Um pai policial.
Um menino de dez anos.
Um revólver acondicionado entre as roupas no armário.
Uma professora em uma de suas turmas na escola.
Numa manhã, o pai nota a falta da arma, vai preocupado ao colégio, pergunta ao filho mais velho, que nada sabe sobre o revólver.
Pouco depois, a história desaba sobre a família, atuante numa igreja presbiteriana, que poderia ser batista ou metodista ou assembleana ou católica ou não praticante de qualquer credo.
Com o revólver de trabalho do pai, o menino, que orava em casa e na igreja e que falava dos seus sonhos, dispara numa de suas professoras, que sobrevive, e, em seguida, atira contra si mesmo fatalmente.
O corpo do menino é enterrado e com ele toda e qualquer possibilidade de entendermos o absurdo absoluto. Ele se foi, mas é provável que tenha ficado no pai uma culpa imensa do tamanho do vazio da saudade do seu Davi.
Teria o menino visto nos noticiários alguma informação com este tipo de crime e se deixado influenciar? Nunca saberemos.
Teria o menino algum distúrbio psíquico que não fôra diagnosticado? Nunca saberemos.
Chocados, só nos ocorre que precisamos proteger nossas crianças.
Precisamos proteger nossas crianças das armas de fogo, que não sabem quem as aperta e não conhecem para quem são apontadas. Elas não sabem que matam, mas nós sabemos. (Quem tem arma em casa pode garantir que o seu filho jamais a pegará?)
Precisamos proteger nossas crianças das drogas socialmente aceitas (como cerveja, cigarro e tranquilizante) e das drogas ainda socialmente recusadas (como maconha, cocaína e crack). Sabemos que a ilusória alegria que produzem tem efeito benéfico de curta duração e efeito maléfico de longo termo. (O princípio do "façam o que eu faço, não o que eu digo" é absolutamente verdadeiro.)
Precisamos proteger nossas crianças de qualquer negação de sua infância, venha ela da publicidade que quer torná-las apenas precoces consumidoras ou do sistema de valores marcados pelo consumismo, pela concorrência e pela disputa, essas coisas que nem os adultos deveriam subscrever como sendo suas marcas.
Precisamos proteger nossas crianças de terem que pagar a conta de nossos erros.
Mais que isto, baixado o silêncio dos meios sobre o drama de São Caetano do Sul, precisamos pensar naquela família como se fosse a nossa e, então (Mateus 7.12), orar por ela, para que Deus não permita que se deixe enterrar com a sua criança.
Precisamos orar todos os dias (o dia todo, se conseguirmos) pelas nossas crianças, como fazia Jó (Jó 1.5), para que sejam livres do mal, até do mal que sequer sabem que o estão cometendo, porque são crianças.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO