DEIXAR-SE AJUDAR: DO GABINETE AOS GRUPOS DE ENCONTRO (Cristiane Fiaux)

 

 

 “Desejo que te vá bem em todas as coisas,
e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma.”
(III João 2)

A vida agitada e corrida têm deixado pouco tempo para as pessoas se cuidarem.  Os afazeres diários levam o ser humano a viver sua vida distanciado de sua dimensão emocional, mais preocupado que está em cumprir a agenda de forma eficaz e eficiente sem se dar conta dos sentimentos que perpassam as situações vividas, por exemplo, quando precisa tomar decisões ou enfrentar adversidades.  A conseqüência dessa maneira acelerada e blindada de viver é a produção de um mundo frio onde as pessoas vêm e vão sem se aperceberem de si mesmas e de seus sentimentos.  Porém, nem mesmo a agenda cheia e os compromissos cotidianos dão conta de preencher o vazio e de suprir a carência de sentimentos e as necessidades de sentido e realização pessoal que o ser humano tem.
Administrar o dia a dia, as expectativas, as frustrações, os problemas e até os sucessos não tem sido fácil.  Não raro as doenças aparecem: fobias, depressões, pânico, estresse, violência, drogadição, entre outras.  O que se observa atualmente é que, além dos psiquiatras e psicólogos, o pastor tem sido convocado, cada vez mais, a estar presente nos momentos de sofrimento humano.  Os pastores são procurados para socorrerem os diversos males que não só os espirituais.  Sintomas físicos e emocionais e problemas sociais têm sido encaminhados ao líder espiritual na esperança de que ele possua plenos poderes para solucionar todos os tipos de tormentos.  Vemos então que a prática pastoral é caracterizada pelo intenso cuidado ao outro o que leva o pastor a estar em contato constante com o sofrimento alheio e conseqüentemente com o seu próprio sofrimento.  
Muitos pastores não têm o suporte emocional que deveriam ter nem os recursos internos para enfrentarem os dramas humanos.  O pastor cuida, mas não é cuidado.  Como fazer frente aos diversos assuntos que chegam até ele?  Como lidar com a carga emocional que irrompe dentro dos gabinetes?  Os mecanismos de defesa são acionados, porém não funcionam para sempre ou de maneira eficaz.  Esses mecanismos podem se caracterizar, por exemplo, pelo afastamento e o evitar o contato humano, pela hiperatividade, pela negação de seus próprios sentimentos, pelas doenças psicossomáticas e, até mesmo, pela desistência do ofício.  Se o pastor não está bem, seu agir ficará comprometido.  É cada vez mais claro que o pastor – aquele que cuida – necessita também ser cuidado.  E é premente atendê-lo nessa necessidade.  
Cuidar de si através do lazer, de férias programadas, de momentos em família e da busca por ajuda profissional é considerar o corpo como integral e como templo, que deve ser mantido saudável.  A visão do cuidado deve ser entendida sob a ótica da saúde integral, que considera o sujeito como ser bio-psico-sócio-espiritual, ou seja, o bem estar deve ser buscado considerando todos esses aspectos.
Um recurso que pode trazer bem estar é a participação em grupos cuja proposta perpasse os diversos assuntos vivenciados na prática pastoral.  Nesses encontros, a troca e a interação dos participantes possibilitam o compartilhar das experiências e a busca pelos significados da vida.  Os encontros em grupo se caracterizam em apoio social, são considerados como uma contribuição positiva para a saúde e pretendem melhorar a qualidade de vida das pessoas.  

 

“O estado mental em que a expectativa é colorida
pela esperança e pela fé, é uma força eficaz que temos de reconhecer,
estritamente falando, em todas as nossas tentativas de tratamento e cura”.
(Freud, 1905)

 

CRISTIANE FIAUX é psicóloga

(Junto com outras pscólogas, coordena um grupo de estudos para pastores. Informe-se em trocandoentrenos@hotmail.com)