SOMOS LIVRES OU A MÍDIA PENSA POR NÓS?

PARA PENSAR OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA

1. A liberdade humana é condicionada aos seus fatores limitantes, como herança genética, herança histórica, meio-ambiente, formação intelectual e propaganda, entre outros aspectos. Só há liberdade para o homem puro, mas o homem puro não existe. Somos todos parcialmente extrodeterminados. A extrodeterminação religiosa e ideológica, sobrepõe-se a extrodeterminação mediática.
(Há uma distinção entre publicidade e propaganda, com aquela cuidando de anunciar produtos e serviços e esta tratando de disseminar idéias e valores. No entanto, a propaganda pode não ser publicitária, mas toda a publicidade contém propaganda, ao se inscrever num conjunto de valores.)

2. A mídia só tem um valor: a audiência. Não existe algo como orquestração, nesta ou naquela direção ideológica. O que há é uma espécie de onda (de natureza estética e ideológica). A mídia é usada por quem quer disseminar valores e a mídia usa esta valores para engrossar o seu valor (que é a audiência).

3. A mída forma consumidores (de seus produtos e dos produtos que vende), não cidadãos.

4. Não interessa à aristocracia o pensamento crítico. Esta é a razão principal porque a mídia, sobretudo a televisiva, quando há uma matéria forte, tende a apelar para o fait divers. Há sempre o apelo ao recurso do fait divers quando a reportagem anterior é considerada chocante.
(Há muitos anos o Jornal Nacional veiculou uma reportagem tão chocante sobre uma família pobre injustamente despejada de sua casa — hoje isto nem mais seria notícia — que parecia ter o poder de provocar sentimentos de revolta na população; em seguida, no entanto, chamou uma matéria sobre futebol…)

5. A mídia tem (tem porque precisa ter, uma vez que não pode publicar tudo) um gatekeeper (o guardião do portão, não necessariamente uma só pessoa), que decide o que é e o que não é notícia. Um exemplo disto é como funciona um telejornal em rede, que é feito a partir de uma pauta e dos materiais que chegam. Outro exemplo é o catálogo de uma editora, que tem um programa editorial mas recebe originais e sugestões. A internet, por caber tudo, diminui a força do gatekeeper.

6. A internet é o primeiro veículo de comunicação realmente democrático na história da humanidade. Embora possa ser parcialmente controlada e embora as maiores audiências estejam nas mãos dos conglomerados de comunicação, a internet permite que qualquer pessoa se torne escritora, jornalista, como o demonstram os blogs, ou artista, como o indica o portal de canais de vídeo youtube.
(Mesmo na China, há formas de se driblar a censura, como o sabem os missionários cristãos que evitam certas palavras nos seus e-mails ou criptogravam algumas.)

7. Cabe à sociedade educar a mídia, o que começa pela autoeducação. O processo de se educar implica em rejeitar o que considera inaceitável e estudar o sistema mediático. A educação lhe permitirá se impor, através do controle remoto (em sentido restrito e sentido amplo, trocando, desligando, cancelando assinatura, não comprando) e do boicote (conquanto perto do impossível em termos de eficácia, por faltarem meios mais massivos aos boicotadores). A mídia cresceu tanto que engoliu a sociedade, mas ainda cabe à sociedade domar o gigante para que ele atue a serviço da saúde (moral, intelectual, espiritual) e não da doença.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO