Retendo a Cabeça (Sylvio Macri)

A expressão acima, um tanto estranha, é bíblica. Está em Colossenses 2.19, onde Paulo diz que falsos mestres, baseados em sua auto-suficiência, dispensaram a direção de Cristo “não retendo a Cabeça, com a qual todo o corpo, suprido e organizado pelas juntas e ligamentos, vai se desenvolvendo segundo o crescimento concedido por Deus.” Antes, nos vs. 8 a 10 tinha dito: “Tende cuidado para que ninguém vos tome por presa, por meio de filosofias e sutilezas vazias, segundo a tradição dos homens, conforme os espíritos elementares do mundo, e não de acordo com Cristo; pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e nele, a Cabeça de todo principado e poder, tendes a vossa plenitude.” 
 
Em tempos de grandes novidades eclesiásticas, é bom relembrar o ensino de Paulo, que continua extremamente atual. Cada vez torna-se mais evidente que uma parte da igreja de Cristo desligou-se dele, da Cabeça, para dirigir seu próprio destino e traçar seu próprio rumo. Retêm o “nome” de Cristo na sua fachada, mas não o honram com suas práticas, não obedecem ao seu ensino, nem se submetem à sua vontade. São como corpos sem cabeça, ou com a cabeça errada.
 
Reter a Cabeça é deixar que o Espírito de Cristo dirija a igreja, e não que seu desenvolvimento seja pautado por um projeto de marketing. Reter a Cabeça é crer que a igreja de Cristo não é uma empresa de serviços espirituais, cujo crescimento se baseia em estratégias mundanas, buscando “vender” bens espirituais a pessoas que são tratadas como “clientes”; que ela é “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”. Uma entidade destinada a anunciar “as grandezas daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.” (I Pd.2.9), e não a perseguir o “sucesso” a qualquer custo.
 
Reter a Cabeça, é pregar o genuíno evangelho de Cristo, e não ensinos requentados do judaísmo, nem o neo-misticismo que mistura a Palavra de Deus com crenças populares. E nem a teologia da falsa prosperidade que prega um reino deste mundo ou princípios de auto-ajuda. Reter a Cabeça é falar de cruz e ressurreição, de pecado e arrependimento, é oferecer a graça de Jesus que pode ser recebida somente pela fé. É deixar claro que haverá juízo e retribuição para os que rejeitarem essa graça. Reter a Cabeça é ir em busca dos perdidos onde quer que estejam, para restaurá-los em toda a sua dignidade humana.
 
Reter a Cabeça é deixar que somente ele, Cristo, seja o Senhor da igreja, e não pastores, bispos, apóstolos, missionários, patriarcas, etc. É não ter nenhum intermediário entre o membro da igreja e Cristo. Reter a Cabeça é não permitir que crentes em situação de fragilidade sejam abusados e percam a fé. Reter a Cabeça é fazer com que a Palavra seja o centro do culto, pois o mais importante é ouvir o que a Cabeça tem a dizer. Reter a Cabeça é cuidar dos pobres e oprimidos, pois é isso que ele faria se estivesse em nosso. É lutar pela justiça, não nos descuidando nós próprios de sermos justos.
 
Que Deus nos permita continuar retendo a Cabeça, se é que o estamos fazendo! 
     
Pr. Sylvio Macri