Em busca da mente de Cristo: eu posso me nivelar por cima
(Mateus 5.17-20; Mt 7.13-14)
Recebi uma consulta por e-mail em que um homem pedia ajuda para se livrar do vício da pornografia. Seu drama lhe causava muita tristeza, diferentemente do acontece com muitas outras pessoas. Os dados indicam que muitos não vêem qualquer problema em consumir materiais pornográficos.
Na realidade, a pornografia movimenta uma indústria e comércio altamente rentáveis. De todos os websites 12% são de pornografia, o que dá mais de quatro bilhões de sites pornográficos. Das pesquisas feitas a cada dia na internet, 25% buscam por pornografia. O Brasil é o segundo país que mais produz vídeos pornográficos.
A cada segundo 3 mil dólares são gastos com pornografia. Um novo vídeo pornográfico é produzido a cada meia hora por dia nos Estados Unidos. No Brasil, as vendas de material pornográfico chegam a 10 milhões de dólares. No mundo o movimento é de cerca de 100 bilhões de dólares por ano. [Internet Pornography Statistics.]
Isto põe em evidência que há milhões de pessoas alimentando este negócio, umas tranqüilamente e outras convivendo com algum sentimento de culpa ou até mesmo com um desejo de deixar esta prática.
Para algumas pessoas, o certo é aquilo que acham que é certo, sobretudo o que lhes dá algum tipo de prazer. No extremo estão pessoas para quem tudo é errado, nada é permitido. De vez em quando topo nas ruas do (quase sempre tórrido) Rio de Janeiro com pessoas vestidas, em nome de sua religião, com roupas pesadas, cobrindo todo o corpo, ao mesmo tempo em que passam por mim pessoas, homens e mulheres, trajando roupas mínimas, em que mínimas partes do seu corpo estão cobertas.
Jesus também conviveu com pessoas com diferentes perspectivas acerca da vida. Algumas destas pessoas seguiam um determinado código de vida. Aliás, todos seguimos um código, escrito ou inscrito, pelo qual tomamos nossas decisões.
A grande dificuldade, em nossos dias, dado o crescente pluralismo ideológico, filosófico e religioso, é identificar um conjunto de regras a ser seguido. As pessoas têm dificuldade em aceitar que haja um conjunto de regras para a vida privada e pública. Ao tempo de Jesus, havia esse conjunto de regras, reunido no que nós hoje conhecemos com o nome de Antigo Testamento, mas que os contemporâneos do filho de Maria conheciam como a Lei e os Profetas, sobretudo a Lei (ou Torah). Essa Lei, codificada no Pentateuco (Genesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), tinha outros códigos que a explicavam e atualizavam, que deviam ser lidos, memorizados e obedecidos.
No seguimento a essa Lei um grupo se destacava: eram os fariseus (“separados”, no hebraico), que ensinavam que a maior virtude de uma pessoa era ser uma seguidora da Lei (torah). É por isto que os vemos sempre por perto de Jesus, temerosos que aquele novo professor não cumprisse a Lei. E é por isto que Jesus diz que sua missão incluía cumprir a Lei.
Este amor dos fariseus pela Lei de Deus acabou por afasta-los do Deus da Lei. Eles eram capazes de matar para preservar a lei, fazendo lembrar os que usam a violência para defender as causas ditas de amor. Houve um grupo antiaborto que atacava as clinicas clandestinas de aborto, provocando vítimas, inclusive mulheres grávidas. Essas pessoas respiram “ameaças de morte” (Atos 9.1), como Paulo fazia com os cristãos.
Junto com os escribas (ou professores da Lei), os fariseus acabaram tipificados por Jesus como aqueles que tinham se apegado tanto à letra da Lei que punham de lado a razão de ser desta Lei. Ao mesmo tempo, Jesus reconhecia a seriedade deles. É por isto que nos diz que os nossos padrões de vida devem superar a dos fariseus e escribas, o que parece nos colocar em grandes dificuldades. Em seu sermão do monte, a instrução não deixa dúvida sobre o que Jesus pretende (Mateus 5.17-20 e 7.13-14):
— Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra. Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus. Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus. (…) Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram.
A leitura desta contemporaníssima instrução de Jesus suscita algumas reflexões, muitos valiosas para as nossas vidas. Vejamos algumas delas.
1. Jesus veio cumprir a Lei e nos ensinar a cumpri-la.
Ainda há confusão no meio cristão sobre como tratar o Antigo Testamento, com suas regras e rituais. Pensam alguns que os cristãos estão completamente isentos de seguir os preceitos da lei judaica. Pensam outros, na montanha oposta, que os cristãos ainda estão sujeitos a estas leis, não devendo, por exemplo, comer carne de porco e devendo, por exemplo, celebrar a Páscoa hebraica.
Precisamos entender o que Jesus disse. Ele não veio dizer que os preceitos da Lei, comentados pelos Profetas, tinham cessado em sua vigência. Todas as vezes em que foi acusado de quebrar um preceito legal, Jesus mostrava que, embora parecesse, não o quebrava. Ele o cumpria na sua plenitude, ao ir além da letra e alcançar o espírito da Lei. Curar num sábado, por exemplo, era cumprir a Lei porque estava promovendo a vida, que era o objetivo da Lei. Debulhar espigas e come-las num sábado era cumprir a Lei, que visava não a fome, mas o bem estar das pessoas.
Jesus nos ensina que todos os preceitos mosaicos estão em vigor. Para os cumprir, precisamos perceber o propósito de todas elas. Se ficarmos na sua periferia, não vamos ao seu centro. Quando ficamos na periferia, ficamos na parte externa da Lei e não comprometemos o nosso coração. A Lei diz: “não matarás”. No entanto, eu posso odiar, ao ponto de desejar matar, mas sem matar. No entanto, se odeio, não mato externamente, mas mato internamente. O que Jesus nos pede é que cumpramos o “não matarás”, não odiando. Se odiamos, não cumprimos o mandamento. Neste sentido, “não matarás” está de pé e continuará de pé até o final da história. Deus não vai apagar este mandamento.
E isto se aplica a judeus e a não-judeus, o que inclui os cristãos. A pergunta persiste: devem os cristãos seguir a todos os mandamentos do Antigo Testamento? Sim. No entanto, a letra da Lei é transitória, enquanto o espírito da Lei é permanente. A forma da Lei varia no tempo e no espaço; o conteúdo da lei é atemporal e invariável topograficamente.
A experiência dos primeiros cristãos, alguns judeus e outros não-judeus, como lemos em Atos 15, é definitiva em sua lição. Houve (por volta do ano 50) uma discussão teológica entre eles, que começou quando um grupo de cristãos começou a ensinar que os não-judeus deveriam ser circuncidados (como os judeus o eram) para serem recebidos como cristãos. Esses não judeus enviaram Paulo e Barnabé até Jerusalém para uma reunião, na qual ficou decidido o seguinte, conforme está na carta que os cristãos judeus escreveram para seus irmãos não-judeus (Atos 15.25-29):
“Saudações.
Soubemos que alguns saíram de nosso meio, sem nossa autorização, e os perturbaram, transtornando a mente de vocês com o que disseram.
Assim, concordamos todos em escolher alguns homens e enviá-los a vocês com nossos amados irmãos Paulo e Barnabé, homens que têm arriscado a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, estamos enviando Judas e Silas para confirmarem verbalmente o que estamos escrevendo.
Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor a vocês nada além das seguintes exigências necessárias: ‘Que se abstenham de comida sacrificada aos ídolos, do sangue, da carne de animais estrangulados e da imoralidade sexual. Vocês farão bem em evitar essas coisas’.
Que tudo lhes vá bem”.
O que eles apóstolos decidiram permitiu que o cristianismo se tornasse o cristianismo, ao não imporem aos não-judeus que se tornassem judeus para serem cristãos. Assim, nenhuma cultura precisa se negar a si mesma para ser cristã, exceto se tem práticas que ferem princípios da Palavra de Deus, como a idolatria (não comendo alimentos utilizados nos rituais dos cultos aos deuses) e a imoralidade. Não se exige a circuncisão, por exemplo.
Os dois outros itens (“sangue” e “carne de animais estrangulados”) têm a ver com o convívio cristão. O acordo, inspirado pelo Espírito Santo, pedia aos não-judeus que evitassem entristecer e escandalizar os judeus, devendo se abster de comer carnes não preparadas segundo rituais de purificação. Em termos termos de hoje, um cristão não-judeu não precisa comer uma comida kosher, a menos que esteja em Israel. Nada justifica o escândalo, que enfraquece a fé do outro e não fortalece a de quem escandaliza.
Em resumo, os cristãos judeus devem seguir todos os preceitos da lei hebraica (como a circuncisão, entre outros). Os cristãos não-judeus devem seguir os preceitos da lei hebraica que não são culturais, como as proibições permanente à idolatria e á pornografia.
Precisamos nos deter um pouco mais aqui.
Salientemos que, diante de um conflito teológico, as partes chegaram a um consenso. No caso, o conflito era profundo porque envolvia uma pergunta essencial: como acontece a salvação? Havia uma pergunta de natureza ética em jogo: como deve viver uma pessoa salva?
Quanto ao aspecto teológico, a resposta dada deixa bem evidente que a salvação não é pelas obras, não vem do esforço humano. O legalista crê no valor do seu esforço, que lhe faz merecer a salvação. A salvação não é uma conquista, mas um presente de Deus. É por isto que uma pessoa salva não pode se gloriar (se orgulhar) de sua salvação, que não foi conquistada, mas recebida, de graça e pela graça. Todas as epístolas de Paulo são um hino à salvação como dádiva, o que é absolutamente novo na história das religiões e até hoje traz incompreensões. Segundo a Bíblia, somos todos pecadores e merecedores da morte, segundo a Lei, de acordo com a interpretação de um profeta: “Se um justo desviar-se de sua justiça e cometer pecado, ele morrerá por causa disso; por causa do pecado que cometeu morrerá. (…) Aquele que pecar é que morrerá. O filho não levará a culpa do pai, nem o pai levará a culpa do filho” (Ezequiel 18.26, 20a). Em função deste texto, um rabino contemporâneo escreveu, em 2003: “Os cristãos identificam o Messias com Jesus e o definem como o Deus encarnado como homem; e acreditam que ele morreu pelos pecados da humanidade como sacrifício de sangue. Isto significa que se deve aceitar a idéia de que a morte de uma pessoa pode redimir os pecados de outra pessoa. (…) Ninguém pode morrer pelos pecados de outros. Isto significa que Jesus não pode morrer pelos seus pecados”. [FEDEROW, Stuart. Jews believe that one person cannot die for the sins of another person.]
Esta é a lógica da Lei: cada um deve pagar por seu próprio erro. A lógica da salvação segundo o Novo Testamento vai na direção oposta: Jesus morreu em nosso lugar. Eis o que lemos: “De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo, embora pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores” (Romanos 5.6-8). Assim, “por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para que os que são chamados recebam a promessa da herança eterna, visto que ele morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a primeira aliança” (Hebreus 9.15).
É assim que somos alcançados. Assim alcançados, desejamos uma vida digna desta salvação. Esta é a ordem da graça: primeiro, a salvação; depois, a santidade.
2. Jesus espera que cumpramos a Lei.
A compreensão deste alcance acabou por gerar em algumas pessoas uma atitude contra a lei, como se ela fosse o problema. O problema é que o ser humano não conseguiu a perfeição por meio da Lei. Quando ele reconhece seu fracaso, pode ser salvo pela cruz.
Isto não quer dizer que uma pessoa alcançada pela salvação em Jesus Cristo está fora do alcance da Lei, podendo fazer o que bem entender, sem maiores conseqüências. Esta disposição é conhecida por antinomianismo, que propõe que uma pessoa salva não tem a obrigação de seguir os padrões éticos e morais. Há pessoas que, mesmo não conhecendo a história e o conceito do antinomianismos, agem deste modo. O resultado, associado ao individualismo e ao narcisismo, é uma crise ética, de graves conseqüências, pessoais e sociais. [Recomendo a leitura de GUNDRY, Stanley. Lei e evangelho; 5 pontos de vista. São Paulo: Vida, 2003]
Certa vez, adverti seriamente uma pessoa afundada no erro. Ela me disse:
— Eu sei que estou errada, mas é isto que quero para a minha vida.
Possivelmente na sua cabeça, ela tenha dito para si mesma: “Deus me ama assim mesmo”. E continuou no seu pecado.
Alguns acham que, tendo aceito a graça, estão fora da lei. E estão, mas apenas da lei aplicável só a judeus. Há uma lei aplicável a todos. Vou chama-la de lei da graça, a única que cumpre a Lei em sua plenitude (verso 17).
A lei da graça é diferente da lei dos fariseus. Como era a lei dos fariseus?
A lei dos fariseus era uma justiça que parece justiça mas não era. Era uma lei que não ouvia o outro lado. O erro era apenas o erro, não importava a sua razão, mesmo justificada, se o outro lado fosse ouvido. Até hoje há pessoas que atiram e depois perguntam o nome. Não há perdão. Errou, tem que morrer.
Era uma lei que buscava seu próprio benefício, sua própria exaltação. Um dia nestes eu me flagrei fariseu. Alguém me chamou para uma reunião. Eu estava muito ocupado, preparando um sermão. Assim mesmo eu fui. Quando cheguei, fui logo dizendo:
— Só vim porque você me chamou, porque eu estou muito ocupado, mas você merece.
O meu amigo me disse, disfarçando a irritação:
— O tempo é curto para todo o mundo.
Engoli em seco, porque notei que, no fundo, eu queria ouvir algo assim:
— Ah, obrigado pela consideração.
Naquela hora minha justiça foi do mesmo nível da dos fariseus. Eu buscava reconhecimento.
A justiça dos fariseus era uma justiça que buscava brechas na Lei para justificar seus erros.
Não se recomenda que alguém busque uma brecha na Lei para justificar o erro. A pergunta é sempre outra: como posso viver a Lei, levando em conta a intenção original quando se elaborou a Lei. É outro olhar.
Não é o olhar de quem procura interpretar a Bíblia para provar que não precisa dar o dízimo. É impressionante como o assunto provoca interesse. Por que, senão pelo interesse de as pessoas se sentirem liberadas para não dar o dízimo? Ora, quem não quer ser fiel no seu dízimo assuma suas escolhas, sem ficar teologizando para se justificarem.
Não é o olhar de quem busca identificar na Bíblia falhas de homens de Deus, como fazem alguns, só para se sentirem absolvidos ou menos culpados dos seus pecados. Pode-se ouvir saídas como estas: “Eu minto, mas Abraão também mentiu”. “Tenho dificuldades na área sexual, mas não sou pior que Davi”. “Não leva desaforo para casa, como Paulo que resistiu a Pedro na cara”.
Não é o olhar de quem lê a Bíblia para justificar seus próprios atos, até mesmo pecaminosos. Nos tempos da escravidão negra, ingleses e americanos demonstravam biblicamente que era legítimo escravizar algumas pessoas; o mesmo fizeram os espanhóis, para justificar a escravidão indígena, também com base na maldição lançada contra o filho de Cão, por o ter desrespeitado. Noé gritou: “Maldito seja Canaã! Escravo de escravos será para os seus irmãos”. (…) “Bendito seja o Senhor, o Deus de Sem! E seja Canaã seu escravo” (Genesis 9.25-26). Com base nesta maldição, a escravidão foi justificada milênios depois.
Não é o olhar dos antiJesus, portando, cumpre a Lei, ao propor algo novo. Jesus propõe que a obediência à Lei tem duas vertentes: uma é externa e tem a ver com o compromisso de ensinar a Lei. A outra é interna e tem como demanda a prática da Lei.
Penso aqui nas crianças. Como vão aprender a Lei, se os seus pais não lhes ensinarem? Os pais não podem esquecer que são os pastores dos seus filhos. A igreja apenas complementa a educação religiosa dada em casa. É em casa que devem aprender a orar. É em casa que devem aprender a ser dizimistas. É em casa que devem aprender a servir. E eles aprendem pelo ensino que recebem.
Jesus vai além do compromisso de ensinar a Lei, que é externo. Ele quer uma atitude, que começa dentro e não acontece fora das convicções mais profundas de uma pessoa. Jesus nos quer praticantes da Lei, que são as pessoas que ouvem/lêem os preceitos legais e procuram pôr todos em prática.
Aqui volto aos filhos. É o que eles vêem em casa que tenderão a aplicar. O ensino é ótimo, mas, se não for corroborado pela vida, será farisaísmo. Se você não dá atenção às pessoas, seus filhos não darão. Se você mente, eles aprenderão que este é o padrão. Não adianta pedir para que façam o que você não faz, que eles não farão. Não adianta sorrir para uma pessoa de quem você fala mau; seu filho não sorrirá.
Temos uma grande dificuldade de nos vermos a nós mesmos. Como disse Jesus, somos capazes de ver nos outros erros que em nós são virtudes. O antipático não se acha antipático.
O maledicente não se acha maledicente. O fariseu não se achava a serviço de si mesmo, mas de Deus. O fariseu se achava guardião da verdade, mesmo que pelo recurso à violência. O fariseu perscrutava ciscos nos olhos dos outros, mas não via pedaços de madeira nos seus próprios olhos. Quem olha só para os erros dos outros não passa de um fariseu, com uma justiça de baixa qualidade, mesmo que vaidosa.
3. Jesus espera que, como seus discípulos, nos nivelemos por cima.
A justiça que Jesus quer para nós é de alto nível. Ele quer que a nossa vida seja de alto nível. Deus espera que nos nivelemos por cima, como pessoas que pensam pensamentos do Alto, não pensamentos que são de baixo. As palavras do apóstolo devem ecoar nos nossos corações: “Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus” (Colossenses 3.1-3).
A revista Veja de 1.2.2009 traz o jogador Robinho na capa chupando o dedo, com a seguinte pergunta, em função das confusões em que têm se mentido famosos jogadores de futebol do Brasil: “Por que eles não crescem?”
Quero sugerir uma resposta bem simples: eles não crescem porque os padrões da sociedade em que vivem são baixos. Só se cresce quando se tem metas elevadas.
Numa justificativa, a ser verdade o que foi veiculado, o jogador Robinho, acusado de estupro, declarou que apenas dançou com uma fã numa tribuna e que houve apenas esfregação, como é comum nestes casos. Ele é casado, mas acha comum esfregar-se com uma pessoa qualquer.
Como os padrões são baixos, ele colhe baixarias. Os padrões da sociedade seguem o figurino do facilitário. É mais fácil dizer: “o que um jogador de futebol faz fora do campo não interessa; o que importa é que acontece dentro das quatro linhas”. Tirania. Como não importa ver uma pessoa afundando no precipício e achar que isto é problema dela? O moralismo gera a imoralidade como sua contraparte. Todo drama é suavizado, para evitar um julgamento. Quando um casamento experimenta o divórcio, não se fala do preço, financeiro e emocional de uma separação, mas se anuncia apenas que cada um foi para o seu lado, felizes e sorridentes. Quando se mostra uma mãe solteira, não há drama, nem da mãe, nem do filho ou filha; só glamur.
O método de Jesus não tem nada a ver com facilitário. Por isto, diz: “Todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus. Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus” (Mateus 5.19b-20).
Então, me lembro de um quadro que fez residência na minha infância. É “Os dois caminhos“, um dia pendurado na sala da casa dos meus avós. Para muitas famílias, esse quadro não tem mais sentido. Parece que os caminhos que conduzem à vida ou à morte não são tão diferentes assim.
Não é o que Jesus diz: “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são MUITOS os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertando o caminho que leva à vida! São POUCOS os que a encontram” (Mateus 7.13-14).
Seu método não é baixar o nível. Diz ele: “Não pensem que vim abolir aquilo que Deus estabeleceu, para tornar as coisas mais fáceis. Estou atento a cada detalhe e espero que cada um deles se cumpra. Quero que meus seguidores sigam os meus padrões, não os padrões dos fariseus”.
***
Alguns poderão dizer: é muito difícil seguir os elevados padrões de Deus. No entanto, aprendemos com Jesus que há grandeza na obediência. A obediência gera vida.
Devemos nos nivelar por cima. É aí que mora o prazer, não na baixaria.
Devemos cumprir a Lei, em lugar de ficar procurando brechas na lei para não cumpri-la. Antes, devemos pedir a Deus que nos ajude a compreender melhor a lei e cumpri-la, vivendo-a. A lei nos foi legada por Deus para a nossa felicidade.
Quando infringirmos a Lei, devemos pedir perdão sinceramente a Deus, em lugar de ficar procurando explicações para atenuar nossa culpa.
Devemos assumir com alegria nossa responsabilidade em ajudar os outros a cumprirem a lei, para o bem delas.
A graça nada nos impõe, mas a graça tem expectativas elevadas para nós. A graça é suave, mas é séria.
Por isto, quando recebi a consulta sobre como ficar livre da pornografia, tratei de oferecer uma resposta que pudesse ajudar aquele homem. Fiquei contente em poder ajudar, mas fiquei mais contente em saber que há pessoas que querem nivelar suas vidas por cima, mesmo que a baixaria seja vista como comum.
Termino com um breve programa, nesta caminhada rumo às coisas que são de cima:
1. Preciso saber que posso me nivelar por cima. A santidade é uma dificuldade, mas não uma impossibilidade. Então, preciso desejar me nivelar por cima.
2. Preciso reconhecer a minha fragilidade. Não sou tão forte quanto imagino, tão imune às influências quanto penso. Então, preciso pedir a Deus que me fortaleça.
3. Préciso agir de modo que fique longe da baixaria. Não preciso me expor desnecessariamente. A vida já oferece riscos suficientes e não preciso amplia-los. Logo, preciso desenvolver hábitos que me ajudem a me nivelar por cima.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO