Adoração é um dos assuntos mais discutidos no momento pelos evangélicos brasileiros, Infelizmente, porém, essa discussão tem mostrado que há uma grande indefinição do que é realmente a adoração, sendo o erro mais freqüente confundi-la com outras atividades da vida cristã, tais como o louvor e a música cantada (aliás, estas duas também são freqüentemente confundidas como sendo a mesma coisa).
Não é preciso ir muito longe para ter uma definição adequada de adoração: ela está na própria Bíblia, no Salmo 95. Vejamos, então, o que diz esse salmo.
No versículo 6 temos o significado da adoração: “Oh, vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor, que nos criou.”. Como diz Derek Kidner, em “Salmos 1-150, Introdução e Comentário” (Edições Vida Nova, SP, 2000), p. 366, “cada um dos três verbos principais do v.6 implica em abaixar-se diante de Deus, sendo que a palavra padrão para adorar nas Escrituras significa prostrar-se.” No Velho Testamento, na esmagadora maioria das vezes, adorar é a tradução do verbo hebraico “sahah”. No Novo Testamento é a tradução do verbo grego “proskyneo”. Em ambos, o sentido é de prostrar-se, encurvar-se, inclinar-se, e sempre com o rosto em terra. Aqui no Salmo 95 o poeta usa mais dois verbos para reforçar essa idéia de encurvar-se com o rosto em terra. Pedro ensina: “Humilhai-vos sob a poderosa mão de Deus, para que ele a seu tempo vos exalte.” (I Pd. 5.6).
Nos versículos 1, 2, 7 e 10 temos o conteúdo da adoração: cantar, celebrar, dar graças, ouvir a Palavra de Deus e andar nos seus caminhos. Portanto, como disse o famoso cantor evangélico americano Michael W. Smith, “adoração é um estilo de vida”, isto é, abrange a todos os aspectos da vida cristã. Todos os atos do crente têm um conteúdo de adoração. Em Colossenses 3.16 Paulo diz: “Ensinai e aconselhai uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais”, mas logo antes tinha falado em um coração cheio de compaixão, bondade, mansidão, paciência, perdão, amor e paz, habitado pela riqueza da Palavra de Deus (Cl. 3.12-15), e logo depois ensina: “Tudo quanto fizerdes, quer por palavras, quer por ações, fazei em nome do Senhor Jesus, dando graças por ele a Deus Pai,” (Cl. 3.17).
Nos versículos 1, 3, 4, 7 e 9 temos a razão da adoração. Nós adoramos a Deus porque ele é o Deus soberano, o grande Rei, o Criador e Sustentador da terra e do mar, é o nosso Supremo Pastor, é a Rocha da nossa salvação e tem feito maravilhas em nossas vidas. Quer dizer, a nossa principal motivação para adorar o Senhor é o que ele é, mas também o adoramos pelo que ele faz por nós. Mas, acima de tudo, porque somos o povo que ele pastoreia, o rebanho que ele conduz. Como disse Jesus, a figura que a ovelha mais ama e reverencia é a do pastor: “As ovelhas ouvem a sua voz, ele as chama pelo nome e as conduz (….) Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem.” (João 10.3,14).
Nos versículos 8, 10 e 11 temos o resultado da adoração. O verdadeiro adorador tem um coração obediente e entra no descanso do Senhor. A menção de Meribá e Massá é para lembrar que o mesmo povo que cantou com Miriã na saída do Egito rebelou-se e descreu da Palavra do Senhor inúmeras vezes no decorrer da sua história. O profeta Isaías registra a queixa do Senhor: “Este povo se aproxima de mim e me honra com os lábios e com a boca, mas o coração deles está longe de mim; o seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens, aprendidos de forma mecânica.” (Isaías 29.13). A verdadeira adoração produz a obediência sincera e a certeza de desfrutar da obra completa de Deus.
Pr. Sylvio Macri
I. B. Central de Oswaldo Cruz, Rio, RJ