Salmo 13 (Carlos Daniel de Campos)

1Até quando Senhor?
Para sempre te esquecerás de mim?
Até quando esconderás de mim o Teu rosto?
2Até quando terei inquietações e tristeza no coração dia após dia?
Até quando meu inimigo triunfará sobre mim?

3Olha pra mim e responde Senhor meu Deus.
Ilumina os meus olhos ou do contrário dormirei o sono da morte.
4Os meus inimigos dirão: “Eu o venci”.
E os meus adversários festejarão o meu fracasso.

5Eu, porém, confio em teu amor;
O meu coração exulta em tua salvação;
6Quero cantar ao Senhor pelo bem que me tem feito.

Parte I – Lamentações

Não é raro pessoas conhecerem os salmos. Talvez nos seja permitido afirmar que é o livro mais conhecido da Bíblia. Tenho certeza que cada pessoa aqui sabe, ou já ouviu falar de algum salmo. Quem nunca recitou ou ouviu o famoso Salmo 23 “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”?  Lembro-me de uma reunião que fizemos em nosso Grupo Pequeno dentro da universidade, onde participavam várias pessoas que não pertenciam a nenhuma igreja. E naquele encontro fizemos uma dinâmica de cada participante dizer um verso bíblico e a maioria das citações foi de Salmos. É muito comum também encontrarmos nas residências, a bíblia aberta em um salmo. Minha tia recitava e mantinha a bíblia aberta no salmo 91, como se aquilo fosse uma espécie de amuleto. Ecoam em minha mente os versos “mil cairão ao teu lado e dez mil a tua direita, mas tu não serás atingido…”.

Em uma classificação literária, o livro dos Salmos é chamado de um livro poético, pela forma como foi escrito – é muito convidativa a sua leitura. Recomendo – Da mesma forma Provérbios, que é o livro que vem logo em seguida.

Porém, parece-nos que com os Salmos nos identificamos mais. É realmente como se cada escritor tentasse colocar no limitado universo das palavras todas as tristezas e alegrias vividas. A maioria dos salmos é de autoria de Davi, mas temos de outros autores também.

Então, é muito comum nos identificarmos com os sentimentos ali expostos. O Salmo de número 13 é carregadíssimo de sentimentos:

Indignação, Súplica, Solidão, Medo, Confiança, Temor, Fé

A expressão que se repete por quatro vezes nos primeiros versos nos transmite a idéia da insistência e ao mesmo tempo da dificuldade do momento que ele passa. Da dor que existe em seu coração. ATÉ QUANDO SENHOR? É sua interrogação. A beleza dos Salmos está justamente nisso: “rasgar a alma diante de Deus”. Por diversas vezes você vai ver confissões como esta.

Até quando Senhor? Pode ser que essa seja a pergunta de bilhões de pessoas ao redor do mundo, ou a pergunta de milhões de brasileiros, ou até mesmo aqui neste dia, seja a pergunta de vários de nós. Ninguém está isento da dor ou de problemas (e existem aqueles problemas que, realmente, nos colocam no chão). Desanima-nos por completo e ficamos como o salmista ATÉ QUANDO SENHOR?  Ou como Castro Alves em seu famoso poema Vozes d’Africa: “Deus. Oh Deus onde estás que não responde?”.  Eis o clamor que ecoa da alma. O grito de desespero, de dor, de súplica por ser ouvido.

Em momentos como esses é comum esse pensamento. O verso 01 diz: “Para sempre te esquecerás de mim?”.  Quando leio este Salmo, um misto de identificação com admiração toma conta de mim.  Até quando Senhor, passarei por isto ou por aquilo? E é complicada essa súplica nos dias de hoje, pois vivemos no mundo dos analgésicos, dos anestésicos. Tudo é permitido, menos sentir dores, pois isto demonstraria fraqueza. A ciência busca meios para o homem viver em um estado indolor.  Os cientistas tem trabalhado no que eles chamam de gene da dor crônica, onde estudam que algumas pessoas são mais pré-dispostas a certas dores que outras. Alterando-o, geneticamente, será possível ir a um estágio avançado da evolução humana. Mas o que dizer dos problemas e sofrimentos ou dores, que não são físicos? A angústia, a tristeza. Sentimentos que vão além de nosso controle.

Lembro-me de um livro que li quando criança, onde havia um personagem que era o Vendedor de Sentimentos. As pessoas iam até ele e compravam um pouco de alegria, um pouco de amor, um kg de paz, etc. Sabemos que era apenas um livro e que coisas assim não estão nas prateleiras dos supermercados, nem nos são proporcionados pelo jeito coca-cola de ser ou pelo amor a tudo isso do Mac Donald’s. Existe uma frase antiga que diz:

“O prazer engravida, mas são as dores que fazem parir”

Humanamente falando, os extremos são ruins para nós. Você e eu somos ventos fortes e fracos, prazeres e dores, silêncio e barulho. Sempre as duas coisas. É isso que traz o equilíbrio, ou melhor, uma vida saudável. Como poderíamos expressar que hoje o dia está lindo com esse céu limpo e sol brilhando, se não tivéssemos, antes, vivido em dias de chuvas e nuvens? 

Existe o lamento, mas não podemos ficar somente nele.

Parte II – Súplica. Oração

Podemos dividir esse Salmo 13 em três partes, e a primeira delas foi a que falamos agora, sobre essa lamentação, esse escancarar da alma diante de Deus. Já na segunda parte o que vemos por parte do salmista é algo como uma súplica, uma oração:

3Olha pra mim e responde Senhor meu Deus. Ilumina os meus olhos…”

Uma vida somente de lamúrias, de reclamações não resolve. Quantas e quantas pessoas que conhecemos que vivem vidas assim. Somente sabem reclamar. Reclamar da vida, dos problemas, de suas dores. Eu conheci uma pessoa assim. Só reclamava. Engraçado que essas pessoas que reclamam, reclamam, quando acontece algo de bom com elas, não há nenhuma expressão, no sentido de palavras. Não se houve um graças a Deus por aquilo, mas se acontece algo ruim… sai de baixo.

Aprendemos com esse Salmo que existe um segundo momento. O momento da oração direta a Deus. Primeiro ele deu seus gritos de desespero, mas depois, ele, aquietou-se, imagino eu, e com temor se dirige a Deus com uma simples oração: “Senhor, olha pra mim, veja o que tenho passado, responda minhas indagações. ILUMINA MEUS OLHOS para que eu consiga ver uma solução para tudo isso”.

Não pense que Deus NÃO te ouvirá. Roguemos a Deus para ele, realmente, iluminar nossos olhos nas decisões que temos que tomar, nas soluções que precisamos conseguir. No entanto, não nos esqueçamos que o kayrós de Deus, não é Kronos do homem. As duas palavras são gregas e expressam tempo, porém uma na perspectiva divina, o que algumas pessoas chamam de destino, e o outro na ótica humana. O apóstolo Paulo rogou a Deus por um problema que tinha. A expressão é “um espinho na carne”, por isso acreditamos que poderia ser algum problema relacionado ao corpo. E para Paulo já estava no Kronos de ser curado. Mas a resposta de Deus é que ainda não era o Kayrós. E acrescenta: “A minha GRAÇA te basta”. O que leva Paulo a dizer:

“Quando sou fraco, então é que sou forte”

Será que se vivêssemos uma vida totalmente sem problemas, ainda assim buscaríamos a Deus? Quando sou fraco, na perspectiva humana, então é que sou forte, pela perspectiva divina, porque aí que me achego mais a Deus.

Nós aqui somos uma comunidade cristã. Seguimos os ensinamentos de Jesus e temos como nosso livro de cabeceira a Bíblia Sagrada. Não sei se todos aqui acreditam nisso ou se vivem suas vidas baseadas nesses ensinamentos. Mas quero dizer pra você. O fato de ser cristãos não nos torna imunes aos problemas do dia-a-dia. O próprio Jesus orou: “Pai, eu lhe peço não os tire do mundo”. Quer dizer, estamos inseridos na sociedade e quer queira, quer não vivemos as mesmas realidades. A diferença é que quando algo nos aflige é a Deus a quem recorremos. É diante de Deus que nos ajoelhamos. Infelizmente vemos tantas pessoas recorrendo aos mais diversos recursos para se livrarem de determinadas coisas, quando Deus está tão acessível.

Certa vez li um testemunho de um rapaz que havia procurado uma igreja e resolver levar uma vida séria ao lado de Deus, ou seja, se tornar um seguidor de Jesus. E o pastor foi orar com ele. E o pastor disse:

– repita comigo essa oração: Senhor Jesus, entrego a ti o meu coração, quero viver uma vida nova ao teu lado. Em Teu nome eu oro. Amém.

O rapaz assustou-se e disse ao pastor:

– mas é só isso? Você não vai acender nenhuma vela? Não vai dizer nenhuma palavra mágica? Isso foi tão simples.

Esse o Jesus que nós cremos. Simples. Tão simples que foi preciso Judas dar um beijo em seu rosto para que os guardas o identificassem.

Busque a Deus. Diga como o Salmista: “Senhor, ilumina meus olhos…”

Parte III – Prática

Bem, na última parte do Salmo 13 vemos a expressão de um terceiro momento, mas decisivo, na vida do salmista. Diante de tudo aquilo pelo que ele passava, depois de fazer sua oração a Deus (e não sabemos se ele foi atendido ou não) ele dá uma linda e fantástica declaração

5Eu, porém, confio em teu amor;
O meu coração exulta em tua salvação;
6Quero cantar ao Senhor pelo bem que me tem feito.

Ele estava dizendo: “Olha Senhor, mesmo diante de tudo isso que está acontecendo em minha vida, mesmo sentindo que o Senhor não me ouve mais, ainda assim, eu tomo uma decisão. Eu confiarei em Ti, me alegrarei na tua salvação e cantarei a Ti pelo bem que me tem feito”.

Habacuque capitulo 03, verso 17 e 18 dizem:

“Mesmo não florescendo a figueira, e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, AINDA ASSIM EU EXULTAREI NO SENHOR E ME ALEGRAREI NO DEUS DA MINHA SALVAÇÃO.”

Os versos 5 e 6 do Salmo 13 me fazem refletir e me ensinam que diante dessas dores e problemas que enfrentamos devemos voltar nossos olhos para Deus em três perspectivas:

1.    Razão: Ele toma uma decisão consciente. Está difícil? Está. Tem problemas? Tem. Mas eu decido confiar no amor, na misericórdia de Deus. Nós não queremos que as pessoas venham para nossa igreja levados pela emoção. Não. A decisão de seguir a Jesus, deve ser uma decisão TAMBÉM racional. Um não anula o outro.

2.    Emoção: o verso diz: “o meu coração exulta…”. A palavra coração nos remete às emoções. Creio que tanto razão quanto emoção deve nortear nossa decisão de seguir à Jesus. Muitas coisas ainda não entendemos, mas decidimos seguir. O meu coração exulta na Tua Salvação Senhor, é nossa declaração como a do salmista.

3.    Atitude: o último verso é: “Quero cantar…”. Entendi, senti e agora exerço. Canto com meus lábios a Deus. Adoro ao Senhor, através da música. Mas não só cantar. Servimos a Deus através de atitudes. Demonstramos nossa confiança através de uma música cantada, de um informativo entregue, através da entrega do meu dízimo uma vez por mês, através de um cuidar de crianças, de ligar para o irmão durante a semana e tantas outras atitudes que podemos tomar.

É um Salmo muito bonito de muito aprendizado para gente que também costuma dizer para Deus: “Até quando, Senhor?” e eu encerraria por aqui. Contudo, quando me preparava para esta mensagem de hoje, entendi que Deus também faz essa mesma pergunta para mim e para cada um de nós: “Até quando, Carlos?” (ou João, Pedro, Maria, José)… Ele já fez esta pergunta na Bíblia. Vejamos Êxodo 16.28

“Então disse o SENHOR a Moisés: Até quando recusareis guardar os meus mandamentos e as minhas leis?”

E também Salmo 4.2

“Filhos dos homens, até quando convertereis a minha glória em infâmia? Até quando amareis a vaidade e buscareis a mentira?”

Da mesma forma que abro meu coração a Deus, Ele também o faz para mim. Se cada um de nós sabe a questão que colocamos diante de Deus, de igual modo, cada um de nós sabe qual a questão que Deus coloca diante de nós. Até quando?

O natal é quando celebramos o nascimento de Jesus. E, Jesus entre nós fez muito essa pergunta:

•    Até quando vocês vão achar que Deus está preocupado com suas orações nas praças?
•    Até quando vocês vão olhar mais para o exterior que o para o interior?
•    Até quando vocês vão se achar melhor que os outros só porque eles são de outra etnia?
•    Até quando vocês vão amar somente quem ama vocês?
•    Até quando vocês vão dizer que me amam, mas não cumprirão os meus mandamentos?

Jesus veio para chacoalhar a religiosidade daquela época e faz isto conosco, hoje também. Que este natal a criança que em Belém nasceu também possa nascer em nossos corações para que possamos responder a direta pergunta de Deus: “Até quando brincarão de ser crente?”

Nós vamos orar e eu quero que você pense nesta expressão: ATÉ QUANDO de duas formas:

1.    Em quê você tem usado esta expressão para Deus
2.    Em quê Deus tem usado esta expressão para você

Que Deus nos abençoe!