ACADEMIA DA ALMA 3/1 — O DESEJO

EXERCÍCIO 3-1 

O DESEJO 

A decisão é o segundo passo 

UMA PERGUNTA…

Se eu não fosse cristão, o que me daria prazer? 

… DUAS RESPOSTAS.
"Não se reprima!"
(Menudos — 1984) .

"O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. Quem é capaz de compreendê-lo?"(Jeremias 17.9)  

PARA MEDITARSalmo 73.21-28  

PARA MEMORIZAR"O desejo dos justos resulta em bem" (Provérbios 11.23a– NVI).  

PARA PENSAR"O homem deseja tantas coisas, e no entanto precisa de tão pouco" (Johann von Goethe)  

PARA VIGIAR

NÃO serei escravo dos meus desejos.  

PARA ALCANÇARDesejo desejar o que Deus deseja porque sei que é o melhor para mim. 

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A FORÇA DO DESEJO 

Os cristãos, humanos sendo, precisam aprender a lidar com os seus desejos.
O que leva uma mulher, mãe de filhos, a deixar seu marido, para viver um "tórrido amor" com um homem mais jovem? O que lhe leva, advertida, a reconhecer: "sei que estou errada, mas é isto que eu quero agora para a mnha vida"?
O que leva um pastor casado a se enamorar de uma jovem e decidir jogar tudo para o alto para viver com ela, mesmo que seus amigos tenham feito fila para lhe gritar: "acorda, meu amigo"?
O que leva um jovem calmo e tranqüilo a não ficar na casa de recuperação de dependência química em que entrara voluntariamente?
Conhecemos histórias muitas como estas, como de corpos destruídos por pizzas e chocolates.
Também conhecemos histórias de mulheres e homem que deixam ambientes confortáveis e prósperos, com suas necessidades atendidas, para viverem, contra tudo e contra todos, em lugares difíceis em que há recursos muito escassos em termos de alimentação e comunicação.
O que leva um casal sem filhos a percorrer quilômetros para conhecem um recém-nascido que pode ser seu filho e quando o vê recebe-o às lágrimas de alegria?
Nós somos nossos desejos. Os desejos são as molas propulsoras da história, como ensinou Aristóteles: "Só há um princípio motor: a faculdade de desejar" ("Tratado da Alma"). 

RESPOSTAS AO DESEJO 

O que fazer com os desejos? 
De um lado, vem a sugestão: devemos eliminá-los.
Alguns filósofos greco-romanos propunham que "o desejo é a causa de todos os males" (Epicuro). Logo, "a supressão dos desejos é também um remédio útil contra o medo" (Séneca, em "Cartas a Lucílio"). O conselho corre cristalino, nesta corrente: "Desterra de ti desejos e receios e nada terás que te tiranize" (Epicteto).
O budismo ensina: "Os desejos humanos são infindáveis. São como a sede de um homem que bebe água salgada, não se satisfaz e a sua sede apenas aumenta" ("Sutra Vaipulya"). O taoísmo segue a mesma pegada, ao ensinar que a "ausência de desejos traz tranqüilidade" ("Tau-te-King), que é o mesmo que dizer que "a libertação do desejo conduz à paz interior" (Lao-Tsé), uma vez que "não há culpa maior do que entregar-se às vontades; não há mal maior do que aquele de não saber contentar-se. Não há dano maior do que nutrir o desejo de conquista" (Lão-Tsé em "A Regra Celestial"). 

De outro, vem o conselho contrário, como expresso numa música emblematicamente popularissima nos anos 80 do século 20. 

NÃO SE REPRIMA
Canta, dança, sem parar
Sobe, desce, como quiser
Sonha, vive, como eu
Pula, grita, ô ô ô ô
Não segure muito teus instintos
Porque isso não é natural
Sai do sério, fala alto, dá um grito
forte quando queira gritar
É saudável, relaxante, recupera e
faz bem à cabeça 

Por isso…
Dança, canta, grita, ô ô ô ô
Vá em frente, entra numa boa
porque a vida é uma festa
Não console, não domine,
não modere, tudo isso faz muito mal
Deixe que a mente se relaxe faça
o que mandar o coração 

Por isso…
Canta, dança, grita, ô ô ô ô
Não se reprima, não se reprima
não se reprima
Não se reprima, não se reprima,
pode gritar
Não se reprima, não se reprima,
não se reprima
Dança, canta, sobe, desce, vive,
corre, e pula como eu 

Canta, dança, sem parar
Sobe, desce, como quiser
Sonha, vive, como eu
Pula, grita, ô ô ô ô 

Chega de fugir de se esconder e
deixar a vida pra depois
Não persiste mas se o mundo quer,
o tempo corre
Nada vai te esperar
Entra de cabeça nos teus sonhos, só assim
você vai ser feliz 

Por isso…ô ô ô ô
Não se reprima, não se reprima, não se reprima
Não se reprima, não se reprima, pode gritar
Não se reprima, não se reprima, não se reprima
Não se reprima, não se reprima, pode gritar
Não se reprima, não se reprima, não se reprima…
(Menudos, 1984) 

Seria isto "transmutar as fantasias do desejo em realidades", próprio do "homem enérgico e bem sucedido", como indicou Sigmund Freud (em "Cinco lições sobre a psicanálise")? 

O PARADOXAL CAMINHO CRISTÃO 

Não se pode confundir a proposta cristã com outras propostas. Tem razão Jonathan Swift, quando lembra que "o método estóico de enfrentar as necessidades suprimindo os desejos equivale a cortar os pés para não precisar de sapatos" ("Pensamentos sobre diversos Aspectos Morais e Divertidos"). 

A Bíblia não suspende o paradoxo humano. Um dos provérbios lembra: "O desejo que se cumpre deleita a alma; mas apartar-se do mal é abominação para os tolos" (Provérbios 13.19). O desafio é como deleitar a alma sem pecar.
Escrita para se guia para os nossos desejos, eis o que a Escritura sagrada ensina:

1. Deus considera os nossos desejos e promete satisfação para eles (Salmo 37.3-5) 

2. Nossos desejos estão contaminados pelo pecado.
Nem todos os nossos desejos são santos, logo legítimos. Nem todos os nossos desejos são pecaminosos, logo ilegítimos. O desafio maior da vida é impedir que o desejo nos controle e nos faça dele seus escravos, o que acontece só com os desejos ruins, já que os bons, por definição, não sabem escravizar.
Por isto somos desafiados a não permitir que o pecado nos domine, fazendo com que obedeçamos aos seus desejos (Romanos 6.2). Não podemos ignorar que "o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu" em nós "todo tipo de desejo cobiçoso, pois, sem a Lei, o pecado está morto" (Romanos 7.8). O conselho é forte, porque difícil: "Revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne http" (Romanos 13.14) 

3. Precisamos pastorear nossos desejos.
3.1. Devemos reconhecer a força do desejo, recebendo-o como "o fogo que trazemos ao nascer" (Arthur Schendel) É por isto que Jesus sempre recomendou que nos olhássemos dentro de nós mesmos (Marcos 7.20-23). É no plano do desejo que a vida se decide; daí: "cuidado para que a luz que está em seu interior não sejam trevas. Logo, se todo o seu corpo estiver cheio de luz, e nenhuma parte dele estiver em trevas, estará completamente iluminado, como quando a luz de uma candeia brilha sobre você". (Lucas 11.35-36).  
3.2. Devemos formular claramente nossos desejos. Todas as instruções bíblicas sobre oração, o território por excelência dos desejos, trazem implícitas estas orientações. O elogio ao desejo estã presente também fora da Bíblia, repercutindo-a.
— "O desejo é a própria essência do homem, ou seja, o esforço pelo qual o homem se esforça por perseverar no seu ser" (Baruch Espinoza — "Ética"
— "Nunca te esqueças de formular o teu desejo. Creio que não se cumprem, mas há desejos a longo prazo que duram toda a vida, de modo que não se podia esperar o seu cumprimento" (Rainer Maria Rilke)
— "O desejo vence o medo, atropela inconvenientes e aplaina dificuldades" (Mateo Alemán)
— "É necessário que o desejo seja irritado por obstáculos […]. O homem que nada deseja é, certamente, mais infeliz do que o que sofre" (Paul Holbach).
3.3. Devemos verificar a legitimidade de nossos desejos à luz da Bíblia, para ver se não estão contaminados pelo pecado, para ver se estão inscritos nos capítulos das necessidades. Somos responsáveis por aquilo que fazemos com os nossos desejos. O bisturi bíblico disseca o corpo do pecado: "Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte" (Tiago 1.14-15). A vida prática demonstra que "o desejo é capaz de cegar, até um sábio" (Moses Ibn Ezra), uma vez que "os homens são mais conduzidos pelo desejo cego do que pela razão" (Baruch Espinoza, no seu "Tratado Político").
Por isto, precisamos aprender a relativizar os nossos desejos (perguntando-nos: será que são tão cruciais como parecem?), para que não ocupem mais espaço que as nossas necessidades, embora seja verdade que "o ser humano tem muito mais desejos que necessidades" (Johann von Goethe). "O homem é a criação do desejo e não a criação da necessidade" (Gaston Bachelard — "A Psicanálise do Fogo"). Nesta relativização, "antes de desejarmos fortemente uma coisa, devemos examinar primeiro qual a felicidade daquele que a possui" (François La Rochefoucauld).
3.4. Somos chamados a crucificar os desejos que estiverem fora de controle porque são filhos e pais do pecado (Gálatas 5;24), fazendo morrer tudo o que pertence à nossa natureza terrena e nos revestindo do novo, "o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador" (Colossenses 3.5-10). O mandamento bíblico é direto: "Cada um saiba controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa, não dominado pela paixão de desejos desenfreados, como os pagãos que desconhecem a Deus" (1Tessalonicenses 4.4-5). Como "estrangeiros e peregrinos no mundo", precisamos nos abster "dos desejos carnais que guerreiam contra a alma" (1Pedro 2.11).
3.5. Devemos buscar realizar os nossos desejos, sabendo que "existem dois objetivos na vida: o primeiro, o de obter o que desejamos; o segundo, o de desfrutá-lo. Apenas os homens mais sábios realizam o segundo" (Smith , L. — "Afterthoughts"). É por isto que Jesus nos ensinou a pedir pela satisfação de nossos desejos (Mateus 6.6, 33).Nesta busca, não se deve esquecer que há um preço de sabedoria. "Quem de vocês quer amar a vida e deseja ver dias felizes? (..) Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz com perseverança" (Salmo 34.12, 14).
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PARA EXERCITAR (ACORDE) 

1. Faça um inventário pessoal, perguntando-se: "Se eu não fosse cristão, eu teria os mesmos desejos que tenho?". (AUTO-CONHECIMENTO) Veja sinceramente se este é o seu desejo: "Gosto de ouvir meu Senhor falar e onde vejo as pegadas de Seus sapatos na terra, ali desejo colocar minhas pegadas também". (John Bunyan).
2. CONFESSE os seus desejos, fazendo uma lista (mentalmente ou por escrito) dos desejos bons, que precisa realizar, e dos desejos pecaminosos, que precisa abandonar.
3. ORE especificamente sobre os seus desejos, para que Deus os transforme. Leia o capítulo 6 de Mateus e se pergunte se tem buscado em primeiro lugar o que deve estar em primeiro lugar na sua vida.
4. REFLITA sobre o projeto de Deus para a sua vida. Memorize Jeremias 29.11-12, aplicado diretamente a você: "Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês — diz o Senhor, planos de fazê-lo prosperar e não de lhe causar dano, planos de dar-lhe esperança e um futuro. Então você clamará a mim, virá orar a mim e eu o ouvirei".
5. DECIDA formular seus desejos segundo os mandamentos de Deus, com prazer, não com peso.
6. EMPENHE-SE para apaixonado por Deus. Cuide para não ceder à sedução de outras perigosas e passageiras paixões. 

LEITURAS SUGERIDAS
BUNYAN, John. O peregrino. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
MANNING, Brennam. O impostor que vive em mim. São Paulo: Mundo Cristão, 2006.
NOUWEN, Henri. A voz íntima do amor. São Paulo: Paulinas, 1999. 

MENSAGEM PARA LER
AZEVEDO, Israel Belo de. AS PAIXÕES DE UM CRISTÃO.