EU POSSO SER SAL
(Mateus 5.13)
Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens.
1. Jesus não diz que devemos ser sal. Ele diz que somos sal.
Com isto, Jesus nos diz que nascemos para ter vidas com sabor. Nascemos para ter vidas com calor, prazer, tempero e alegria. Mesmo conscientes de nossas fragilidades, nascemos para ousar e realizar.
No entanto, muitas vezes vivemos vidas sem sal, vivemos vidas insossas, dominadas pelo medo, marcadas pela tristeza, vinculadas à desesperança, evidenciadas por rostos fechados, dentes trincados, sorrisos escondidos, retratos de memórias amargas.
A contradição é eloqüente, mas não é de Jesus. Ele diz que nossa vida tem sabor. Se a nossa não tem, pode ter.
Como está a sua vida?
Nossa vida é uma oferta ao nosso Deus e nossa oferta deve ter gosto. Em Levítico 2.13 lemos uma recomendação, que podemos validar simbolicamente ainda hoje:
Toda oferta dos teus manjares temperarás com sal; à tua oferta de manjares não deixarás faltar o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas aplicarás sal.
(Levítico 2.13)
Nosso culto não pode ser insosso. Nossa missão não pode ser insossa. Nossa vida não pode ser desinteressante, tediosa, monótona, sem graça. Tem que ser temperada, bem temperada. O sal na vida é o sinal de nossa aliança com Deus ainda hoje.
2. Jesus não diz que devemos ser o sal da terra. Ele diz que somos o sal da terra.
Não se trata de presunção, mas de convicção, vinda de Jesus mesmo. Logo no início da igreja cristã, um cristão anônimo repercutiu esta verdade, nas seguintes palavras desafiadoras:
“Assim como a alma está no corpo, assim estão os cristãos no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo, e os cristãos estão em todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo”. (Epístola a Diogneto, VI)
Em resumo, os cristãos são a alma do mundo. Com temor e tremor, afirmamos: os cristãos são a vida do mundo. Os cristãos são a viga do mundo. Se eles caem, o teto cai.
Como isto se dá? O mesmo autor, escrevendo no ano 112, ajuda-nos a entender esta realidade-desafio:
“Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, (…) adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. (…) Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põem a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis”. (Epístola a Diogneto, V)
Você tem sido a alma do mundo?
Você tem sido o sal da sua família, da sua escola, do seu trabalho? Você é o sal dos seus relacionamentos, mesmo aqueles temporários? Quando você compra ou vende alguma coisa, deixa o seu sal? Quando você assiste ou recebe uma aula, fica o seu sal no conteúdo?
Os cristãos dão gosto ao mundo.
Qual é o sabor das reuniões de que participa, das brincadeiras de que participa?
Temos responsabilidade por o mundo ser assim, por o mundo degradar o meio ambiente, por o mundo “adorar” o dinheiro, por o mundo ser escravo da corrupção.
Não temos salgado o mundo como devíamos por faltar qualidade ao nosso sal. Não temos purificado o mundo, como devíamos.
Lembremos da história de Eliseu, registrada em 2Reis 2.19-21:
Alguns homens da cidade [de Jericó] foram dizer a Eliseu:
— Como podes ver, esta cidade está bem localizada, mas a água não é boa e a terra é improdutiva.
E disse ele:
— Ponham sal numa tigela nova e tragam-na para mim.
Quando a levaram, ele foi à nascente, jogou o sal ali e disse:
— Assim diz o Senhor: ‘Purifiquei esta água. Não causará mais mortes nem deixará a terra improdutiva’.
E até hoje a água permanece pura, conforme a palavra de Eliseu.
As pessoas têm vindo até você para lhes salgar as vidas? O contato conosco purifica essas vidas? Temos podido dizer “assim diz o Senhor” ou o que dizemos vem de nós mesmos?
3. Temos cristãos com vidas saborosas. Temos cristãos com vidas insossas.
Os cristãos com vidas saborosas não devem se orgulhar, mas contagiar os outros, salgar outras vidas.
Eu estava viajando com um irmão da igreja. Fomos tomar café numa lojinha. Conversamos muito com a dona. Nós nos apresentamos e ela nos fez muitas perguntas sobre o Evangelho. Ela perguntou se nós orávamos. Respondemos que sim, mas fomos embora. Quando saímos, esse irmão me disse:
— Temos que voltar e pregar o Evangelho para aquela senhora.
Retornamos depois. É como se ela nos esperasse. Apresentamos mais claramente o Evangelho. Oramos por ela, sua família, seu negócio. Trocamos endereços.
Depois, fiz contato com o pastor local, que ficou de procura-la.
Esse meu irmão tem vida saborosa e quis dar sabor àquela vida chorosa, mas em busca da esperança.
Para os cristãos de vida insípida, uma pergunta agora se impõe: como ter restaurado o sabor de suas vidas?
Precisamos agir em duas frentes, se de, fato, desejamos uma vida com sabor.
3.1. Na frente emocional, para ter de volta o sabor da vida, há três ações que podem ser tomadas, todas ou algumas delas, conforme o seu caso.
1. Ponha em ordem as suas emoções, reconhecendo (como sugere Gordon MacDonald) que o mundo interior governa o mundo exterior. Busque uma vida equilibrada. Chore sua vida, mas não chore a vida toda. Cuide de sua saúde. Trate de sua mente. Trate de seu corpo. Se não conseguir sozinho, procure ajuda. Não permita que os vícios dominem você. Que as experiências amargas toldem seus dias.
2. Descanse. Muitas vezes, achamos que tudo está errado e vai continuar errado, mas estamos apenas cansado, ou pelo excesso de rotina ou pelo excesso de trabalho ou pelo excesso de preocupações ou pelo excesso de frustrações. Descanse da rotina, procurando fazer coisas fora do roteiro de todos os dias, como uma viagem, uma caminhada, uma conversa, um filme, uma diversão. Jesus pregava, ensinava, orava, mas tinha dias que deixava tudo e desaparecia no deserto ou na floresta ou na montanha ou na praia.
Descanse do trabalho; pare um pouco; você não é tão importante quando pensa. Gosto de ler a prática de Jesus: “Havia muita gente indo e vindo, ao ponto de eles não terem tempo para comer. Jesus lhes disse: ‘Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco'” (Marcos 6.31).
3. Aprenda a viver. Quantos problemas criamos por falarmos quando devíamos nos calar, por corrermos quando devíamos apenas andar, por forçar uma porta em que precisávamos apenas tocar!
Quantos problemas não são do tamanho que imaginamos! Quantos assuntos estariam resolvidos tão somente se fossem deixados para amanhã! Quantos assuntos seriam equacionados se fossem tratados hoje e não depois! Precisamos aprender a viver. Gosto daquela expressão do apóstolo Paulo, referindo-se às dificuldades da vida: “aprendi” (Filipenses 5.11). Conheço pessoas que não aprendem a viver, mesmo apanhando da vida. É tão difícil aprender que a Bíblia tem dois livros só com provérbios (Provérbios e Eclesiastes) para nos ajudar.
Aprendamos que os problemas têm o tamanho que nós lhe dermos.
Aprendamos que somos limitados mas podemos ousar.
Aprendamos que podemos ser ajudados e também ajudar.
Aprendamos a receber as dificuldades não como se fôssemos vitimas, embora sendo, mas como oportunidades para crescer. Lembremos do sábio José do Egito, maltratado por seus irmãos, aos quais, no entanto, disse: na hora do reencontro emocionado: “Não se preocupem. Não foram vocês que me trouxeram aqui”. O calabouço, a traição, o esquecimento recebidos foram recebidos não apenas como derrotas mas também como oportunidades que o preparavam para ser o vencedor que foi.
3.2. Na frente espiritual, há algo que nos cabe.
1. Precisamos olhar mais para o Deus da Bíblia, para ver o que Ele fez. Precisamos olhar mais para o Deus da nossa própria história, para ver o que Ele já fez conosco.
Nosso problema é que nós conhecemos pouco de Deus. Conhecemos um pouquinho e nos satisfazemos. Muitos perdemos a fome por Deus, a sede por Deus. Muitos cristãos têm mais sede de dinheiro do que sede por Deus. Muitos cristãos têm mais fome de fama do que fome de Deus. Há cristãos vivendo vidas vazias porque estão vazios de Deus. Há cristãos que deixaram de caminhar com Deus para fazer o que lhes parece agradável, esquecidos que quando agradamos a Deus, a vida fica agradável. Por isto, sempre precisamos aprender “a discernir o que é agradável ao Senhor” (Efésios 5.10).
2. Quando conhecemos a Deus, confiamos em Deus, esperando Sua ação, mesmo que esperando como Abraão, aquele que creu contra a esperança, isto é, mesmo não havendo nenhuma chance, no caso de ser pai de uma nação sendo estéril sua esposa (Romanos 4.18).
Se a nossa confiança está em crise, isto não fala nada sobre Deus, mas nos descreve a nós mesmos. Quando quase tudo faltou a Jo, Deus continuou sendo o mesmo. Foi a fé humana que encontrou momentos de desconfiança, finalmente superada por um grito de esperança, que deve ser o nosso grito, não importa como nossa vida vá:
Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a terra. (…)
Eu o verei com os meus próprios olhos; eu mesmo, e não outro!
Como anseia no meu peito o coração!
(Jó 19.25, 27)
Como disse o salmista, “o justo passa por muitas adversidades, mas o Senhor o livra de todas” (Salmo 34.19). Em nossa vida, “em certos momentos dizemos: ‘vivemos de aflição em aflição’; em outros: ‘vivemos de alívio em alívio’. As duas afirmações são verdadeiras e geralmente são pronunciadas em circunstâncias diferentes: a primeira, no momento de dor, e a segunda, no momento de alívio. O ideal seria que fizéssemos ambas as declarações o tempo todo, movidos pela certeza da aflição e do alívio e pela certeza da presença de Deus. É mais fácil suportar a longa noite ou o longo túnel quando alimentamos cotidianamente a certeza de que ‘olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu. mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam’ (1Coríntios 2.9)”. (CÉSAR, Elben L. Para (melhor) enfrentar o sofrimento. Viçosa: Ultimato, 2008, p. 87)
3. Precisamos estar sempre dispostos a salgar o mundo.
Por si mesma, esta disposição demonstra a nossa saúde espiritual.
Como salgamos o mundo?
Salgamos o mundo quando vivemos em paz uns com os outros, como nos ensina o próprio Jesus (Marcos 9.50). Nossas confusões, mesmo aquelas por motivos que julgamos justos (e até o são), tornam insípido o nosso sal. É por isto que a nossa palavra deve ser sempre agradável, temperada com sal, para sabermos responder a todos que precisamos responder, como nos adverte o apóstolo Paulo (Colossenses 4.6).
Salgamos o mundo quando nos tornamos proclamadores do Evangelho. Para tanto, precisamos crer, como Paulo, que o Evangelho anunciado por Jesus Cristo é o poder de Deus para a salvação do mundo (Romanos 1.16). Sem o Evangelho de Jesus não há salvação; só perdição, porque é no Evangelho que “é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé”, porque “o justo viverá pela fé” (Romanos 1.17).
Termino como uma ação que é, ao mesmo tempo, emocional e espiritual: seja um voluntário.
Voluntário é quem gasta pelo menos duas por semana em uma atividade não remunerada que beneficia o seu próximo, pondo tempero em sua vida. Este tempero para o outro pode vir em forma de alimento ou medicamento distribuído, de esporte ou brincadeira com criança, de reforço escolar, de ensino de um ofício, de aconselhamento presencial, por telefone ou pela internet a pessoas em situações críticas, de reconstrução de casas, de serviço na área da saúde, de cuidados diversos, entre tantas possibilidades.
É voluntário alguém que ouve a palavra de Jesus, segundo a qual é feliz aquele que distribui bondade, e tendo ouvido não pensa que este conselho é para o outro mas para si mesmo. Eu não conheço um voluntário sequer para quem a vida seja sem graça. Era, mas antes do voluntariado, não durante.
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Podemos ser sal.
Você pode ser sal.
Se você já confessou que Jesus é seu Salvador e Senhor, você é sal, do modo que Jesus ensinou e determinou.
O mundo precisa do tempero cristão.
O que estamos esperando?