Isaías 46.9-11: UM DEUS SOBERANO

UM DEUS SOBERANO
(Isaías 46.9-11, 1Timóteo 6.13-16)

INTRODUÇÃO
Todos nós, cristãos e não cristãos, vivemos em relação a Deus dois tipos de conflito. O primeiro é: como posso crer que Deus seja o Senhor da história, se o que vejo não me leva a pensar nesta direção?
Eu vejo nações em guerra, muitas vezes envolvendo superpotências tentando varrer pequenas nações da face da terra. Não há poder que as contenha ou faça produzir uma paz justa.
Eu vejo doenças destruindo pessoas, sem escolher idades e classes sociais, mas geralmente sendo mais letais com crianças e pobres, sem que haja uma intervenção capaz de pôr fim ao sofrimento humano.
Eu vejo os corruptos se enriquecendo, por meio de ações ilícitas que alcançam os serviços públicos, inclusive os essenciais, sem que haja alguém capaz de impor regras honestas para os negócios.
Eu vejo jovens, mas também vejo crianças, esposos, pais, que saem de casa e não voltam porque tiveram suas vidas ceifadas no caminho pelo absurdo de uma bala ou de uma bomba.
Eu vejo pais orando pela conversão de seus filhos, sem que elas aconteçam, mesma experiência vivenciada por filhos, cônjuges e avós.
Eu vejo cristãos orando pela saúde (inclusive a cura) de amigos e parentes, que acabam morrendo.
O profeta Isaías, há 28 séculos, escreveu algo que me põe em conflito com o que vejo. Há 20 séculos um grupo de judeus tementes a Deus preservou seu texto, que acabou descoberto há cinco décadas. Eu leio, traduzindo (a partir do inglês), este manuscrito, que está em completa harmonia com as nossas versões. Eis o que diz o profeta

Lembrai-vos das primeiras coisas dos tempos antigos,
pois Eu sou Deus, e não há outro;
eu sou Deus e outro não há como eu.
Narro o fim desde o princípio
e conto desde a antiguidade as coisas que acontecerão.
Meu conselho permanecerá e eu farei o que me agrada.
Chamo do oriente a ave de rapina
e da terra distante chamo o homem do meu conselho.
O que tenho dito, farei cumprir;
o que formei, eu completarei.
(Isaías 46.9-11 — Manuscritos de Qumran)

O segundo conflito, admitido que Deus existe e é Senhor da história, é como me relacionar com um Deus soberano?
A Bíblia o descreve, entre outras qualidades, como “bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver” (1Timóteo 6.15-16).
É possível ao homem relacionar-se com um Deus assim?

2. AFIRMAÇÃO DA SOBERANIA DE DEUS
Quero, a partir da Bíblia, especialmente do profeta Isaías e do apóstolo Paulo, ajudar na solução destes conflitos que sei reais, mas conciliáveis, completamente conciliáveis, se, por nenhuma razão, porque Jesus Cristo nos revelou um Deus completo, soberano e amoroso, inacessível e acessível.

1. A soberania de Deus se expressa na criação do mundo.
Por meio do profeta Jeremias, Deus declara: “Sou eu que, com o meu grande poder e o meu braço estendido, fiz a terra com os homens e os animais que estão sobre a face da terra; e a dou a quem me apraz” (Jeremias 27.5).
O profeta Isaías apela para a imaginação poética.

Acaso, não sabeis? Porventura, não ouvis?
Não vos tem sido anunciado desde o princípio?
Ou não atentastes para os fundamentos da terra?
Ele é o que está assentado sobre a redondeza da terra,
cujos moradores são como gafanhotos;
é ele quem estende os céus como cortina
e os desenrola como tenda para neles habitar;
é ele quem reduz a nada os príncipes
e torna em nulidade os juízes da terra.
Mal foram plantados e semeados,
mal se arraigou na terra o seu tronco, já se secam,
quando um sopro passa por eles e uma tempestade os leva como palha.
A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? (…)
Levantai ao alto os olhos e vede.
Quem criou estas coisas?
Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas,
as quais ele chama pelo nome;
por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar.
(Isaías 40.21-26)

Diante do soberano artista, cabe-nos fazer o que o poeta recomenda: “Oh, vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor, que nos criou” (Salmo 95.6).
Acreditar na criação do universo como produto do acaso demanda tanta fé como crer na soberania criadora divina, com a diferença essencial que a existência de Deus tem mudado vidas.

2. A soberania de Deus se expressa na realização do seu plano para a história, mesmo que imperceptível (Isaías 46.10-11). A maior expressão desta soberania foi o envio do Seu Filho ao mundo, na plenitude dos tempos (Gálatas 4.4), isto é, no tempo em que achou o mais próprio.
Seu plano continuará até que todas as coisas e todas as pessoas encontrem em Cristo seu ponto de convergência (Efésios 1.10).
Não há como não crer que Jesus não existiu. Não há como não crer na Sua divindade. Até os céticos honestos reconhecem: esta divinidade não poderia ter sido inventada.

3. A soberania de Deus se expressa no Seu empenho por nós.
Para cumprir seu plano de nos abençoar com a salvação e com a plenitude de vida, estas que são suas principais promessas para conosco, Deus faz com que todas as coisas, boas e ruins, previstas e imprevistas, cooperem para o nosso bem (Romanos 8.28). Leio de novo a promessa: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” Li, para ler a mesma verdade no profeta Isaías.

Desde a antiguidade não se ouviu,
nem com ouvidos se percebeu,
nem com os olhos se viu Deus além de ti,
que trabalha para aquele que nele espera.
Sais ao encontro daquele que com alegria pratica justiça,
daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos.

(Isaías 64.4-5)

O Deus soberano trabalha para aqueles que nele esperam. Podemos querer mais?
Temos muitas perguntas sem resposta, mas temos esta: Deus, que deu a Sua vida, para nos salvar, continua a Se empenhar por nós.

3. ATITUDES DIANTE DE UM DEUS SOBERANO
Que fazer diante da verdade de que Deus é soberano?
Os textos bíblicos selecionados (Isaías 46 e 1Timóteo 6.13-16) nos recomendam quatro atitudes indispensáveis.

1. Em primeiro lugar, sim, em primeiro lugar, devemos dar-lhe honra e poder (1Timóteo 6.16b), que quer dizer: celebrar a verdade da Sua soberania, uma vez que a Sua honra e o Seu poder já são absolutos. A celebração é um gesto inútil para o Celebrado, mas útil, indispensável, produtivo, renovador, revigorador, para os celebrantes.
Celebrar é essencial. Nos mandamentos de Deus para o povo de Israel, celebrar era um dos verbos centrais. “Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os habitantes da terra” (Salmo 100.1) — é a recomendação que se repete ao longo do Antigo Testamento. Uma das razões para o convite é didática. Ao celebrarmos, lembramos do que Deus é. Lembrando do que Deus é, nossa fé é fortalecida. O profeta recomenda “lembrai-vos” (Isaías 46.9). O apóstolo diz o mesmo, ao nos convidar para dar honra e poder ao Deus soberano (1Timóteo 6.16).

2. Em segundo lugar, devemos confiar que Ele fará, na grande história e nas nossas historias, como Lhe apraz (Isaías 46.11), como Ele quer. Toda a Bíblia, a razão do crente, diz isto. “O nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz” (Salmo 115.3).
Abraão já estava certo que seu filho Isaque seria mesmo sacrificado, até Deus entrar em ação e lhe mostrar o cordeiro. Moisés já antevia seu povo boiando morto nas águas do mar Vermelho, até Deus empurrar as águas para os lados. Inúmeras vezes o povo de Israel se via derrotado nas batalhas, até Deus tomar o seu lado e produzir a vitória. O povo de Israel já estava conformado com o cativeiro e a dispersão, até Deus retomar Suas promessas e os mandar de volta para casa. Os judeus já estavam cansados do fracasso da Lei, que fazia da sua fé uma religião de castigo e dor, até Jesus rasgar, pela graça, o véu que os separava do Pai. Os parentes e amigos de Lázaro já estavam conformados com a perda do seu querido, até Jesus mandar tirar a pedra e dar a ordem espetacular: “sai daí”. Os discípulos já guardavam fotos de Jesus Cristo na carteira, até Deus O ressuscitar dentre os mortos.
Tem razão o profeta, quando canta:

Por que, pois, dizes, o Jacó, e falas, o Israel:
O meu caminho está encoberto ao SENHOR,
e o meu direito passa despercebido ao meu Deus?
Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra,
nem se cansa, nem se fatiga?
Não se pode esquadrinhar o seu entendimento.
Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor.
Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem,
mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças,
sobem com asas como águias,
correm e não se cansam,
caminham e não se fatigam.

(Isaías 40.27-31)

Queiramos ou não, Ele fará, por nós, mesmo que aparentemente esteja contra nós. Confiar é trazer a realidade da soberania de Deus do território da razão, da história, da Bíblia, para as nossas vidas.

3. A terceira atitude de quem celebra e confia é fruir as suas promessas, promessas de companheirismo e de resposta, resposta soberana às nossas orações. O Deus soberano não pode mentir (Tito 1.2). Ele não retarda (isto é, não cumpre fora do prazo) nenhuma de suas promessas (2Pedro 3.9). Posso estar <II>plenamente convicto de que<FI> Deus é <II>poderoso para cumprir o que promete<FI> (Romanos 4.21). Suas promessas não foram para ontem; são para hoje e para amanhã.
Se temos dúvidas de quanto Deus é soberano, olhemos para Jesus Cristo. Nele está o sim de Deus para todas as promessas, não importam quantas sejam. “É por Ele o “amém”, para glória de Deus por nosso intermédio” (2Coríntios 1.20). Jesus veio para cumprir a promessa da Trindade divina de que enviaria um cordeiro que tiraria o pecado de todo aquele que se arrependesse, e ao longo dos séculos desde então milhares e milhares de pessoas têm sido salvas pela fé nEle. Jesus disse que morreria, e morreu. Disse que ressuscitaria, e ressuscitou. Disse que enviaria Seu Espírito para ser o companheiro de Seus seguidores, e enviou.
Não há dúvida: Tudo o que o Senhor deseja ele o faz, no céu e na terra, nos mares e em todos os abismos (Salmo 115.3). Sim, “o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz” (Salmo 115.3).

4. A quarta atitude, diante de um Deus que é soberano, é viver segundo as Suas instruções. O apóstolo Paulo é bem claro, como sempre, ao nos pedir para guardar “o mandamento imaculado, irrepreensível, até à manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Timóteo 6.14).
Ouso dizer que nosso principal problema não é reconhecer a soberania de Deus, mas nos submeter a ela, deixando que Ele leve cativo o nosso pensamento. Há uma luta em nós. Sabemos que o caminho de Deus é melhor, mas queremos experimentar o nosso. Sabemos que o nosso caminho leva para o nada, mas queremos saber onde fica o nada. Sabemos que Deus nos espera e queremos fazer com que espere, quando poderíamos fruir o Seu trabalho por nós agora.
Como nos ensina a Bíblia, Deus é poderoso para destruir as fortalezas de nossas resistências, para anular os sofismas de nossa razão, para derrubar a altivez do nosso conhecimento contra Deus e para nos levar a obediência segundo o modelo de Jesus Cristo; a nossa disposição para deixar que o soberano Senhor nos dirija produzirá nossa completa submissão (2Coríntios 10.4-6).
Quando nos submetermos ao soberano Deus, viveremos segundo as Suas instruções e seremos felizes.

CONCLUSÃO
Ou cremos num Deus soberano ou cremos em nós mesmos.
Ou cremos num Deus soberano que pode nos tirar da tristeza, ou vivemos na tristeza.
Ou cremos num Deus soberano que pode nos livrar do vicio, ou continuamos viciados.
Ou cremos num Deus soberano que nos salva, ou continuamos perdidos.

Ficamos com o Deus soberano ou ficamos conosco mesmos?
Esta é a escolha essencial.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO