GENTE COMO A GENTE 01 (MATEUS): NÃO COBRAR ALÉM… (Érica Peixoto)

Se eu fosse Jesus provavelmente não pensaria em convidar para o rol dos doze que mudariam o mundo alguém como Mateus. Ainda bem que eu não sou. Mateus era um publicano, um cobrador de impostos incumbido de tributar comerciantes, pescadores etc. A pressão imposta pela tributação romana representava um pesado jugo e foi por isso responsável por diversas revoltas. Além disso, os publicanos eram frequentemente desonestos, ladrões, oportunistas, que cobravam além do devido, por isso eram vistos com maus olhos pela população. Por outro lado, as rotineiras sobretaxas, propinas e extorsões coletadas diariamente faziam com que essa profissão fosse extremamente lucrativa para quem a exercia. A tentação do dinheiro fácil, rápido e sem esforço sempre existiu… Mateus era um homem relativamente abastado. Mergulhados que estamos na cultura do mérito, sentimo-nos tremendamente incomodados e desconfortáveis ao saber que foi a esse homem desonesto e corrupto que Jesus chamou para estar com ele. 
 
“E, depois disso, saiu e viu um publicano, chamado Levi (Mateus), assentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu. E fez-lhe Levi um grande banquete em sua casa; e havia ali uma multidão de publicanos e outros que estavam com eles à mesa. E os escribas deles e os fariseus murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas sim os que estão enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores, ao arrependimento”. (Lucas 9.27-32)
 
Não é difícil entender por que os fariseus e doutores da lei ficaram escandalizados quando viram Jesus comendo com Mateus e seus companheiros. Os fariseus eram exímios cumpridores da lei, se preocupavam com os mínimos detalhes da lei e agora, lá estava Jesus com um homem que havia levado a sua vida sem dar a menor importância para os mandamentos de Deus.  A graça de Deus é mesmo como um soco no nosso estômago e no nosso legalismo!
A experiência de Mateus, de cobrador de impostos a evangelista, mexe com as nossas estruturas e nos faz pensar. Pensar sobre o favor imerecido de Deus, pensar sobre nosso materialismo consumista que nos aprisiona, pensar sobre nossa indisposição para abandonar tantas coisas… Nossa visão de santidade muitas vezes tem a chancela capitalista de produção, onde é mais quem faz mais. Frequentemente  nos esquecemos que santidade tem menos a ver com as coisas que fazemos pra Deus e muito mais a ver com o que somos em Deus. Enfim, precisamos pensar nas pesadas cargas de cobrança que fazemos aos outros e a nós mesmos. Precisamos aprender a não cobrar além…