PERSEVERANÇA INCOMPLETA
Apocalipse 2.1-7
(Da série CARTA A IGREJA 1)
Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 26.12.1999 – manhã
1. INTRODUÇÃO
[Ao se ouvir uma mensagem, uma boa recomendação é esta: anote ou na própria Bíblia ou num papel. Não confie na memória, se achar que ouviu alguma coisa que valha a pena. Se puder, encomende a fita. ]
As cartas imaginárias às igrejas da Ásia são contemporâneas, porque tratam de todos os problemas da igreja, da nossa igreja inclusive. São 7 as cartas, para indicar que se referem a todas as igrejas cristãs (tendo fico de fora as igrejas de Trôade, Mileto, Colossos e Hierápolis, cujas histórias conhecemos pela leitura de Atos dos Apóstolos).
Nossa igreja bem poderia estar nesta lista. Qual das cartas lhe diz mais respeito?
2. A QUEM SE FALA? (v. 1a)
A carta (como, de resto, todas as sete epístolas) é dirigida à igreja de Éfeso (Itacuruçá) por meio de sua liderança (v. 1a). Éfeso (na hoje Turquia) fora fundada por Áquila e Priscila e por Paulo, tendo tido a Timóteo e João como seus pastores.
A igreja é chamada de candeeiro (candelabro, lustre), que sustenta lâmpadas, numa indicação que nenhuma igreja tem luz própria, mas sustenta a luz de Jesus Cristo.
O anjo, muito possivelmente, é a personificação da sua igreja. Num sentido, porque a igreja tem (embora não devesse…) a visão do seu pastor. Noutro sentido, porque ele é aquele que intercede pela igreja (embora cada um possa interceder por si mesmo)..
3. QUEM FALA? (v. 1b)
O emissário da carta é Jesus.
3.1. Jesus, Aquele que conserva na mão direita a igreja (sete estrelas, seus líderes, e candeeiros, seus membros).
A igreja que segue a Jesus não tem o que temer; Ele a conserva. O crente que está na mão de Jesus não tem o que temer.
Você está na mão de Jesus Cristo?
3.2. Jesus, Aquele que conhece a sua igreja.
Ele tem relacionamento com a sua igreja, desde que a igreja o permita. Sabe das necessidades da igreja. Acompanha o desenvolvimento da igreja. A verdade se aplica a cada um de nós.
Você tem um relacionamento com Jesus Cristo?
4. O QUE ELE FALA ACERCA DA IGREJA
Ele fala uma série de coisas boas (elogios) acerca da igreja. Jesus é assim: Ele vê coisas boas em nossa igreja. Ele vê coisas boas em nossas vidas.
4.1. Positivamente – 2,3 e 6
. Ele aprova o trabalho da igreja (labor – 2a)
Éfeso era uma igreja que trabalhava. Ele aprova as ações de cada um em favor da comunidade, visando o bem-estar dos crentes e dos não crentes. Como foi bom ver tanta gente se envolvendo nas atividades da igreja, até fazendo coisas que nunca fez na vida). Se a carta fosse dirigida a você, Jesus começaria elogiando o seu trabalho? Cada um de nós sabe a resposta.
. Ele aprova a perseverança da igreja (2b)
Ele aprova nossa clareza de convicções e a nossa disposição de pagar o preço para sustentar estas convicções. Ele aprova nossa persistência no amor a Deus (v. 3), que se manifesta na competência para suportar as provas (mesmo as mais duras) deste amor, sem desânimo. Quantos desanimam por uma questão teológica não resolvida, por um desentendimento entre irmãos, por uma vontade não atendida, por uma maledicência sempre indesejada, por uma visita não recebida, por uma palavra de agradecimento não dada!). Nós precisamos ser fiéis a Deus apesar de nós mesmos e de nossos irmãos.
. Ele aprova a fidelidade teológica da igreja (2c, 6)
Fidelidade é pôr à prova (ouvir e conferir) tudo o que se diz em nome de Deus se isto provém mesmo de Deus; numa época de tantas ofertas de bens simbólicos (igrejas para todos os gostos; programas para todos os deleites), esta é uma virtude a ser buscada.
Por ser assim fiel, a igreja de Éfeso (e a nossa assim deve proceder também) pôde resistir aos nicolaítas, seguidores de Nicolau de Antioquia. Pouco sabemos sobre esta heresia do primeiro século cristão. O mais comum é lhes atribuir o ensino do libertinismo, a crença de, como corpo e alma, não se comunicam, aquilo que uma pessoa fizer no plano corporal (imoralidade, prostituição, etc.) não tem qualquer significado espiritual. Há hoje poucas pessoas que acreditam nisto, mas muitas que praticam isto. Este é o verdadeiro dúplice.
Esta doutrina não resiste à verdade bíblica. A atitude da igreja de Éfeso perante os nicolaítas, e seu elogio por Jesus, indica como deve ser o nosso comportamento diante do erro, seja ele de que natureza for.
