NÃO MAIS SUPERFICIAL

Seus avós eram ativos na igreja, depois de uma linda conversão, que trouxe significado às suas vidas.
Seus pais eram ativos na igreja. Ele, discreto, tinha um grande prazer em contribuir, tanto que entregava seu dízimo todos os domingos, já que era lojista. Ela, mais expansiva, gostava de ensinar; sempre foi professora: de crianças, primeiro, de senhoras, mais tarde. Ambos gostavam de receber pastores para almoçar aos domingos em sua casa.
O menino, filho único, cresceu naquele ambiente, formado por hinos, orações, leituras da Bíblia e pelos testemunhos dos pais.
Na adolescência, pediu para ser batizado.
Na juventude, circulava pela igreja, envolvendo-se em dois ministérios.
Sempre bem comportado, casou-se na igreja e teve duas filhas e um filho. Tal como seu pai, que morreria cedo, também optou pelo comércio. Continuou nos seus ministérios. Com o tempo, passou a faltar às suas escalas, trocadas por algum evento esportivo na cidade ou pela televisão.
Seu filho mais novo lhe fazia companhia. Frequentava os cultos de vez em quando.
Sua filha mais velha era líder, primeiro nos juniores, depois nos adolescentes.
A outra menina deixou de participar completamente da igreja.
Enquanto sua mãe vivia, ele ainda participava.
Ele se queixava da loja.
Na verdade, nunca ousou, nunca tentou nada diferente, mesmo quando viu seu ramo perder a dinâmica, tragado pelas mudanças tecnológicas.
Ficou doente, com um problema no joelho direito, do qual não melhorava.
Em busca da cura, começou a frequentar outras igrejas. Na sua, nunca participou de um culto de oração. Nunca se matriculou na Escola Bíblica, da qual só participou na infância. Nunca se envolveu de verdade.
Era superficial nos negócios. Era superficial na fé.
Cansado, voltou. Sozinho.
Preferiu os assentos do fundo.
Queria entrar e sair sem ser notado.
Participava dos cultos, mas sem empenho. Queria um coração novo, um coração que cresse, um coração que se envolvesse, um coração para quem a cruz o fizesse cantar e se agitar.
Num destes cultos, em que a música fazia os presentes vibrar em pé, ele continuava assentado, com os olhos fixados em coisa alguma.
No entanto, entre tantos, um verso da Bíblia foi lido, num versão que não conhecia, que do púlpito informaram ser “A mensagem”. Quando o ouviu, ficou em pé. Intimamente o repetiu:
— Quando a Palavra de Deus entrou na minha vida, ela se tornou parte do meu ser.
(Salmo 40.8b)
Ele se perguntou:
— Quando a Palavra de Deus entrou na minha vida?
Não lembrou.
Assentado, ali, quase ignoto, na última fila, tomou uma decisão:
— Senhor, quero que a tua Palavra entre agora no meu coração.
Repetiu.
De repente, estava cantando animadamente como tantos cantavam. Ficou em pé.
Antes de o culto acabar, saiu.
Estava leve.
Prometeu que, na segunda-feira mesma, iria procurar o pastor da igreja para dizer que sua vida cristã estava começando.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO