Abaixo os “amigos” de Jó, 2

Quando se lê que as doenças vêm de causas naturais, vem também a pergunta: "E os espíritos imundos que Jesus expulsou?"
O desafio não é pequeno, mas os Evangelhos nos socorrem.
Segundo os Evangelhos, Jesus curou três grandes tipos de enfermidades.

1. Num primeiro conjunto de textos, somos informados que Jesus curou pessoas que, segundo os evangelhos, eram FISICAMENTE DOENTES, entre as quais estavam mancos, paralíticos, cegos, surdos e leprosos, entre outros.
O texto mais definitivo a respeito destes habitantes dos pátios dos milagres é Mateus 15:30-31, que informa: "E vieram a ele muitas multidões trazendo consigo coxos, aleijados, cegos, mudos e outros muitos e os largaram junto aos pés de Jesus; e ele os curou. De modo que o povo se maravilhou ao ver que os mudos falavam, os aleijados recobravam saúde, os coxos andavam e os cegos viam. Então, glorificavam ao Deus de Israel". (Outros podem ser lidos: Mateus 14.14, 19.2 e 21.14; Lucas 14.2-4).
Neste contexto, precisamos ler um texto específico, que talvez tenha inspirado desdobramentos inadequados: "E veio ali uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já 18 anos; andava ela encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se" (Lucas 13.11). A leitura do texto todo deixa claro que a mulher tinha uma enfermidade física, que hoje chamaríamos de escoliose.

2. Num segundo conjunto de relatos evangélicos (Marcos 1.27, 3.11 e 5.12), ficamos sabendo que Jesus expulsou muitos espíritos imundos de pessoas, sem qualquer relação com enfermidades físicas. Estas eram pessoalmente ESPIRITUALMENTE DOENTES. Quando Jesus agiu, com autoridade, elas ficaram livres do poder do mal sobre as suas vidas. Em Atos dos Apóstolos, encontramos uma jovem que tinha um espírito de advinhação (Atos 16.16), indicando um tipo específico de possessão demoníaca.

3. Há um terceiro grupo de textos, em que endemoninhados (ou possuídos por "espíritos imundos") e doentes são curados.
Precisamos ler alguns deles:
. "Chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele meramente com a palavra expeliu os espíritos e curou todos os que estavam doentes" (Mateus 8.16);
. "Naquela mesma hora, curou Jesus muitos de moléstias, e de flagelos, e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos" (Lucas 7.21);
. "Então, lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou, passando o mudo a falar e a ver" (Mateus 12.22).
Estes três textos (e seus correlatos: Mateus 4.24 e 10.1 e Lucas 6.18 e 8.2) narram ações de Jesus curando endemoninhados e enfermos (fisicamente). Esses textos não juntam as duas dificuldades, mas as separam. Os enfermos (fisicamente), portanto, não estão com espíritos imundos. São situações distintas. Tratam de pessoas diferentes, com problemas diferentes, que vieram juntas a Jesus e foram transformadas.

Assim, das histórias curadoras de Jesus (e também dos apóstolos), não há lugar (absolutamente não há lugar) para a sugestão que o câncer ou uma síndrome de uma pessoa seja um espírito imundo que dela se apossou e precisam ser expulso. [CONTINUA]

ISRAEL BELO DE AZEVEDO