UM DIA PARA OS IDOSOS (Sylvio Macri)

Durante o ano a gente festeja as mães, os pais, as crianças, os adolescentes e os jovens. Por que não incluir em nosso calendário o Dia do Ancião? Nossas igrejas também estão inseridas no mesmo contexto de crescimento acelerado da população idosa e precisamos, não somente festejar os anciãos, como também planejar cuidadosamente como lidar com eles, porque eles estão se tornando uma parte cada vez maior do corpo de Cristo, refletindo o mesmo crescimento que ocorre no resto da sociedade, ou talvez tendo até um crescimento um pouco maior, visto que os idosos crentes não se incluem em alguns grupos de risco de mortalidade prematura, como o dos fumantes e o dos alcoólatras. 

O aumento da proporção de idosos na população mundial é um fenômeno tão profundo que tem sido chamado de “revolução demográfica”.  Trata-se de uma explosão demográfica às avessas, pois está ocorrendo um estreitamento da base da chamada pirâmide demográfica. Tradicionalmente a faixa etária de 0 a 14 anos era a mais numerosa, mas deixou de o ser de uns anos para cá. Por exemplo, no Brasil, de 1980 a 2000 houve um crescimento de 14% na faixa etária de 0 a 14 anos e de 107% na faixa etária de 60 anos para cima. Em 1996 nós tínhamos 16 idosos para cada 100 crianças e em 2000 já tínhamos quase 30 idosos para cada 100 crianças.

A população mundial de idosos era de 578 milhões em 1995 e concentrava-se nos países em desenvolvimento, mas isso está mudando rapidamente. Até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de idosos. Enquanto os países desenvolvidos levaram 100 anos para chegar até o atual estágio de envelhecimento, países como o Brasil estão envelhecendo enquanto se desenvolvem. Segundo o IBGE, em 2000 o Brasil tinha 14,5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, em 2010 já tinha 20,5 milhões e em 2025 terá 30 milhões. Especialistas afirmam que 2050 a população de idosos no Brasil será de 64 milhões de pessoas. Em 1900 a expectativa de vida do brasileiro era de 40 anos, hoje é de 73 anos e 4 meses, com a possibilidade de até mais 15 de sobrevida. Atualmente temos em torno de 4 milhões de pessoas com 75 anos ou mais, e 30 mil pessoas com 100 anos ou mais.

Essa é uma tendência mundial, em razão, por um lado, da diminuição da mortalidade infantil ou prematura e da melhoria de qualidade de vida dos idosos, e, por outro lado, da redução dos nascimentos. Aliás, os países desenvolvidos (Europa Ocidental e Japão) estão fazendo campanhas e oferecendo benefícios para incentivar os casais jovens a terem mais filhos, pois estão muito perto de iniciarem um processo de diminuição da população. Daqui a 30 anos 40% da população da Itália, Alemanha e Japão será de idosos.

As conseqüências desse fenômeno são dramáticas. Por exemplo, um levantamento feito pelo Dr. Osvaldo P. Almeida no Pronto Socorro de Saúde Mental da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, constatou que, no ano de 1997, os idosos constituíram 7,3% do total de pacientes atendidos (Revista Brasileira de Psiquiatria, 1999, Vol. 21, Nº. 1). Outro exemplo: o IBGE constatou que, em 2002, quase 9 milhões de idosos, com a idade média de 69 anos, sustentavam a família, e mais da metade sustentava os filhos também. Desse total 37,6% eram mulheres. Descobriu-se que em pequenas cidades do interior do Nordeste são os aposentados que sustentam a atividade econômica. Outro número alarmante: um pesquisador calcula que há mais de 3 milhões de idosos fragilizados no Brasil (idosos fragilizados são, grosso modo, os dependentes em termos físicos, emocionais e econômicos).   

De acordo com os especialistas, o processo de envelhecimento se acelera a partir dos 50 anos (síndrome cinqüentenária). As modificações ocorrem ao nível das células, dos tecidos e do próprio indivíduo. A pele, os rins e o fígado perdem a capacidade de renovar-se. O cérebro, que já nasce com o número contado de células, a esta altura já perdeu uma grande parte delas, e também tem a sua capacidade diminuída. Apesar da não haver doenças específicas da velhice, é nessa fase que se acentuam os problemas circulatórios, respiratórios, urinários, hormonais, e as anemias e carências de vitaminas e sais minerais, muitas vezes provocando desequilíbrios psíquicos, distúrbios alimentares e infecções em grau acentuado. Os indivíduos nessa idade demonstram inflexibilidade, perda de autoestima e diminuem drasticamente a atividade física. Os radicais livres estão envolvidos em praticamente todas as doenças que mais atacam os idosos, como a arterioesclerose, doenças coronarianas, catarata, câncer, hipertensão arterial, doença de Parkinson, mal de Alzheimer, etc. Isso ocorre porque a glândula pineal, que fica no centro do cérebro, diminui drasticamente a produção da melatonina, um antioxidante natural muito mais potente que as vitaminas C e E.

O aumento da população de idosos fez com que surgissem a gerontologia, que envolve demógrafos, sociólogos, antropólogos, economistas, atuários, profissionais da saúde, profissionais da área de comunicações e marketing, etc.; e a geriatria, que é o ramo da medicina que cuida dos idosos. Surgiram também o interesse dos políticos e medidas do poder publico. No Brasil, o resultado mais recente disso foi a promulgação do Estatuto do Idoso em setembro de 2003, depois de tramitar por 6 anos no Congresso.

Em conseqüência da urbanização acelerada, da organização do trabalho e da pobreza, os idosos são em geral vítimas de agressões físicas, psíquicas e emocionais e também de negligência e desamparo. Não há recursos de saúde, não há trabalho, não há abrigo e nem sustento para a imensa maioria dos idosos brasileiros. Além disso, há o inevitável conflito de gerações, gerando mais problemas. O Estatuto do Idoso trata da inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral do idoso, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais. Como diz o Estatuto, é dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

A Bíblia nos exorta a “honrar os anciãos” (Lv.19:32). Creio que a melhor maneira de fazê-lo é tratá-los com dignidade, respeitar seus direitos e prover suas necessidades. Por outro lado, a Bíblia também ensina que os anciãos devem ocupar o seu espaço no corpo de Cristo, para que não somente cumpram sua missão como membros desse corpo, mas também sirvam de referência para o restante dele (Tt.2:2,3). Cabe aqui a pergunta: O que estamos fazendo para que, efetivamente, os idosos ocupem o lugar que lhes pertence na igreja?
     
Pr. Sylvio Macri