Estava chegando a hora.
Ele foi para o Monte das Oliveiras, especificamente para um lugar chamado Getsêmani (ou “prensa de azeite”).
Ele se afastou dos discípulos que o seguiam para orar, desta vez ajoelhado (embora esta não fosse a prática dos judeus). Os discípulos, estarrecidos, conseguiram ouvir várias vezes o que pedia insistentemente ao Pai usando uma metáfora que significava que não queria ir para a cruz.
Após esta oração, o Pai lhe enviou um anjo para consolá-lo.
Em sua angústia, ele orou ainda mais intensamente. Enquanto orava na longa e escura noite, seu suor escorria até o chão — seus discípulos puderam ver também — como se fossem pétalas na relva. Ele perdia água e expelia sangue (naquilo que os médicos chamam de hematidrose ou “excreção de suor sanguinolento por efeito de hemorragia das glândulas sudoríparas”).
A história está em Lucas 22.39-44 e deve ser lida palavra por palavra. (O autor deve ter demorado meses para narrar esta história, tal a sua precisão, tal a sua profundidade, tal a sua beleza, tal a sua dramaticidade, tal a sua humanidade.)
Tantas vezes nós a lermos, tantas vezes seremos tocados.
Tocou-me agora ler que somos consolados no sofrimento.
Tocou-me agora entender o que é o consolo: o anjo não foi enviado para lhe pôr fim ao sofrimento: o anjo veio para lhe dar a força necessária para a dor ainda maior que sentiria. (Depois de consolado, suou sangue — eis o que lemos.) Nem sempre somos libertos da angústia de sofrer, mas sempre somos consolados.
Tocou-me agora saber que, quando falham os nossos amigos e irmãos (e falham — como eu falho!), nossa solidão não dura para sempre: Deus nos envia uma companhia sobrenatural.
Tocou-me agora compreender que, quando os nossos amigos e irmãos — e também desconhecidos, igualmente nossos próximos — estão em solidão e angústia podemos ser os consoladores que Deus quer enviar.
É por isto que eu amo a história de Jesus.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO