Senhor, eu te peço pelos enlutados,
mas pelos enlutados que amaram
os que agora são com lágrimas lembrados.
Eu te peço pelos enlutados,
que, não importa o tempo da partida,
sentem como se fosse hoje a despedida.
Eu te peço pelos enlutados,
que mantêm na bolsa ou sobre a mesa
a relíquia de uma foto como muro para a incerteza.
Eu te peço pelos enlutados,
que ainda hoje, quando abrem a face,
uma lágrima invisível ainda lhes nasce.
Eu te peço pelos enlutados,
em que a saudade não passa,
por mais que os dias são trocados.
Eu te peço pelos enlutados,
sim, mas o que desejo?
que seus queridos sejam esquecidos?
que seus tesouros sejam saqueados?
que seus sorrisos sejam substituídos?
que seus feitos sejam ignorados?
que seus méritos sejam diminuídos?
Eu te peço pelos enlutados:
que suas lágrimas continuem fluindo,
porque foram lindos aqueles tempos
em que seus corpos se fundiram
em que suas almas se divertiram;
que recolhas cada pétala de dor
e as espalhes sobre a memória ferida
e faças da morte deles um tributo à vida,
que segue um caminho difícil de trilhar
mas não solitário porque quem contigo está
não segue sozinho, como se não tivesse mão
que, na travessia, curta ou longa, se lhe dá,
porque sua companhia é a melhor definição
do que seja, para os tristes, a verdadeira consolação.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO