Salmo 001: QUEM INFLUENCIA QUEM?

QUEM INFLUENCIA QUEM?

Salmo. 1

Pregado no Congresso de Adolescentes da Igreja Batista do Fonseca, Niterói, em junho de 1997

1. INTRODUÇÃO
Há alguns que um dia, fiéis a Deus na igreja, desaparecem sem deixar vestígios e sem que aquela experiência anterior parecesse ter algum valor.
: Quem conhece um caso destes?

Somos seres em comunicação; por natureza, precisamos estar uns com os outros.
Felicidade é viver feliz em comunidade, mas sem violência a si mesmo. Se a comunidade nos ajuda a renunicar ao egoísmo, isto é ótimo. Se a comunidade nos impede de sermos nós mesmos (naquilo que é legítimo), isto é péssimo.
No caso de nós cristãos, nossa individualidade foi feita espontaneamente escrava de Deus. Aliás: dá para entender isto de sermos escravos (servos) de Jesus Cristo, como repete o apóstolo Paulo? A vida em comunidade não pode representar outro jugo (que certamente não é suave).

2. O PERIGO DA JUGO DESIGUAL
Nossa comunidade (mundialmente falando) tem valores diferentes dos valores de Deus. Eis alguns, entre muitos outros:

. hedonismo (prazer, aqui e agora, não importa o seu preço, pansexualização da vida, culto ao corpo e à juventude),
. superficialismo (nada de ir fundo, tudo rápido, tudo como se fosse um videoclip, a programação da MTV),
. utilitarismo (banalização dos relacionamentos e das experiências, que devem ser descartadas),
. consumismo como estilo mesmo de vida,
. expulsão de Deus (a religião do homem é o sucesso, entendido como material),

Diante disto, não é fácil não se deixar influenciar. Parece tudo tão natural.
Quando agimos na contramão (mesmo que na mão certa de Deus), ouvimos  tudo quanto é tipo de comentário:
— Olha, que engraçado!
— Olha, que esquisito!
— Olha, que palhaço!
— Olha, que ultrapassado!

Ninguém quer se parecer com um soldado que marcha errado num pelotão onde todos marcham certo.
A pressão é muito forte. A força desta pressão é porque ela é  silenciosa e sutil. Não é muito fácil percebê-la. É uma roda: quando a gente vê, está bem no centro dela, todo sorridente.
Tem muito crente na roda. Quando são questionados, alguns saem com o seguinte argumento:
— Eu não me deixo levar.
Será?

3. OS FRUTOS DA IMPIEDADE (v. 1, 4, 5, 6b)
Eles têm um modo de pensar, ao qual chama de “conselho” (v. 1). Este conselho pode ser pensado como os valores do grupo dos ímpios. Quem não pensar como eles pensam está fora. Eles exercem um verdadeiro terrorismo sobre os outros. Pensar diferente é proibido. Às vezes, são minoria, mas conseguem impor seu conselho, na marra.
Os ímpios seguem um caminho (v. 1b). O caminho deles parece aqueles “trilhos” que os goleiros fazem na pequena área. De tanto bater o pé, as marcas ficam. Os ímpios são livres para viverem se repetindo, fazendo os mesmos programas, como se fossem uma grande novidade. Não têm a menor originalidade.
Os ímpios só sentem bem em “roda” (v. 1c). Nestas rodas, jogam conversa fora. Principalmente, debocham de Deus e daqueles que o seguem. Eles precisam atacar, como forma de autodefesa. Eles fizeram sua escolha e vivem por ela
O duro é quando os conhecedores da liberdade se juntam a eles, aceitando seu conselho, seu caminho e seu escárnio. Quem faz isto esquece que os ímpios, são como “a moinha que o vento espalha” (v. 4). Moinha é palha seca moída. Pode ser comparada à fuligem, aquele pozinho que sobra do fogo. Não dá para segurar na mão. O vento leva. Quando estão em grupo, são os maiorais. Quando se encontram com Deus, é brincadeira: não resistem à primeira pergunta.
Quando as coisas apertam, os ímpios pedem justiça (v. 5a). Começa o julgamento. O advogado faz sua defesa. O promotor acusa. Resultado: condenado. Por mais que jurem inocência, seus argumentos não têm conteúdo.
Eles apelam para a religião (v. 5b), mas Deus não se deixa convencer, porque continua não havendo sinceridade (confissão, arrependimento e fé) neles. Deus conhece o interior dos seus corações: eles não querem mudar absolutamente nada. Eles não querem dar meia-volta em seu caminho e desejam mesmo a ruína, para onde vão (v. 6b). Aqui e no futuro.
O problema é que, apesar de tudo isso, há filhos de Deus achando bonito esse caminho. É assim o caminho da mentira: doce, mas depois a boca de quem o saboreia se enche de pedras (Pv. 20.17).

4. O CAMINHO QUE DEUS JÁ FEZ POR NÓS (v. 2, 3, , 6a)
A liberdade feliz (“bem-aventurado” – v. 1) consiste em ir por outro caminho. Este caminho é conhecido pelo próprio Deus, que já o experimentou, ele que é, por seu Filho, o caminho, a verdade e a vida (Jo. 14.6). Ele faz este caminho conosco (v. 6a). Ter uma companhia como esta, e não a dos ímpios, é uma tranqüilidade.
O modo de seguir este caminho já está mostrado (v. 2). Não o fazemos olhando para ele. Nós o fazemos, fazendo. Nós o fazemos meditando nos conselhos de Deus “dia e noite”.
Na linguagem poética, “dia e noite” quer dizer: ter o coração no assunto. É como você está amando: você não pesna nele/nela dia e noite? Enquanto dorme, ninguém medita: no máximo, sonha. Meditar “dia e noite” hoje significa ler a Bíblia, onde os conselhos de Deus foram reunidos e significa considerar os valores ali apresentados como sendo os seus valores. Ela é a base do nosso comportamento e do nosso pensamento.
Estão na Bíblia os nossos valores, ou nos conselhos dos nossos colegas e/ou nas verdades dos conselheiros da televisão?
O verso 3 descreve a vida de quem vive segundo os valores propostos por Deus. Ele será “como a árvore plantada junto às correntes de água”. Quem vive assim beberá de uma água limpa e corrente, vinda de uma fonte viva. Não vai beber uma água parada. Vai beber uma água sempre renovada, sem perigo de contaminação e sem perigo de acabar. Suas raízes não estão fincadas no deserto (vida vazia), nem no pântano (vida chorosa), mas junto a fontes cristalinas.
Os frutos (testemunho) desta árvore (crente) serão próprios de sua estação (3b). Serão bonitos e gostosos. No tempo da manga, a mangueira florirá. As mangas não vão amadurecer antes da hora. As folhas (testemunho) desta árvore (crente) não cairão (v. 3c). Quem viver assim é uma árvore bonita, forte e saudável. Seus galhos não vão secar, porque ela se alimenta do próprio Deus.
Tudo o que esse crente fizer “prosperará”(v. 3d). Na linguagem do apóstolo Paulo, tudo o que fizer concorrerá para o seu bem (Rm. 8.28)

5. CONCLUSÃO: A ESCOLHA
Em resumo, a pressão exercida sobre nós, no dia-a-dia da vida, não é sentida como pressão, pois, se fosse, poucos cederiam a ela.
Antes de nos deixarmos influenciar, devemos influenciar. Não fugir do grupo, mas mudá-lo, a menos que notemos que estamos perdendo a batalha e vamos nos perder juntos.
O salmista descreve o caminho dos ímpios e propõe como deve ser o caminho dos que procuram viver segundo os valores de Deus.
Na vida, há dois tipos de pessoas: os que seguem os outros e os que são seguidos pelos outros.
Como influenciar:
. olharmos o mundo com a mente de Cristo (e não com a mente do mundo: levar vantagem, fruir o agora, exacerbar o indivíduo, etc), que, na linguagem do salmista, é ter nossas raízes plantadas junto à fonte (Deus) verdadeira;
. firmamo-nos na Palavra de Deus (lendo-a, dia e noite; isto é: importando-se e levando a sério seus ensinos), o que nos habilitará a estar pronto para dar a razão da esperança que move nossa vida (que tem lugar para a música, para o futebol, para a novela e para o estudo da matéria escolar), conforme nos recomenda o apóstolo Pedro;
. ser crítico de nossa propria fé (que pode se tornar uma coisa vazia, mecânica, repetitiva) e do mundo (que raramente nega a Deus com palavra; aliás, se alguem disser que não crê em Deus, nós o rebateremos; se essa mesma pessoa viver como se Deus não existisse, até poderemos imitá-lo.)

Portanto, a maioria se deixa influenciar. A minoria influencia. Em qual galera você se inclui? Não se deixe levar. Leve.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO