Israel ou Palestina? (Marco Wanderley)

Esta é uma questão que gera muita discussão por estas bandas. Aliás, estava sempre atento, enquanto na Jordânia, de não me referir a "Palestina" como Israel, pois boa parte da população daquele país é composta de refugiados palestinos e seus descendentes. Eles sempre me corrigiam quando falava "Israel". Graças a Deus sou brasileiro e, por hora, não tenho maiores vínculos com esta questão.

Porém, neste Domingo pela manhã, estava em uma das Igrejas que tenho frequentado em Jerusalém e na hora das boas vindas aos visitantes uma moça da Alemanha se apresentou, dentre outros visitantes. Entusiasmada disse que um amigo lhe havia recomendado que, "indo à Jerusalém, não deixe de ir à Igreja…". Na sua fala, porém, ela inocentemente falou que havia ido à Palestina e agora estava em Israel. Naturalmente, se referia aos territórios sob a administração da Autoridade Palestina.

Ao término de sua apresentação, foi abordada por um membro da igreja que lhe deu as boas vindas, mas passou a adverti-la, com certa rispidez, que não falasse assim, pois "Palestina" não existe e sim "Israel". Presenciei a cena e disse ao meu filho: "Por estas e outras é que perdemos as pessoas, muitas vezes".

A moça ficou um tanto quanto perplexa, mas ouviu atentamente os argumentos do irmão e assentou-se. Já que estava por perto, aproveitei para dar-lhe as boas vindas de sua viagem à Palestina e sua visita à Igreja naquela manhã.

Alguns minutos depois, não satisfeito, o tal irmão retornou e passou a falar de uma forma mais veemente, exortando-a, demonizando os  árabes e muçulmanos e, ao final, fechou seus argumentos com um contundente "em nome de Jesus", sob um estarrecido silêncio da parte da irmã. Pensei: "já era. Agora ela vai embora". Imediatamente, ela assentou-se para colocar seus pertences na bolsa e partiu. Lamentei pelo ocorrido, pedi desculpas a ela, mas não havia mais "clima" para cultuar naquela comunidade. Que recepção e decepção!!!

Certamente este é um dos muitos casos de pessoas que aqui em Israel, não entendendo a complexidade do assunto "Israel x Palestina", tendo uma formação fundamentalista e como tal, fazendo uma abordagem literalista e infantil da Bíblia, colocam-se à favor do Estado de Israel e todas as suas ações, sem qualquer reflexão e, sobretudo, sem coração, o que é comum, perdoem-me, à todos os fundamentalismos, seja cristão, judaico ou muçulmano, político ou ideológico.

Foi por esta razão que no ano passado em Nazaré, no encontro para a Celebração dos 100 anos dos Batistas em Israel todo o auditório ouviu de um pastor árabe: "Amem os judeus, mas amem também os árabes."

Este é um pequeno exemplo para destacar o desserviço que muitos cristãos tem prestado à questão "Israel x Palestina". Assim como a imprensa secular fala do que não sabe, geralmente favorecendo os palestinos, a Igreja, especialmente de matiz Evangélica, apoia incondicionalmente a Israel, ignorando a justa reivindicação de um Estado Palestino e fechando os olhos para as condições, em alguns casos subumanas, em que estes vivem.

Este tipo de atitude agrava a situação e contribui para aumentar as dificuldades em busca de uma solução. Colocando de lado valores bíblicos fundamentais e inegociáveis, tais como a Justiça, a Misericórdia e o Amor, e se fechando no "dogma", a Igreja contribui para adiar a busca de uma solução.

Entendendo que devemos ser agentes da paz ("Bem-aventurado os pacificadores…") creio que devemos, não somente na oração (o que alguns fazem), mas em nossas ações e atitudes, contribuir para o entendimento e solução negociados. Talvez devemos começar pela não demonização dos muçulmanos, geralmente todos colocados no pacote "terroristas".

Sobretudo, é necessário conhecer mais acerca dessas temáticas para darmos opiniões mais justas e acertadas. Aliás, é por esta razão que criei o www.pordentrodoorientemedio.com, a fim de informar e dar subsídios maiores, especialmente aos falantes do Português, para uma boa compreensão destas questões que vemos a toda hora, mas que assumimos, geralmente, a versão dos que querem nos manipular em razão da falta de informações.

Não há outra solução para a paz nesta região: Israel e Palestina são inevitáveis e imprescindíveis!