BOM DIA: Kataluma, 2

Se não havia lugar para Maria na kataluma, onde nasceu seu filho, antes de ser posto numa manjedoura?
Os evangelistas não nos dizem, por não ser importante, menos para nós que apreciamos completar os vazios.
Especulemos.
O imaginário comum é que o parto se deu em meio aos animais da família. No entanto, é difícil aceitar que os parentes de José tenham aberto mão da hospitalidade e despachado a grávida para o estábulo. Mas pode ser.
O mas provável é que, ocupada a kataluma por outro familiar, os parentes de José prepararam um outro quarto no andar térreo, de modo que o parto pudesse transcorrer naturalmente, obedecidos preceitos de higiene e saúde da lei mosaica. Ao nascer, um bebê devia, por exemplo, ser recebido por uma parteira, que providenciava para que fosse lavado e esfregado com sal.
E a manjedoura?
O primeiro pavimento da casa era o lugar onde mais tempo se passava. Ali ficava a cozinha. Ali se guardavam as coisas da casa. Ali alguns dormiam. Mais ao fundo, alguns animais mais dóceis, como jumentos e ovelhas, passavam a noite e eram alimentados. A manjedoura era usada para esse fim. Não havia algo como um berço, mas havia manjedouras, queres podiam carregar. Tomaram um, limparam-no e o cobriram de panos.
Adulto, Jesus não teve uma cama que lhe fosse sua.
Criança, Jesus não teve um berço que pudesse ser seu.
Isto lhe foi tirado.
Ainda hoje, além de não lhe dar a nossa kataluma, podemos surrupiar-lhe a divindade, deixando-o tão fraco que não pode ser cultuado.
Podemos privar-lhe da sua humanidade, que o deixa tão distante que nos faz nos sentir sozinhos.

 

ISRAEL BELO DE AZEVEDO