo deve ser adorar a Deus em espírito e em verdade, que deve ser bem mais que fazer um ar compungido em alguns cânticos, ajoelhar-me quando a igreja ora, carregar a bíblia debaixo do braço. O culto que agrada a Deus independe de um lugar tido como sagrado, pois a minha adoração não termina quando a cerimônia religiosa dentro de um templo chega ao final.
Que possamos diante do que nos diz Isaías, refletir sobre nossa vida religiosa.
O apóstolo Paulo pregando aos atenienses disse:
“Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, pois, andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei até um altar com esta inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes apresento.” 
                             Eu não quero ser um ateniense ! ! !