4.2. Negativamente
Apesar de tantas qualidades, a igreja tinha um problema. Éfeso não era uma igreja perfeita. Não existe igreja perfeita. Eu não sou perfeito. Você não é perfeito.
Fico imaginando a igreja recebendo aquela carta, pela boca do seu pastor. Sorrisos. Cumprimentos. Palmas. Até o “mas”. Precisamos de ser lembrados que não somos perfeitos…
Éfeso tinha abandonado o seu primeiro amor.
. ABANDONO
Abandono é uma atitude nem sempre deliberada, podendo se constituir numa prática em conta-gotas. Ninguém, por exemplo, abandona deliberadamente a leitura da Bíblia, mas vai abandonando aos poucos, até se transformar num abandono de fato. É possível, se alguém disser, que houve abandono que a pessoa recusará violentamente a pecha.
O abandono é fruto da auto-suficiência e da capacidade humana de olhar apenas para si. Ele jamais se abandona, mas se dedica tanto a si mesmo (e não faltam problemas e projetos…), que não tem tempo, nem interesse, para olhar para o outro.
Abandono é desdém; é desprezo. No caso de Éfeso, no entanto, a igreja não tinha consciência deste abandono. E este era o seu mal. Se tivesse consciência (se tivermos consciência), mudaria(mos) (noss)a perspectiva de vida e ação.
O que você tem abandonado? Seus velhos? Seus filhos? Seu Deus? Sua igreja? Você diz que não, mas não os tem abandonado?
O abandono, por parte de Éfeso, tinha outra faceta. A Igreja fazia tudo para Deus, mas não tinha real interesse (não tinha o coração naquilo que fazia) por Deus.
. O PRIMEIRO AMOR
Muito se tem dito a respeito do significado desta expressão, que o texto não esclarece.
Fica-nos claro, no entanto, que a igreja de Éfeso não estava mais em lua-de-mel com Jesus Cristo.
. A motivação de suas virtuosas ações não era mais o seu Senhor. Jesus era uma lembrança distante, que lhes tinha impulsionado para a vida, mas não lhes sustentava mais a vida. Eles faziam para Jesus, mas não se lembram mais disto. Eles não sabiam porque faziam. Sua experiência pode ser comparada a uma teologia deísta: Deus dera corda no relógio da igreja, cujos ponteiros agora seguiam sua rotina. Não acontece com muitos de nós isto também?
Suas atitudes não visavam mais adorar o Senhor da vida. Suas ações não pretendiam mais servir ao próximo. Não havia mais intimidade com Jesus; não havia mais proximidade entre eles.
. Eles perderam o prazer de fazer com o coração. Os membros de Éfeso tinham perdido a alegria de serem cristãos. Sua vida se tornara uma rotina, no sentido negativo de algo mecânico, automático, impensado..
. Eles perderam a capacidade de amar uns aos outros, porque tinham perdido a percepção do amor de Jesus por eles.
. Eles perderam (como ensina Ray Stedman) a perspectiva sadia acerca de si mesmos, ao perderem a noção de que o centro de sua missão era Jesus Cristo. Só Jesus nos mantém motivados para a evangelização e para a ação social.
Em resumo, sua vida não tinha vida, não tinha vitalidade, não tinha paixão. Isto pode também nos alcançar. Há aqui alguns assim, com suas vidas sem direção, porque desplugadas de Jesus, sem paixão por Ele.
5. O CONVITE (v. 5)
Jesus faz aos efésios e aos itacurucenses um convite ao arrependimento.
Se a igreja não se arrependesse, não poderia mais irradiar a luz de Cristo. Há igrejas (e vidas) irradiando sua própria luz, que não iluminam a ninguém, nem a si mesmos.
O arrependimento acontece quando há consciência da necessidade de mudar. Demanda auto-conhecimento, algo muito difícil.
O arrependimento se realiza quando a pessoa se deixa convencer por Deus da necessidade de mudar. Conheço pessoas que sabem (têm consciência) de que precisam mudar, racionalmente sabem, mas não se deixam convencer pelo Espírito Santo. Jamais vão mudar. Sabem que precisam perdoar seu cônjuge ou seu filho, mas jamais vão perdoar. Vão deixar o ódio pairando sobre sua sepultura.
Para ser arrependimento, ele tem que resultar numa ação concreta em direção à mudança, que demanda sacrifício (renúncia das próprias convicções e disciplina)
6. CONCLUSÃO
Façamos uma inventário de nossas disposições e de nossas atitudes.
Merecemos os elogios que Éfeso recebeu?
Merecemos a crítica que recebeu?
É Jesus quem nos julga, mas podemos fazer uma auto-avaliação.
As Cartas de Apocalipse 2 e 3 nos ajudam neste esforço.