TRABALHANDO NO TEMPO DO ÍNTERIM
(Efésios 6.5-9)
(Da série PRINCÍPIOS BÍBLICOS PARA A VIDA PROFISSIONAL, 1)
Este texto, apesar de aparentemente superado, porque não existe mais a escravidão nos termos da que existia no império romano, nos ajuda a entender como o cristão deve ver o seu trabalho, não importa onde o exerça.
Este texto, apesar do mal-estar que sua leitura nos possa provocar por causa da escravidão, é sobre relacionamentos. Ele está no contexto da mutualidade relacional que deve existir na família e também no trabalho.
Para bem entendermos o texto, precisamos voltar ao versículo 17 do capítulo 4. Estamos, portanto, diante de 59 versículos sobre relacionamentos fora do âmbito da igreja (tratado nos versículos 1 a 16 do mesmo capítulo 4. Todos estes ensinos sobre a vida relacional giram em torno de dois versículos centrais: “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus” (Efésios 5.15); “Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo” (Efésios 5.21).
1
Nosso mais vital campo de atuação missionária transcultural (entendemos que a família é inteiramente nossa cultura, mas o lugar fora de casa [estudo, lazer e trabalho] como transcultural, uma vez que estamos na ética do ínterim) é o que fazemos enquanto trabalhamos.
Passamos mais tempo trabalhando do que dormindo, comendo ou nos divertindo.
Precisamos de um novo olhar sobre o nosso trabalho.
2
A ética paulina do trabalho é uma ética do ínterim. O trabalho deve ser relativizado, não absolutizado.
O trabalho deve ser visto como meio, não como fim.
Paulo não só fazia tendas, como ganhou seus colegas de tendas. Aquila e Priscila.
(Atos 18.1 Depois disso Paulo saiu de Atenas e foi para Corinto. Ali, encontrou um judeu chamado Áqüila, natural do Ponto, que havia chegado recentemente da Itália com Priscila, sua mulher, pois Cláudio havia ordenado que todos os judeus saíssem de Roma. Paulo foi vê-los e, uma vez que tinham a mesma profissão, ficou morando e trabalhando com eles, pois eram fabricantes de tendas. Todos os sábados ele debatia na sinagoga, e convencia judeus e gregos.)
3
A ética paulina do trabalho leva em conta as condições da época (relação senhor-escravo, como majoritária), mas é libertária, ao estabelecer a mutualidade, também no trabalho.
A ética paulina do trabalho vê o trabalho como um território da vontade de Deus. Não estamos ali por acaso.
Temos separado o mundo em santo e profano. Em eclesiástico (sagrado) e natural (de segunda mão). Daniel não fazia esta separação. Daniel não separou sua obediência a Deus de sua formação acadêmica. Daniel não separou fé e vida pública, político (administrador) que foi.
4
O mundo não será transformado por missionários profissionais.
A população mundial é de 6,7 bilhões de pessoas, dos quais 2,2 são cristãos (de todos os tipos, alguns precisando do Evangelho ainda). Há 12,4 milhões de obreiros cristãos no mundo, dos quais 458 mil são transnacionais.
Logo: o mundo será transformado por profissionais missionários.
O mundo se converterá quando nós transformarmos a universidade onde estudamos ou trabalhamos como campo missionário.
O mundo se converterá quando nós transformamos a empresa onde trabalhamos como campo missionário.
Precisamos transformar o mundo em teatro da glória de Deus, o que implica em transformar o lugar onde estou como teatro da glória de Deus.
Somos os atores. Deus é o autor da peca.
Podemos usar a nossa profissão para ganhar a vida ou podemos usar a nossa profissão para ganhar vidas. Nosso emprego é uma providência de Deus para transformar o mundo. Pelo trabalho, podemos ser missionários que não vão diretamente aos campos; nós o fazemos quando trabalhamos e usamos o dinheiro resultante para sustentar missões e missionários, quando provemos missões e missionários em suas necessidades.
O trabalho bem feito, honesto, criterioso, é uma pregação. Uma relação profissional em que as pessoas, sejam chefes, iguais ou subordinados, importam é uma missão.
Precisão de uma visão missionária do trabalho. Nossos talentos não nos são dadas apenas para nosso deleito, mas para abençoar outras pessoas. Na linguagem unversal, nosso business pode ser uma mission (. “Business as a misson”), nosso trabalho pode ser uma missão.
O problema é a gente entra na dança da competição e da corrupção, não da cooperação e do companheirismo.
Falta-nos a ética do ínterim também em relação ao trabalho.