Falamos ou não a mesma língua? (Adalberto Alves de Sousa)

Acordo Ortográfico e Unificação do Idioma
            Por Adalberto Alves de Sousa
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Neste tempo em que tanto se discute no novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que tem por objetivo facilitar a comunicação entre os países lusófonos (que usam o português como idioma oficial), é bom lembrar que a maior dificuldade de entendimento da língua pelo falante do outro continente está no vocabulário. Vez por outra encontramos em alguma publicação uma relação de termos de lá que precisam ser traduzidos para que a mensagem seja entendida pelos de cá. Veja na relação seguinte como são traduzidas para o português de Portugal algumas palavras corriqueiras, usadas no nosso dia-a-dia: ônibus/autocarro, caminhão/camiao, cardápio/ementa, chiclete/pastilha plástica, meias/peugas, terno/fato, sorvete/gelado, menino/miúdo, aeromoça/hospedeira, café da manhã/pequeno almoço.

Um jovem brasileiro passou uns dias na casa de familiares em Portugal. Enquanto o primo dele tirava o carro da garagem, ouviu a voz do pai: “Não me vás esquecer de bufar os protetores”. O brasileiro não entendeu nada até o primo parou no posto de gasolina e calibrou os pneus do carro.

Explorando essa diversidade de vocabulário, a revista Veja (15/03/1994, p.22) publicou uma entrevista imaginária de um repórter português ao recém-empossado presidente Itamar Franco, em que foi necessária a participação de um intérprete:

(…)
Repórter: E a inchação?
Intérprete: E a inflação?
Itamar: A inflação está sendo combatida. Temos agora um plano sensacional.
Intérprete: A inchação está a ser fustigada. Temos de pronto um projeto bestial.
Repórter: E a questão de recato de feira no setor de ordenados?
Intérprete: E o problema de reserva de mercado na área de computadores?
Itamar: Ora pois não, isso não existe mais aqui.
Intérprete: Ora pois sim, isto cá já não há.
(…)

Finalmente, falamos ou não a mesma língua?