“Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: onde estás? Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi” (Gn 3. 8-10).
A guisa de esclarecimento, entende-se por monólogo a peça teatral ou cena em que fala um único ator.
Não há diálogo ou colóquio, e sim, um monólogo ou solilóquio.
Na geografia do Éden Deus travou um diálogo com Adão após tê-lo encontrado.
Supostamente Adão se arrependeu, reconheceu sua falta e acolheu a disciplina de Deus.
Mas o problema não terminou ali.
O diálogo com Adão se converteu em monólogo e a clássica pergunta de Deus – “HOMEM! ONDE ESTÁS?” – vazou o tempo, as eras, a história, e continua ecoando pelo universo inteiro.
A pergunta não é mais dirigida a Adão, mas à sua linhagem – a parte da raça humana que constitui os eleitos para a salvação em todas as épocas, que, por natureza, se tornou solidária ao pecado original.
Deus é o protagonista que revela o seu amor à humanidade que, existencialmente, se esconde dele.
Mas Deus não desiste do que lhe é mais caro, mais precioso – a geração eleita que hora Deus chama de homem e hora chama de filho.
Em que mundo, em que estrela tu te escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde, desde então, corre o infinito…
Onde estás, Senhor Deus?”
Castro Alves, o autor destes versos, expressou assim sua fome e sede de Deus.
Sua poesia se converteu em oração, súplica, lamento e senso de abandono, fazendo-nos lembrar que há milhares de anos, lá no Éden, nossos primeiros ancestrais desobedeceram a Deus e dele se esconderam.
Em dado momento ouviram alto e retumbante a mesma pergunta que ecoou da boca de Deus:
“HOMEM! ONDE ESTÁS?”.
Em sua fuga pertinaz, você tem se escondido de Deus durante toda a sua vida.
Você tem evitado os cenários sagrados, os lugares de devoção e ambientes de fé.
Então você grita: “DEUS! ONDE ESTÁS?”.
E EM MONÓLOGO, DEUS LHE RESPONDE:
Eu estou aqui bem perto de ti e tu não me vês; tu não te dás conta de que na tua memória genética há o registro de que quando eu te buscava tu te escondias de mim!
Agora, tu me perguntas: ‘DEUS! ONDE ESTÁS?’, quando há séculos eu lhe fiz a mesma pergunta: “HOMEM! ONDE ESTÁS?”.
Muito antes de me buscares eu já te procurava.
Muito antes de fugires de mim e te ocultares da minha presença refugiando-te na escuridão do teu débil espírito minha voz já se fazia ecoar na terra a perguntar: “HOMEM! ONDE ESTÁS?”.
Adão me respondeu e conquanto o tenha expulsado do paraíso eu o perdoei. Mas tu ainda não me respondeste.
E agora ouço o teu grito: “DEUS! ONDE ESTÁS?”.
Sinto a dor do teu espírito e vejo a tua expressão de desalento.
Vejo também a tua ignorância acerca da minha Palavra. Não leste na Escritura do salmo 46, verso primeiro, que Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações?
E no mesmo salmo, verso 11, que o Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio? Não leste?
Também não leste na Escritura do salmo 34, verso 18, que perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido? E também o verso 22 onde está escrito que o Senhor resgata a alma dos seus servos e dos que nele confiam nenhum será condenado?
Não leste?
E agora que tu clamas por mim, saibas que respondo a todos os que me invocam; perdôo aos que se arrependem, pois tenho em minha natureza a sagrada vocação para perdoar.
Restauro a tua saúde e curo as tuas chagas!
É verdade que também não aceito zombaria com o meu nome sacrossanto. Tu te lembras que na minha Escritura diz que de mim não se zomba, pois eu não me deixo escarnecer?
Mas, na minha ira. Quando não atendo a tua oração, te disciplino e te condeno, ainda assim não deixo de te amar.
A ti perguntei: “HOMEM! ONDE ESTÁS?”, mas tu me respondeste com outra pergunta: “DEUS! ONDE ESTÁS?”.
Ouvi o pulsar do teu coração! Discerni a angústia da tua alma! Interpretei o gemido do teu espírito! Conheci a tua voz…
Agora, inclino-me sobre ti e o acolho à sombra das minhas asas.
Eu te livro do laço do passarinheiro, da seta que voa de dia, da “bala perdida”, da fome e da miséria…
… Porque és meu filho e jamais te desampararei.
Não sabes que Deus-Eu-Sou e o meu Ser-Sendo governa o universo inteiro de forma imanente e transcendente?
Não te dás conta que sou teu Pai e és meu filho?
Pai e filho! Simbiose perfeita de verdade e amor!
Ah, homem! Onde estás que não compreendes o mistério do meu amor?
Nem mesmo ouviste o sussurrar da minha voz aos teus ouvidos quando na minha Escritura em Jeremias 31, verso 3, eu lhe disse que “com amor eterno eu te amei, e com benignidade te atraí”?
Os meus olhos te viram quando eras substância ainda informe.
Eu te conheci quando ainda eras um sonho da minha alma; um projeto de amor no meu coração.
Dei-te o fôlego da minha vida. Dei-te a minha imagem e semelhança. Dei-te o domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal da terra.
Tu não vês que eu perdi noites de sono para conter tuas lágrimas?
Eu te vesti de pele e carne; de ossos e tendões te entreteci.
Ah, que dor! Tu eras o meu melhor sonho, mas te converteste no meu pior pesadelo!
Ah, homem! Onde estás que não sentes a imensidão do meu amor?
Já coloquei cartazes com a tua foto no universo inteiro!
Nunca desisti de te amar!
Não sabes que somente eu posso livrá-lo da terra da sombra da morte e do caos, onde a própria luz é tenebrosa?
Homem! Porque te escondes do meu amor e rejeitas minha afeição?
Quero embalar-te em meus braços…
Quero caminhar contigo sobre as estrelas…
Quero devolver-te a terra que lhe dei por herança…
Já sei! O meu amor te constrange, não é?
Mas, ainda assim eu continuarei a te amar!
Não leste na minha Escritura que eu cumpro as minhas promessas do salmo 40.
Ali diz que eu coloco os teus pés sobre a rocha, firmo os teus passos; ponho nos teus lábios uma nova canção de louvor ao meu Nome para que muitos vejam essas coisas, temam e acreditem que EU SOU O SENHOR.
Não leste?
Não leste na Escritura que eu cuido de ti mais que das aves do céu…
… Que te visto melhor que os lírios do campo…
… E te ensino mais que aos animais da terra?
Sabes por quê?
Porque te amo com toda a força da minh’alma divina!
Eu te procuro desde a eternidade e finalmente te encontrei… Meu filho! Meu filho…
Bato a porta do teu coração…
Aguardo com ansiedade o momento de habitar o teu espírito…
Mas, tu não ouves quando grito: “HOMEM! ONDE ESTÁS?”.
Apenas me interpelas com outro grito: “DEUS! ONDE ESTÁS?”
… Quando deverias responder-me como Samuel: “FALA QUE O TEU SERVO OUVE”.
… Ou como Isaías: “EIS-ME AQUI!”
Ah, homem! Tu não podes fugir de mim. Minha natureza está nos teus átomos.
Conheço cada milímetro do teu corpo. Eu te criei e te amei!
“HOMEM! ONDE ESTÁS?”…
O monólogo acabou, mas a mensagem para você é simples: DEUS ESTÁ A SUA PROCURA!
Ainda hoje, Seu grito-lamento continua ecoando além do tempo e da eternidade.
Deus está te chamando pelo nome: “PEDRO! ONDE ESTÁS?”; “JOÃO! ONDE ESTÁS?”; “MARIA! ONDE ESTÁS?”.