Judas 17-25: Autoconstruídos pelo Espírito Santo

Todos quantos queremos viver a vida como Deus quer que a vivamos nos perguntamos como isto acontece. Nós edificamos a nossa vida ou é Deus quem a edifica?
Temos uma linda resposta na epístola de Judas.

FÉ ZOMBADA

Judas, sobre quem pouco sabemos, a não ser que era irmão de Tiago e de Jesus Cristo, lembra-nos que “nos últimos tempos haverá zombadores que seguirão os seus próprios desejos ímpios” (verso

1. Quando leio esta advertência, penso logo naqueles que zombam dos que têm fé e não são poucos os zombadores; penso neles, mas não me preocupo com eles. Eles confundem, mas não muito. Na testa deles, está escrito quem são: néscios, porque são néscios (tolos) aqueles que dizem que Deus não existe (Salmo 53). Tais pessoas não reconhecem que “sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11.6)

2. Quando leio esta advertência, penso também naqueles que, não tendo o temor de Deus, constroem seus impérios à base da mentira, da propina e do sangue dos outros. Eles me incomodam, mas pouco porque não desejo os seus palácios, nem seus aviões, nem seus iates, nem seus cifrões. Eu memorizei o salmo 37.35-36 (“Vi um homem ímpio e cruel florescendo como frondosa árvore nativa, mas logo desapareceu e não mais existia; embora eu o procurasse, não pôde ser encontrado.”) e confio na justiça de Deus para com eles e para comigo.
Na verdade, Judas não fala dessas pessoas, mas daqueles que se dizem cristãos, aos quais Jesus chama de lobos (“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores” — Lucas 7.15) No interior do Cristianismo há pastores que “causam divisões” porque “seguem a tendência da sua própria alma e não têm o Espírito” Santo (verso 19).
Assisti, certa vez, a um culto em que, ao final, se pedia que cada participante batesse na sua cabeça uma pastinha contendo seus desejos e projetos e gritassem em alta voz: “Eu vou conseguir! Eu vou conseguir!”
Um pastor amigo viu partir uma família de sua igreja, depois que a esposa passou a sofrer de depressão. Ele orientou no sentido que, junto com a oração, ela buscasse uma ajuda profissional. A família transferiu-se para uma igreja que afirmava que depressão é um problema exclusivamente espiritual e prometia que ela seria liberta apenas pela oração.
Quem liga o rádio, AM ou FM, nota que boa parte das emissoras transmite majoritária ou exclusivamente programas em que pastores e pastoras berram o tempo todo, como se fossem clones uns outros outros, embora alguns não se conheçam. O mesmo já ocorre na televisão, apesar dos cultos elevadissimos dessas programações. Para não se escandalizarem e nem rirem da ridicularização da Palavra de Deus, muitos cristãos sinceros pulam estes programas e acabam pulando também bons programas, perdendo assim a oportunidade de ouvirem mensagens que edificam

3. Quando leio esta advertência, penso nos nomes das igrejas cujos nomes vemos expostos pelas ruas de nossas cidades, como:
Comunidade do Coração Reciclado
Cruzada de Emoções
Cruzada Evangélica do Pastor Waldevino Coelho, a Sumidade
Igreja Atual dos Últimos Dias
Igreja Automotiva do Fogo Sagrado
Igreja Batista A Paz do Senhor e Anti-Globo
Igreja Batista Incêndio de Bênçãos
Igreja Batista Oh Glória!
Igreja Batista Ponte para o Céu
Igreja C.R.B. (Cortina Repleta de Bênçãos)
Igreja Cristo é Show
Igreja da Água Abençoada
Igreja da Bênção Mundial Fogo de Poder
Igreja da Cruz Erguida para o Bem das Almas
Igreja da Oração Eficiente
Igreja da Pomba Branca
Igreja do Manto Branco
Igreja dos Bons Artifícios
Igreja E.T.Q.B (Eu Também Quero a Bênção)
Igreja Evangélica Adão é o Homem
Igreja Evangélica Batista Barranco Sagrado
Igreja Evangélica de Abominação à Vida Torta
Igreja Evangélica dos Hinos Maravilhosos
Igreja Evangélica Pentecostal Cuspe de Cristo
Igreja Menina dos Olhos de Deus
Igreja Palma da Mão de Cristo
Igreja ‘A’ de Amor
Igreja Evangélica Pentecostal da Bênção Ininterrupta

Algumas dessas igrejas se reúnem em garagens, no que não há nenhum problema, mas há problemas nas suas placas que informam, por exemplo, que ali é a sua sede mundial… Numa mesma quadra de uma rua de Belo Horizonte  há várias dessas igrejas. Abrir uma igreja se tornou um negócio, para tristeza dos que, de fato, promovem o Reino de Deus e não seus próprios reinos.
Além do espetáculo da confusão que produzem, dão munição para a artilharia do deboche contra a fé, que mira o trigo e o joio injusta e indiscriminadamente.
 
FÉ COM ADJETIVO

Neste contexto, Judas nos mostra que, para resistir aos ataques externos e mesmo aos internos, precisamos desenvolver a nossa vida sob a base da fé. Eis o que ele diz:

“Edifiquem-se, porém, amados, na santíssima fé que vocês têm, orando no Espírito Santo. Mantenham-se no amor de Deus, enquanto esperam que a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo os leve para a vida eterna” (versos 20-21).

Por que Judas adjetiva a fé, a fé que temos em Deus Pai, em Jesus Cristo e no Espírito Santo, chamando-a de santíssima?

Judas diz que a fé é santa, santíssima, porque
1. A fé surge em nossos corações a partir de um convite de Deus.
Não chegamos a ela por nós mesmos. Chegamos à fé pelas mãos de Jesus Cristo, mas os passos são nossos. A fé não é um pensamento positivo. Não é algo que nós produzimos. Chegamos a fé pela palavra de Deus, mas os ouvidos são nossos. (Como diz o texto bíblico, “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” — Romanos 10.17). A fé tem a marca de Deus. A fé é a marca de Deus em nossos corações. Pela fé operamos em outro território, que não é o da razão, embora não a negue.

2. A fé é uma decorrência do amor de Deus para conosco.
A fé é possível por causa da iniciativa de Deus, provada pela entrega de Jesus Cristo para a nossa salvação quando ainda estávamos perdidos (como o diz claramente a Bíblia: “Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” — Romanos 5.8). Se Deus torna possível a fé, ela implica em resposta do ser humano. A fé, portanto, é a resposta humana à iniciativa divina.

3. A fé é certeza de que Deus nos ama.
É este amor de Deus que nos permite viver seja nos vales, seja nas montanhas. A fé não nos garante uma vida sem aflições, mas nos oferece uma perspectiva de vida mesmo em meio às aflições. A fé não evita que tenhamos problemas, mas nos permite ver além deles. Por isto, podemos “nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5.3-5).
Judas mesmo usa três adjetivos para os cristãos, que sintetiza esta condição: somos “chamados, amados por Deus Pai e guardados por Jesus Cristo” (verso 1).

4. A fé só tem valor quando se torna o eixo da nossa vida.
Podemos chegar agora ao centro do conselho de Judas. Ele nos diz:

“Edifiquem-se, porém, amados, na santíssima fé que vocês têm” (verso 20a).

A fé só pode receber este nome se se torna a lente pela qual se vê a vida.
As duas mais citadas expressões de fé que encontramos na Bíblia é uma demonstração disto. Quando o salmista olha para as suas dificuldades, sombrias mesmo, relatadas no seu extraordinário poema, sua fé lhe permite cantar: “O Senhor é o meu pastor e nada me faltará” (Salmo 23.1). Quando o apóstolo olha para as suas dificuldades, que incluía prisões, acoites, naufrágios, doenças e fomes, ele a tudo vê sob a perspectiva da fé e exclama: “aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.11b-13).
A nossa vida, ensina Judas, é para ser edificada, isto é, construída sobre o alicerce da fé.

VIDA QUE SE DESENVOLVE

Ao sugerir o verbo “edifiquem-se”, Judas indica que pensa a vida como uma casa que se põe tijolo a tijolo, desde o alicerce. Está claro que o alicerce é a fé em Jesus Cristo, razão por que “se alguém constrói sobre esse alicerce usando ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, sua obra será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo, que provará a qualidade da obra de cada um” (1Coríntios 3.11-13).
A vida é uma construção.
Quem pisa numa pedra de mármore ou toma uma nas mãos não imagina, se não conhece suas condições de produção e uso, que ela é o resultado de um longo e caro processo. Uma pedra usada numa construção veio de uma jazida de rochas, com cores e texturas variadas. A extração retira blocos enormes, pesando várias toneladas, por meio de um processo complexo. Depois são cortadas em folhas grossas. Essas folhas são recortadas e polidas em uma ou mais faces.
Uma linda pedra de mármore, portanto, se formou durante milhões de anos. Depois passou por um processo de produção nas mãos dos homens. Se não for cortada e polida, não tem como ser usada.

Nossa vida é o resultado da vontade criadora de Deus. Assim como criou a terra e nos incumbiu de cuidar dela, espera que edifiquemos as nossas vidas também. Somos como pedras de mármores a ser extraídas, transportadas, cortadas, polidas, recortadas. Para isto, cada parte neste processo deve ser desenvolvidas sobre os trilhos da fé.
É importante termos em mente a natureza da vida. Não crescemos da noite para o dia, mas nos desenvolvemos por meio de uma longa sucessão de noites e dias. Equivocadamente, queremos tudo rápido. Queremos o prazer sem pensar no seu preço. Queremos a bênção sem ter que buscá-la. Queremos o sucesso mas sem suor.
O sanduíche que fica pronto em segundos não ficou pronto em segundos. Ele é fruto de um longo processo. O dinheiro que se saca em segundos num terminal bancário passou por longos canais até ser depositado ali. A lâmpada que se acende num toque é o produto de um caudaloso processo científico e tecnológico, com criação e recriação, com erros e acertos, aperfeiçoamentos e reaperfeicoamentos.
Presente de Deus, a vida que temos e somos é para ser edificada sobre a base da fé — esta é a mensagem de Judas. Essa idéia de uma vida que se desenvolve não é de fácil apreensão, seja pela impaciência característica do ser humano, seja pelos produtos que a tecnologia nos entrega prontos, seja pelo trabalho que dá.
Admitamos ou não, a vida profissional é feita de transpiração. Passar num concurso exige sacrifício. A produção de uma tese acadêmica é regada a suores e lágrimas. A harmonia conjugal é trançada com fios de amor, desentendimento, esforço e afeto.
Deveria ser diferente a vida cristã? Há muitos cristãos que pensam suas vidas cristãs de uma maneira bem diferente da sugerida pela Bíblia, particularmente pela carta de Judas. Acham que suas vidas cristãs estão completas, como se não precisassem ser transportadas, cortadas, polidas, recortadas (como o mármore é).
A tentação do consumo rápido ronda as vidas dos cristãos. Há muitos cristãos que se satisfazem apenas com os alimentos que recebem na igreja. Este é um estranho comportamento. Quem vai a um restaurante sabe que, por mais que saia satifeito, dentro de algumas horas o efeito desaparecerá e o corpo precisará ser novamente alimentado. O corpo é para ser alimentado várias vezes por dia. A vida com Cristo também. É para ser alimentada todos os dias, não apenas aos domingos. Há cristãos que acham suficiente consumir um culto de 90 minutos, mesmo que depois se ponham a consumir outras mensagens por horas e horas a fio. Viver assim não é caminhar sobre o asfalto da fé. É verdade que muitos sequer participam de suas igrejas, talvez porque saibam o suficiente… E também é verdade que muitos pensam nas igrejas e seus cultos como sendo restaurantes e suas refeições…

Judas nos mostra como podemos edificar as nossas vidas.
Segundo ele, devemos orar continuamente no Espírito Santo; devemos nos firmar permanentemente no amor de Deus e devemos nos manter prontos para continuar recebendo a misericórdia de Jesus Cristo.

ORANDO NO ESPÍRITO SANTO

Judas nos recomenda que devemos nos edificar “orando no Espírito Santo”.
A expressão só aparece em outro lugar na Bíblia, pela palavra de Paulo: “Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos” (Efesios 6.18).
Comecemos por nos perguntar: o que não é orar no Espírito Santo?
Orar no Espírito Santo não tem a ver com a forma da oração ou com a linguagem da oração. Não é orar em línguas, por exemplo.
Orar no Espírito Santo é o oposto de orar na carne.
Oramos na carne, e não no Espírito, quando não estamos compromissados com uma vida de santidade. Não precisamos ser puros para orar, mas precisamos estar compromissados com a pureza ao orar. Ao orar devemos limpar as nossas roupas para que não fiquem contaminadas pela carne (Judas 23).
Oramos na carne, e não no Espírito, quando oramos burocraticamente, como se apenas nos desincumbíssemos de uma obrigação.
Oramos na carne, e não no Espírito, quando oramos tão só para nosso próprio deleite, como nos adverte Tiago. Nosso mundo é feito de competição, motivada por paixões que guerreiam dentro de nõs. Podemos orar motivados, não pelo Espírito Santo, mas pela cobiça. É forte a denúncia bíblica: “Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres” (Atos 4.2-3). Que esta denúncia não se aplique a nenhum de nós. Às vezes, começo minha oração rindo diante de Deus, dizendo-Lhe: “Senhor, aqui estou eu com minha lista”. Algumas vezes, peço perdão e não peço nada, guardando minha lista. Oração tem que ser um tempo de prazer, não de reivindicação. Oração tem que ser um tempo de oferecer a Deus e não só para Lhe dizer: “me dá, me dá”.

Ao contrário, oramos no Espírito Santo, e não na carne, quando convidamos o Espírito Santo para motivar, capacitar e conduzir nossa vida de oração, que inclui palavras, mas vai além das palavras, para incluir uma disposição de dependência alegre de Deus.
Oramos no Espírito Santo, e não na carne, quando oramos sabendo que somos amados pelo Pai, seja o que for que Ele decidir fazer com os nossos pedidos. Orar no Espírito é deixar Deus agir.
Oramos no Espírito Santo, e não na carne, quando entendemos, de uma vez por todas, que sem a ajuda do Espírito não sabemos orar como devemos. Será que, sempre que oramos, pomos em prática nossa crença que o Espírito intercede por nós com gemidos inexprimiveis, isto é, com gemidos divinos, próprios do Espírito? Ou será que ficamos sondando atrás da porta — como se isto fosse possível — para ouvir os gemidos do Espírito diante do Pai? Que a Palavra de Deus ecoe em nossos corações: “se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente. Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus. Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam” (Romanos 8.25-28a). Orar no Espírito é orar como convém e orar como convém é orar pela fé e com fé.
Oramos no Espírito Santo, e não na carne, quando deixamos que o Espírito Santo nos sopre as palavras de nossas orações. Orar no Espírito é orar sendo conduzido pelo Espírito.

Como temos orado?
Se estamos de acordo que, para ter nossas vidas edificadas sobre a fé em Cristo, precisamos orar no Espírito Santo, o que faremos?
A fé é forjada na oração.

FIRMANDO-NOS PERMANENTEMENTE NO AMOR DE DEUS

Judas nos recomenda que devemos nos edificar “firmando-nos permanentemente no amor de Deus”.
Li uma frase que me marcou: “O amor de Deus é como a luz do sol, constantemente brilhando sobre nós. Só que nós podemos colocar guarda-sóis e barreiras diversas para cortá-lo” (Ray Stedman). Quando nos firmamos no amor de Deus, experimentamos o amor de Deus.
Paulo diz: “o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5.5) Este verso me encanta e me entristece. Por que me encanto com este verso deve estar evidente. Então, por que fico triste? Não fico triste com a verdade deste verso, mas com a mentira da minha vida. Que tenho feito deste amor de Deus derramado no meu coração? Será que a minha vida corresponde a esta posse? Quem olha para mim vê este amor de Deus derramado no meu coração? Quem convive comigo convive com este amor de Deus derramado no meu coração?
Um dia destes um menino foi vitima de uma bala solta, que, por pouco, não alcançou seu olho e seu cérebro. Numa entrevista, o médico que o atendeu disse que o anjo da guarda do garoto fez um excelente trabalho. A idéia de um anjo da guarda está mais para uma projeção humana do que para uma revelação divina. O que a Bíblia diz é que Deus nos guarda.
Uma das primeiras bênçãos que Ele mesmo ensinou continha o duplo desejo: “O Senhor te abençoe e te guarde” (Números 6.24). O salmita cantava uma certeza baseada na experiência: “no dia da adversidade ele me guardará protegido em sua habitação; no seu tabernáculo me esconderá e me porá em segurança sobre um rochedo” (Salmo 27.5). A promessa ecoa pela Bíblia: “A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Filipenses 4.7).
Deus nos guarda quando estamos bombando do alto de nossos músculos, sucessos e diplomas e quando estamos singrando mares bravios em naus precárias, feitas de “tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada” (Romanos 8.35)
Estamos mesmos dispostos a permitir que o amor de Deus seja o sol de nossas vidas?
Estamos prontos a colocar o amor de Deus acima dos amores da vida?

PRONTOS PARA CONTINUAR RECEBENDO A MISERICÓRDIA DE JESUS CRISTO

Judas nos recomenda que devemos nos manter prontos para continuar recebendo a misericórdia de Jesus Cristo. Diz ele: esperem “que a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo os leve para a vida eterna” (verso 21b).
Judas nos pede que esperemos. No entanto, aprendemos outro axioma: Os fortes não esperam, fazem acontecer. A canção que embalou a geração dos jovens no período militar ensinava: “esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Geraldo Vandré).
Um dia destes fiquei impressionado com uma reportagem. A tela mostrava um músculo humano sendo injetado por uma substância por meio de uma seringa imensa. Em seguida, uma mão manipulava o músculo. Tratava-se de uma injeção própria para cavalos que um rapaz se injetou. Ele queria modelar seus músculos, mas modelou tristemente seu próprio caixão. O gesto do rapaz anabolizado é um retrato de nossa época, um tempo de “eu posso, eu tenho a força, tem que ser agora”.
Judas nos pede que tenhamos os olhos na “vida eterna”, que é invisível.
No entanto, aprendemos por aqui que vale tudo por uma aparência aprovada por todos. Os jogadores de futebol capricham nas chuteiras diferentes e nos penteados diferentes. Aparência é tudo, embora não seja nada.
Uma paráfrase de Judas 20-21 nos ajuda a entender a essência do ser cristão: “Caros irmãos, cuidadosamente edifiquem-se nesta santíssima fé, orando no Espírito Santo, permanecendo no centro do amor de Deus e mantendo seus braços abertos, estendidos e prontos para receber a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta é a vida duradoura, a vida real”. (The message)

Quero, então, colocar dois modos pelos quais podemos esperar para receber a misericórdia de Jesus Cristo.
O primeiro modo é esperar com braços abertos, estendidos e prontos para receber é atitude típica de mendigo. E é assim que devemos esperar, como mendigos, como maltrapilhos, como andarilhos, como quem não merece nada e, logo, nada exige.
É estranho? É estranho, até mesmo no meio evangélico, em que alguns setores falam que devemos exigir de Deus. É estranho, mesmo no meio evangélico, mas é assim que somos ensinados.
Nosso modelo é aquela mulher cuja filha estava doente, que foi a Jesus, “gritando: ‘Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! Minha filha está endemoninhada e está sofrendo muito'” (Mateus 15.22). Ou daqueles “dois cegos [que] estavam sentados à beira do caminho e, quando ouviram falar que Jesus estava passando, puseram-se a gritar: ‘Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!’ A multidão os repreendeu para que ficassem quietos, mas eles gritavam ainda mais: ‘Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!’ Jesus, parando, chamou-os e perguntou-lhes: ‘O que vocês querem que eu lhes faça?’ Responderam eles: ‘Senhor, queremos que se abram os nossos olhos’. Jesus teve compaixão deles e tocou nos olhos deles. Imediatamente eles recuperaram a visão e o seguiram” (Mateus 20.30).
Nossa oração não pode ser outra, senão esta: “Responde-me quando clamo, oh Deus que me fazes justiça! Dá-me alívio da minha angústia; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração” (Salmo 4.1). Ou esta outra: “Senhor, tem misericórdia de nós; pois em ti esperamos! Sê tu a nossa força cada manhã, nossa salvação na hora do perigo” (Isaias 32.2).
Você espera a misericórdia de Jesus Cristo? Estenda sua mão para Ele, como mendigo ingênuo, não como mendigo esperto, que busca os melhores pontos, desenvolve as melhores estratégias para faturar mais. Não tenha vergonha de ser um mendigo diante daquele que sempre responde e atende.

O segundo modo é esperar exaltando a Deus, nos termos da doxologia de Judas: “Àquele que é poderoso para impedi-los de cair e para apresentá-los diante da sua glória sem mácula e com grande alegria, (25) ao único Deus, nosso Salvador, sejam glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, antes de todos os tempos, agora e para todo o sempre! Amém” (versos 24-25).

Exalte a Deus porque, em meio a tantas tentações, ele o mantém de pé.
Exalte a Deus porque, apesar de tantos escândalos, ele o mantém de pé.
Exalte a Deus porque, apesar dos seus vacilos, seu lugar no céu está garantido.
Exalte a Deus porque, apesar das nuvens sem chuvas de agora, sua alegria está garantida no céu.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO